Olá!

Aqui você encontra vários tipos de textos com reflexões, introspecções, filosofadas e relatos, tudo sob a luz do mosaico. Desejo inspirar você com a mesma arte que me inspira.

Talento para cultivar amizades.

    Uma amiga querida encomendou um porta retrato para presentear. Tudo bem, vamos lá! Sempre peço algumas informações como cores, preferência por materiais, coisas deste tipo. O que consegui num primeiro momento foi a preferência disparada pelo azul, seguido do lilás e um detalhe de borboleta. O resto seria por minha conta. Sempre dá um frio na barriga quando ouço a frase "faz o que você achar melhor", afinal ninguém tem a obrigação de gostar da minha loucura. Então, tentando não incomodar, fiz mais uma perguntinha: como é a pessoa? Nada de perfil psicológico, não! Apenas uma palavra basta, a primeira coisa que vier à mente quando pensar nela. Eu esperava algum adjetivo qualquer, o que já ajudaria bastante. Mas o que chegou em minhas mão foi um relato de quem compartilha da vida do outro desde sempre (desde a primeira série!). Achei aquilo muito lindo. Trata-se de uma amizade muito longa e que não esmoreceu pois o aniversário contará com um encontro e um presente (imagino que terá também muitos sorrisos e um abração, daqueles que duram, que embalam).
    Para mim amigo é sinônimo de família e me parece poesia pura quando esta relação transpassa as fases da vida. Isto é complicado pois mudamos muito nas primeiras décadas de vida. Estamos em formação neste período. Pode ser que o resultado "final" (na verdade nunca estamos totalmente formados, mas...) não agrade uma ou outra parte e ocorra o distanciamento, a desconexão. Há que ter admiração e respeito, companheirismo e cumplicidade. Existam outros motivos que nem sei para algumas amizades durarem tanto. Talvez não seja ao acaso e exista de fato uma razão para aquela pessoa estar presente em nossa vida por tanto tempo. Não sei a explicação, mas aparentemente algumas pessoas possuem este dom, ou aptidão, ou talento, mais do que outras
    No final estava eu enfiada na amizade dos outros, curtindo o azul, o lilás e a borboleta, conjugando tudo às outras informações preciosas. Senti uma responsabilidade imensa nas mãos, mas tive que jogar tudo para o universo pois precisava delas para trabalhar. O resultado final está aí e levarei logo mais para a "presenteante". Sei que gosto é como bunda (cada um tem a sua) e pode ser que não agrade, mas eu gostei. Os detalhes ali presentes tem um significado. Acredito que tudo que me foi passado deixou a experiência  muito mais rica e me senti muito especial em poder contribuir com uma parte desta história que continua a ser escrita por duas mulheres que juntas, desde que eram meninas, vem descobrindo o mundo.


Privilégio de alguns.

    Céu azul e sol no volume máximo. O contraste entre a suave nebulosidade alta e as nuvens baixas criava a sensação de que o pé direito da atmosfera era muito maior. Esta foi a moldura para um dia de reencontros. Uma reunião de consideração, admiração, afeto e merecimento. Absolutamente todos estavam presentes. Todos. Nem sequer um agregado faltou e nos reunimos em celebração ao aniversário da integrante mais antiga do clã. A comemoração foi muito além da sua trajetória, alcançar uma marca de anos vividos que ultrapassa a média da expectativa de vida dos habitantes deste país. Comemoramos o agradecimento. Devemos muito da configuração atual de nossas vidas àqueles que nos precederam. E é incrível o que acontece quando um grupo de pessoas se reúne com um objetivo em comum: tudo flui, tudo dá certo e o melhor de cada um vem incrivelmente à tona.
    Sem dúvida que o foco era a aniversariante octagenária, mas, perdão pelo "trocadalho", todos fomos presenteados ao experimentar a felicidade dos que amamos. Poucas sensações nesta vida são tão verdadeiras e fortes. Pouca coisa pode se equiparar a isto. Irmãos novamente juntos relembrando e renovando. Cunhados, primos, tios, sobrinhos, netos, sobrinhos-netos, filhos. Em um momento, diversidade total, em outros, traços de semelhança incontestes.
    A frase feita que diz que ao conhecer nosso passado entendemos melhor o presente é totalmente verdade. Por exemplo, pela primeira vez vi fotos de um avô que não cheguei a conhecer. Em uma delas ele segurava um gatinho no colo! Foi daí para mais.
    São momentos assim que nos lembram com muita clareza o que estamos fazendo aqui. Isto é muito necessário pois nos perdemos com facilidade em coisas menores, piores e descartáveis. É preciso prestar muita atenção nestas oportunidades porque elas são únicas e não temos a menor idéia se voltarão a acontecer. Por enquanto está tudo muito bem desta maneira, mesmo com a incerteza.
    Vida longa a todos nós! Envelhecer é um privilégio. Que a energia densa e palpável que foi gerada por este grupo continue em cada um de nós e que se multiplique.
    Dias com céu esplendoroso não nascem por acaso.



