Olá!

Aqui você encontra vários tipos de textos com reflexões, introspecções, filosofadas e relatos, tudo sob a luz do mosaico. Desejo inspirar você com a mesma arte que me inspira.

O Vaso Alegria.

 A gente já sabe que vida é feita de fases. Quando as coisas estão mais ou menos sob controle, é bonito observar o movimento daquilo que chega até nós, fica um tempo e depois parte. São costumes, gostos, crenças, relacionamentos...tudo tem um tempo de existir dentro da gente. Esse vem e vai trouxe até mim a fase dos vasos. Tudo começou com nossa mudança de Berlim para Herrsching. Como aqui há mais luz dentro e fora de casa, nossas plantinhas mirradas foram aos poucos se enchendo de força, crescendo, florindo e sorrindo com tanta generosidade, que os vasinhos de plástico não comportavam mais tanta vida. Aos poucos cada planta ganhou uma casa nova, mais bonita e espaçosa. Aos poucos veio chegando, então, a fase dos vasos.

Quando eu achei que só faltava fazer mais um e, talvez, mudar de fase, veio um pedido de nossos amigos queridos lá do norte. Prestes a entrarmos no período mais escuro e cinza da temporada, eles decidiram que um vaso bem alegre seria uma gota do antídoto que sempre buscamos para driblar a tristeza e atravessar aquilo que eu chamo de "época das trevas". É claro que, como não pode deixar de ser, tentei inutilmente extrair uma definição mais precisa de meus clientes-amigos. Que cores te falam sobre alegria? Que formas te falam sobre alegria? Cada um de nós atribui sentimentos diferente a coisas diferentes. Eu sou a pessoa que sai na rua com um colar feito de tampinhas de garrafa e fico muito alegre com isso. Se esse não é o seu caso, então é melhor me contar os seus sonhos e os seus amores para que eu possa me conectar com a sua verdade. Mas isso acontece raramente e desta vez também coube a mim escolher tudo. O que eu tinha de concreto era o tamanho do vaso. Para a parte da alegria, fui tentar descobrir o que isso significava olhando com calma para essas pessoas que me confiaram a tarefa. Que roupas gostam de usar? Como enfeitam a casa? Que cores eles trazem para as suas vidas? E nesse momento lembrei de quando a Débora foi em casa para aprender a fazer uma luminária de mosaico. As escolhas que ela fez naquela ocasião foram o meu ponto de partida.

Clique sobre a foto para vê-la em tamanho maior.

Então fui tentando moldar a minha concepção da expressão de alegria ao formato que eu entendo que seja o deles, ou seja, praticamente uma psicografia. E o que significa isso na prática? Significa gemas de vidro, stained glass, pastilhas de cerâmica, miçangas, espelhos, vidro iridescente e pastilhas cristal. Para destacar as cores, usei o rejunte preto grafite e finalizei a cerâmica com o mesmo tom. O vaso mede 26 cm de altura e 31 cm de diâmetro na parte mais larga.

O belo vaso, que traz uma entre as infinitas traduções de alegria, prontinho para colorir as cercanias de Blankenfelde.
Eu já havia avisado aos amigos que não enviaria nenhuma foto antes do vaso estar totalmente concluído. Aprendi que para quem está de expectador, não fica muito claro qual será o aspecto final ao ver o trabalho pela metade. Então mantive o suspense até o momento final. Quando enviei fotos e um vídeo do vaso pronto, escutei uma frase que me marcou muito: "Eu achei que você faria uma coisa totalmente diferente, mas esse vaso é a nossa cara. Parece que é a forma como você nos vê". Eu não sei como você que está lendo isso agora interpreta isso. Para mim foi uma das coisas mais bacanas que ouvi. Reconhecer-se em alguma coisa através do olhar do outro sobre você. Caraaa!!! Isso é muito, muito, muito legal! Isso para mim é alegria.


Até a próxima!
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A garrafa Buda e o ego descontrolado.

Por motivos mais abstratos do que técnicos, tinha decidido não vender mais para os Estados Unidos. Mas você sabe que a vida é essa coisa que adora tirar um sarro da nossa cara. Foi bem de lá que veio a pergunta sobre a possibilidade de fazer uma garrafa personalizada. Foi a primeira vez que alguém fez esse tipo de contato através do Etsy. Então entendi que havia realmente uma identificação com o que faço e que valia a pena engolir, sem água, minha decisão anterior. É claro que, além disso, contou o fato de parecer insano recusar um pedido sensato de compra, ainda mais porque já havia vendido uma garrafa, há um ano, para a mesma pessoa.

A proposta era aberta: uma garrafa com o tema Buda. O que é Buda? Qual a melhor representação de Buda? Buda literalmente ou Buda metafórico? É certeza que Buda e garrafa combinam? Essas são perguntas que eu adoraria fazer só para início de conversa, mas que a experiência me mostrou que são inúteis - ninguém responde. Geralmente dizem "faz como você achar melhor". Como não sou portadora de dotes telepáticos, não consigo saber o que exatamente se passa pela cabeça de um ser humano e duvido muito que alguém esteja disposto a pagar em euro para ser surpreendido. Então costumo me limitar a dois pedidos: 1 - conte-me a sua visão sobre isso, e 2 - há algo que você não queira ver ali? O que vier de resposta já é lucro. Nesse caso o que recebi foram as cores que mais gostava - todos os tons de verde, de marrom, dourado e, talvez, algum azul. Em hipótese nenhuma gostaria de ver amarelo, laranja, vermelho, roxo...cores que eu totalmente usaria se não soubesse da preferência. Tá vendo, gente, como é importante abrir o coração para uma artesã? Olha cagada que iria dar...

Fui pesquisar sobre Buda e aprendi algumas coisas que me ajudaram a encontrar uma conexão com o tema. Esboço feito, começo a minha jornada. Dentre tantas possibilidades, escolhi o Buda em posição de meditação e, dentre tantos ensinamentos do Budismo, escolhi o amor, uma das principais ferramentas na caminhada rumo à iluminação, representada nesta garrafa com a Flor de Lótus, colocada no topo.

A figura de Buda fiz com stained glass, contornado com miçangas.


Essas pedras douradas foram um achado na loja de 1,99 e fizeram para mim o arremate ideal, formando essa espécie de gruta que guarda a tranquilidade necessária ao estado meditativo.



Esta é a parte de trás. O coração como representação (ocidental?) do amor. O amor que conduz à iluminação.

O ponto de luz.
Creio que eu nunca tenha feito uma garrafa com essa estética e foi justamente isso o que achei mais interessante. A limitação das cores foi desafiadora. Tive que falar para a minha criança interna "senta ali um pouquinho, bem quietinha, porque a tia precisa fazer uma coisa aqui". Ela ficou no cantinho designado, mas gritava, gritava tão alto! Achei educativo. Fui contratada por ter uma habilidade técnica e não para permitir que meu ego indomado bailasse sobre o desejo do outro. Já ouvi algumas vezes que educar o ego é uma boa receita para uma caminhada pacífica (que não é sinônimo de subserviente) e frutífera sobre a superfície deste planetinha que habitamos. E, quando revejo as emoções que me visitaram ao longo das duas semanas em que me dediquei à garrafa, percebo que há um oceano muito profundo a ser mergulhado quando o tema é educar o ego. Eu, meus amigos, até agora, mal molhei os pés.

Amor para todos e até a próxima!
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Uma casinha para quem quiser um lar.

Se tem uma coisa que gosto na vida é ir em loja de 1,99. Lá experimento uma rara sensação de poder: encher uma sacola sem esvaziar a carteira. Numa das vezes, entre itens de primeira necessidade, como guardanapo decorado e fita adesiva holográfica, vi uma casinha de passarinho. Bonitinha, pequenininha e baratinha. Toda "inha" que eu nem parei para pensar que talvez fosso muito "inha". Não tenho total familiaridade com a fauna local, mas pelo que vi até hoje, acho que nenhum passarinho consegue passar pelo buraco que é a porta. Mas aí lembrei que temos um Hotel de Insetos pendurado na varanda. Ele é vendido em lojas de jardinagem e a ideia é servir de abrigo para aranhas, borboletas, abelhas e quem mais achar que ali pode ser chamado de lar. Assim sendo, decidi pensar que a casa de passarinhos poderia ser uma casa de insetos. Na verdade pode ser uma casa de todo mundo. Se passou no buraco, ela é sua. Mas mesmo com o leque de potenciais hóspedes bem amplo, não resisti ao tema "pássaros" na hora de revestir com mosaico.