    Especial para a Tia Cida, mulher de muita fé que tem a certeza de que jamais estará sozinha.

    Um agradecimento gigantesco ao Anselmo por toda a trabalheira em organizar tudo e intimar a todos. Foste a personificação de uma frase que ouvi de um professor: "viver bem dá trabalho e não temos problema nenhum com isso". Arrasou!

Algumas coisas são mais difíceis do que outras.

    O tema dos últimos dias, para quem pensa, é a eterna indagação se está ou não no caminho certo. Para aqueles que não se sentem felizes, a pergunta é um pouco mais dramática: " o que estou fazendo da vida?". É incrível como nossas indagações podem mudar de cor ou tamanho, mas essencialmente são sempre as mesmas. Eu fico aqui me perguntado por que há lições que simplesmente não conseguimos aprender? Por gerações a fio o cerne dos dilemas permanece e o das respostas também. Mas se a seta que indica o caminho pisca à nossa frente o tempo todo, por que tanta dificuldade em seguir naquela direção?
    O curioso é que somos capazes de aprender uma tonelada de coisas durante a vida. Já parou para reparar em tudo o que lhe foi ensinado durante toda a sua jornada acadêmica? Começou aprendendo a amarrar o cadarço do seu tenis Conguinha e foi até discussões dos elementos da macroeconomia mundial na era pós Euro, sendo que para chegar até aí aprendemos um ou dois idiomas, mergulhamos na genética e percorremos caminhos bem obscuros da física e da trigonometria. Isso sem falar das lições de cálculo I e II, este fenômeno do inconsciente coletivo. Agora veja bem, muito pouco ou nada disso nos auxiliou a sermos melhores filhos, amigos, irmãos, maridos, esposas, pais, mães e avós. Não sou contra o conhecimento e acho mesmo que morremos no dia em que decidimos para de aprender. Contudo há uma parte importantíssima que deixamos de lado: como lidar com emoções, como interpretá-las, como expressá-las, como lidar com as emoções dos outros, o que fazer com a torrente de sentimentos que nos invadem subtamente nas mais diversas situações. A lista é tão longa quanto aquela que esmiuçamos desde o jardim da infância até a formatura do MBA, mas a única coisa que ouvimos é "devemos ser felizes". Opa! Isto é um consenso, certo? Ãh...não extamente. Como assim? Bem, recebemos o pacote com o passo a passo e vamos seguindo. Ok, então para ser feliz eu devo usar esta roupa, jamais aquela, escutar esta música, fazer esta faculdade, morar nesta casa, nesta cidade, ter estes bens, viajar para este lugares com estas pessoas, ter este emprego, este carro, casar com aquela pessoa, ter estes filhos que deverão estudar nesta escola, usar estas roupas e não outras, escutar esta música....Que vergonha. Que vergonha!!!! Construímos e seguimos modelos de um pacote castrador, incapaz de abranger todas as nuances que existem em uma só pessoa, logo impossível de ser aplicado em gerações a fio. O patético desta história e que transmitimos esta doença de uma geração a outra. O desavisado que ousa dar um passo à direita ou à esquerda assume o risco de não se encaixar mais em meio algum ou desiste, paralisado pelo medo de viver o que realmente é. Pior ainda é que ficamos admirados com a história de pessoas que conseguiram romper este ciclo. Compramos seus livros e assistimos suas esntrevistas, venerando seus feitos como algo para poucos.
    Este é o primeio liame que precisamos romper. Por que usar um sapato maior ou menos do que o seu número? Experimentemos a sensação de caminhar com um sapato que nos sirva e imaginemos como serão os nossos passos. O detalhe é que, justamente, romper com o que não serve não é simples. Na teoria é e bastante. Mas na prática a coisa complica. Sugestão do ponto de partida: um mergulho em si. Inicialmente despretencioso e depois cada vez mais profundo. Realmente acredito que é por aí, que seríamos pessoas melhores se entrássemos em contato com nosso âmago da mesma forma que calçamos os chinelos ao sair da cama. Acredito que quando conseguimos aprender a lidar com um aspecto nosso, mínimo que seja, aprendemos algo sobre o todo, algo que não foi ensinado nos 20 ou 30 anos que passamos achatando nossas bundas nos bancos escolares. Sim, é mais dífícil do que entender Teoria Geral de Sistemas, mas este estudo pode dar frutos que jamais sairiam dos seis meses de pesquisa daquela disciplina.
    Temos medo de mudar? Muito! Afinal fora do pacote castrador não há parâmetros que te mostrem a direção ou o próximo passo e precisamos muito destes indicativos, afinal crescemos na busca deste tipo de aprovação. No fim, assim como no começo, trata-se de uma escolha. Para ganhar algo precisamos perder algo. Só não comece este processo enganado, achando que vai ser moleza. Se o seu negócio é mel na chupeta e churrasco no fim de semana, vai fazer outro MBA. Isso aqui vai exigir muito, muito mais.