Sim! As tampinhas de garrafa (sempre elas!) com alguma ave estampada foram bem-vindas neste trabalho. 

As telhas do telhado são fatias de rolha. Se você toma um vinho de vez em quando, agora já sabe que dá para fazer um telhado com as rolhas. ;-)

Essa é a parte de trás. Sou só eu ou lembra a  casa de doces da história de João e Maria? 

Está vendo? É pequenininha mesmo!

Agora está lá na varanda, pendurada naquilo que eu julgava ser um suporte para vasos, mas que descobri se tratar de um suporte de cabides. Você usa a roupa e depois pendura ali. Ela toma um ar e depois você guarda a roupa de volta no armário. Lavar a roupa? Para quê?
Enquanto tentava achar um motivo que levaria um ser vivo a morar na casinha de mosaico, fiquei pensando no que precisa existir em um lugar para que a gente consiga chamá-lo de lar. Parece-me que precisa reunir mais de um atributo para surgir um lar. Lembrei dos lugares onde já morei. Em São Bernardo do Campo, o antigo apartamento era 90% um lar. Ficavam uns 10% de desconforto que a cada momento poderia vir de uma coisa diferente. Em Berlim experimentamos, talvez, 70% de lar. O apartamento era uma lástima, mas a cidade nos fez sentir parte de um todo, mesmo sendo estrangeiros. Aqui em Herrsching eu arriscaria uns 50% de lar. O apartamentinho é aconchegante, mas nunca me senti tão ET quanto nesta mini cidade. É um desconforto constante que me traz uma certeza: aqui não é o meu lugar. Sim, é tudo muito subjetivo e é exatamente esse o ponto. Outro dia tentei explicar para um amigo de Berlim, que nasceu, cresceu, ainda mora lá e é apaixonado pela Bavária, a razão de eu não me sentir bem aqui. Não deu certo. Percebi que para ele só razões concretas é que contam. Se eu dissesse que não quero morar aqui para sempre porque não tem cinema, talvez ele entendesse. Porque tem o mercado Netto, Edeka, Rewe e Norma, mas não tem Lidl e Aldi, talvez ele entendesse. Porque não tem uma loja de 1,99, talvez ele entendesse. Mas falar sobre sentimentos abstratos não foi o suficiente. Dizer que sinto que aqui não é o meu lugar porque não consigo me sentir em casa é uma justificativa totalmente sem pé nem cabeça para ele. Como o que não tem remédio, remediado está, focamos no ponto em comum: as paisagens por essas bandas são dignas de calendário. Nos despedimos com promessas de um reencontro em dezembro. Voltei para o lugar que para ele é um paraíso e para a incômoda sensação de ser uma pássaro fora do ninho. Acho que só conheço um lugar que é 100% lar e ele se chama "casa de mãe".

Até a próxima!
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A luminária e a flor de veludo.

À medida em que a gente vai vivendo a vida, vamos também encontrando algumas respostas. São poucas e raras. São valiosas e nunca (nunca!) são definitivas. O que fazer da vida sempre foi uma grande questão no meu caminho. Algumas vezes achei que tinha encontrado a resposta. Talvez até fosse a resposta...para aquele momento. Aí a gente muda, as pessoas à nossa volta mudam, o mundo muda e, ainda que a pergunta permaneça, a resposta vai mudando também. A resposta para minha pergunta existencial sempre busco dentro de mim e, meu Deus do céu!, tem coisa mais difícil do que esmiuçar nossas entranhas? Tento me guiar por aquela sensação que é forte e nítida, que me inunda de uma espécie de coragem e de um tipo de certeza que nasce na base da minha espinha. É uma sensação que faz o peito ficar macio e parece que o coração vira uma grande flor que desabrocha em pétalas de veludo perfumado. A sensação apenas me aponta o que é bom para mim, mas não me conta sobre os "como". Como fazer, como chegar lá...isso preciso descobrir por outros meios.

A minha seta aponta cada vez mais brilhante para fazer, seja o que for, reutilizando materiais. Por quê? Só para sentir a flor de veludo desabrochando no peito.

Resumindo o impasse filosófico: peguei garrafas e um pedaço de aglomerado e fiz uma luminária para velas.

Uma garrafa de vidro incolor é ideal para receber os outros vidros coloridos.

O pequeno recorte de aglomerado de madeira (era um quadro de avisos) recebe revestimento de azulejo, pastilhas de vidro, gemas de vidro, miçangas e pedaços de vidro verde de garrafa para se transformar na base da luminária, onde a vela será colocada.

No revestimento da luminária usei, além dos vidros de garrafa - tanto os verdes quanto o incolor que pintei - gemas de vidro, pastilhas de vidro...

...e miçangas. Muitas miçangas de vidro.

É assim que uma luminária é por dentro. Eu sonho em morar numa casinha onde o teto seja assim.

Quando você usa a parte central de uma garrafa, pode montar mini garrafas com o topo e a base que sobram. Aí é só revestir e elas ficam assim.

Essa é a hora da magia, onde me deixo levar pelas sombras coloridas.
É certeza que jamais desvendarei os mistérios da existência e para que essa sensação de pequenez diante do que não entendo não se agigante sobre minha alma, escolho não pensar muito sobre isso. Deixo-me guiar por essa bússola intuitiva, que aponta direções mas não aponta caminho ou ponto de chegada. Conformo-me em ser um átomo agitado e insignificante no planeta. Um átomo que ser deslumbra incansavelmente quando a luz transpassa um vidro colorido.

Até a próxima!
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Reflexo da Sorte

Há um caminhão, uma montanha, um mundo de coisas que fazemos sem pensar. Gestos, passos, atos, palavras e pensamentos que despejamos corpo a dentro e a fora, inconscientes da origem. Acontece, porém, que a vida é esse fluxo que nos empurra por alguns caminhos para que a gente preste mais atenção em detalhes importantes. Acho que é a energia amorosa da existência nos conduzindo para um aprendizado. Observe, reflita e aprenda. Como estamos sempre distraídos, não paramos para observar, não refletimos e não aprendemos. Por isso tomamos tanta porrada da vida, que consegue na violência do infortúnio captar nossa atenção.

Quantas crenças cultivamos e passamos adiante? E quantas delas envolvem medos? Pequenas frases ditas com propósito de proteção entregam pequenas ameaças: "se varrer o pé, não casa mais", " se comer na panela, chove no dia do casamento", "passar embaixo de escada dá azar", "espelho quebrado dá azar". Esses dizeres desvelam os valores em voga na época em que nasceram. Só que tudo é mudança, minha gente! E não é só isso. Tudo é contexto. Quantos de nós já varremos apressados os cacos do espelho que acabou de se partir, colocando-os no lixo e colocando esse lixo para fora de casa o quanto antes? Normalmente não se faz uma pausa para pensar que um espelho é algo frágil e, graças à gravidade, se cair é certeza que quebrará. Não fazemos isso. Queremos é nos livrar da maldição eminente do azar. Até que...você (no caso, eu) começa a fazer mosaicos. Corta para a cena seguinte: você (no caso, eu) está andando na rua e vê ao pé de uma árvore uma quantidade boa de espelho quebrado. O que você (no caso, eu) faz? Para quem faz mosaico, achar um espelho quebrado é como achar dinheiro no chão. Azar para uns, sorte para outros. O contexto mudou. Não há maldição, há alegria por encontrar material de graça. O trabalho a seguir foi feito justamente com espelhos que a rua me presenteou.

Além dos espelhos, também a base sobre a qual o mosaico foi feito, um tipo de Madeirite, é presente das ruas.


Tampas de garrafa sem desenhos também são ótimos elementos para composição.

Os materiais e suas cores foram escolhidos de forma a criar harmonia no local onde estes mosaicos ficarão.

Fazia um tempo que os espaços ao lado do porta-chaves ficavam olhando para mim com expressão suplicante. "Está mesmo muito pelado", pensei. Então fiz essas duas peças, repetindo elementos da Sardinha Mutante e do Porta-Chaves para que todos os mosaicos pareçam membros de uma mesma família.

É evidente que cada um é livre para ter suas crenças e essa liberdade é uma das coisas mais belas que há na vida. Mas acho que no momento, se o assunto for acreditar naquilo que não posso ver ou tocar, eu escolho acreditar que o bem e o mal estão dentro de nós e não em objetos. Também escolho acreditar que nós fazemos crescer uma ou outra força, dependendo da nossa sintonia. Para o bem de nossos corações, seria lindo se cada um pudesse estabelecer conexão com o seu melhor. Livre arbítrio e não medo. Pelo menos só por hoje.