Não dá para viver separado.

    Calor. Calor. Calor.
    Uma belíssima tarde e é apenas segunda-feira.
    Dias de verão nos enchem de vontades: de sair, de conhecer, de realizar, de contemplar, de lagartixar. O sol e o céu azul nos catapultam sem dó nem piedade para a vida, para o desejo de viver nossos dias até os últimos minutos de luz. Normalmente sentimos esta explosão de impulso no peito, respiramos e continuamos trabalhando, afinal somos adultos e temos que cumprir com nossas obrigações. A cada tanto de tempo, mais uma olhadela pela janela para o céu azul, pornograficamente azul. Fim da tarde, mas o sol brilha ainda na sua potência máxima.
    A 3 km daqui Baltazar encerra seu expediente. A tarde chama. Não, a tarde berra! Baltazar escuta e nos faz o convite: vamos ver o pôr do sol? Hoje? Segunda-feira? Somos adultos, estamos trabalhando, coisas atrasadas. Será? Lóóóóóógico que sim!
    Eu dirijo, assim Baltazar e Lady Newton pode apreciar a vista. Estrada livre, linda, florida. Aos poucos a mata atlântica emoldura o litotal. Mais um pouco.... e chegamos. Calor. Mas aqui tem brisa. Colocamos os pés na água. Está morna e límpida. Somos três crianças carentres de sua grande Mãe, deslumbrados com sua beleza, com olhos desacostumados a contemplar o horizonte, enbasbacados com o silêncio que acaricia os ouvidos, alimentados pelo ar úmido e leve, maravilhados com o espetáculo que estava à nossa espera.

    A expressão de prazer e completude dos meus cúmplices provavelmente era também a minha. Era como se estivéssemos vendo tudo aquilo pela primeira vez.


    Na verdade tratava-se de um reencontro, da união da teoria com a prática. Ficamos por muito tempo distantes desta força magnífica e ali nos embebedamos em sensações, minuto a minuto.


    Os buracos da alma foram preenchidos, as respostas foram encontradas e os mistérios, revelados. Tudo é muito simples agora. Estamos novos e vivos, muito mais do que antes, com uma percepção modificada. O dia esplendoroso que tanto nos instigou, encerrou-se gloriosamente. Mas...não há fim. Há novo começo. Mais uma vez fomos provocados.

    A lua cheia, grande, saborosa e nada tímida nos fez vários convites. Cedemos uma vez mais pois cansamos de viver nossos dias esvaziados destes elementos.
    No retorno tivemos esta luz prateada para indicar o caminho e cintilar na copa das árvores da Serra do Mar, tornando seu contorno claro e reluzente.
    Se andávamos esquecidos, recordamos que a natureza está em nós e nós, nela. Compomos um único e maravilhoso organismo de vida. Ao nos afastarmos dela, afastamo-nos de nós mesmos. Quanto mais apartados ficamos de nossa essência, mais infelizes nos tornamos. Sentimos o vazio mas vamos levando, sem lembrar do que é necessário para preenchê-lo. Um dia surge a urgência e ainda assim vamos levando. Nos atrapalhamos na tentativa de sanar este chamado. Comemos, bebemos, compramos, falamos muito e nada resolve. Até que percebemos que precisamos fazer alguma coisa. Então lembramos! E é fácil, muito fácil. Ela está lá, basta ir ao seu encontro e gozar do prazer de sentir-se pleno novamente.


Hoje o dia nasceu azul.

    Disposição para ver o belo. Foi assim que acordei hoje. A caminho do correio tudo brilhava sob a luz branca do sol. Árvores, plantas, flores (generosas!!!!), pássaros, tudo mostrava um nível máximo de vida e energia. A coisa estava tão séria que fiquei sensível à beleza das pessoas. Por exemplo, a funcinária dos Correios, que sempre é muito simpática, estava diferente. Acho que mudou a cor do cabelo e sua pela ficou reluzente. Usando colar, brincos, pulseiras e muitos anéis passava a menssagem de que é alguém que se gosta e deseja estar bela para atender os clientes. Sua colega de bancada, de modo um pouco diferente, também emanava a mesma vibração com uma grande flor na cabeça combinando com a cor do esmalte que usava.
    Tudo no caminho tinha esta cintilância. Ok, quase tudo. A moça que jogou a bituca de cigarro acesa na sarjeta momentos antes de quase ser atropelada por uma senhora que dava ré no carro como se fosse a única habitante do planeta não traduzia a mesma poesia do entorno. Enquanto estas pessoas ignoravam o movimento da vida, num afrontamento pacífico à tendência comum que conduz em direção ao belo e ao humanizado, eu me perguntava o que faz com que existam dias nos quais temos esta capacidade de percepção. É bom se sentir assim, quando tudo fala com você e o pulsar desta energia favorável pode ser constatado, quando você percebe valiosos aprendizados com a manifestação daquilo que te rodeia.
    Percebo que é diferente do mundo de Pollyana. Trata-se de colocar atenção nos pontos que te alimentam (no meu caso, a natureza, a gentileza), internalizá-los para que te inspirem em outros momentos, quando estes mesmos elementos estiverem escassos. Trata-se de ver o todo com naturalidade, afinal no mesmo mundo onde há sabiás que pulam na grama, há pessoas que jogam lixo no chão. O sabiá eu levo comigo, a falta de educação, não. Tudo passa diante de nossos olhos e a todo momento fazemos estas pequenas escolhas que refletem nossos anseios. Talvez aí já esteja a resposta.
    Este processo, aparentemente simples, requer maturidade e autoestudo para que possamos optar pelo que nos leva ao crescimento. É como escolher o que se vai comer. Se houver critério e esforço, consegue-se uma boa nutrição e saúde. Sem critério e com comodismo começam os problemas. Isto significa que no bastidores de todo prazer existe trabalho e dedicação. Seria pedir demais ter certa disciplina a fim de sentir-se bem? Tenho aqui para mim que é uma troca justa se a conquista se traduzir em dias mais azuis, amarelos, verdes, rosas, brancos...