Até a próxima!
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O Olho Periódico

Acontece assim: a cada tanto de tempo eu preciso fazer um Olho Grego. Esse precisar é meu mesmo. É como se a cada tanto viajado eu parasse para abastecer o carro, esticar as pernas, comer... É uma espécie de pausa onde retorno para um lugar familiar e seguro. E isso me faz bem.

Em algum momento já devo ter mencionado a atração que tenho por símbolos. Acho-os muito interessantes. Gosto de tentar entendê-los, de saber sua missão, de saber do poder que nós lhes conferimos. Claro que cada pessoa se relaciona de uma maneira com os símbolos. Eu os vejo como um lembrete de nossa própria força. Essa lembrança é de um valor inestimável quando tudo vai mal, quando nos sentimos incapazes de dar mais um passo adiante sem desabar. Nesse instante um símbolo pode nos lembrar que já passamos por isso outras vezes  e continuamos aqui, caminhando. Eles nos lembram que nosso chão é sólido e que nossas pernas tem a exata força que precisamos. Quando as sombras se avolumam sobre nossa alma fragilizada, um símbolo nos recorda que existe uma luz dentro de nós que nunca se apaga e que não há escuridão que não ceda à essa luz. Quando embaralhamos nossas pegadas e estamos perdidos, um símbolo é a seta que nos aponta a direção, que nos faz erguer a cabeça para avistar o destino. Quem faz somos nós. Mas o símbolo nos recorda de que podemos fazer.

O Olho Grego, segundo sua tradição, fala principalmente sobre proteção. Já tentei saber porque gosto tanto deste escudo, mas nunca cheguei até a resposta. Neste ponto acho que descobrir a resposta pouco importa. Se reproduzi-lo em mosaico me traz satisfação, que assim seja. Não fecharei as vias pelas quais a alegria queira me visitar, ainda que eu não saiba o motivo da visita.

Esse Olho Grego fiz sobre um prato de cerâmica, destes que são feitos para ficar sob vasos.

A parte de cerâmica pintei com esta tonalidade de dourado.

Utilizo o rejunte escuro com frequência para destacar as cores, fazendo-as brilhar.

O prato, por ser muito pesado, ganhou um suporte e assim pode ficar sobre aparadores e buffets.




Como acontece com certa frequência (comigo), o projeto inicial funcionou até um certo ponto. Então tudo empacou e não havia forma de ficar bom. Foram quatro tentativas de corta, cola e tira. Precisei de 48h de pausa e uma faxina em casa para achar o meio de fazer a coisa voltar a funcionar. Na ocasião eu coloquei a culpa nas obras de Hundertwasser que vi numa exposição em Lindau. Aquela beleza toda desorganizou meu cérebro e meu espírito. O que fazia sentido antes, não poderia mais ser. Por que isso acontece? Mais uma pergunta sem resposta para a minha coleção. Mesmo sem saber a causa, encontrei uma maneira de resolver o problema.

E assim vamos empacando, resolvendo, crendo, descrendo, entendendo, supondo e fazendo tudo o que dá, da melhor maneira que se sabe fazer.

Até a próxima! 
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A nova casa da Flor de Maio.

Primeiro é necessário que se diga que nas bandas de cá a Flor de Maio chama-se, numa tradução literal, "Cacto de Outono". Mas eu prefiro chamá-la de Flor de Novembro, que é quando ela dá suas flores. Depois de uma generosa florada no ano que passou, a plantinha foi dando sinais de que precisaria de mais espaço para estender suas asas, digo, raízes. Que fique muito claro uma coisa: pedido de planta a gente não nega. Jamais!

Na fase em que estou, não sei se consigo conceber um vaso sem usar tampas de garrafa. Acho que combinam muito. Ponto de partida estabelecido, notei que o potinho de restos tinha novamente chegado à tampa. Que seja, então, feita a união daquilo que sobrou ali com aquilo o que sobrou aqui. E que se celebre a fartura das sobras! Pois elas abundam e podem construir universos inteiros se assim nós quisermos.

Para quem chegou recentemente por aqui e se pergunta "tampinhas? Mas por que tampinhas?", guarde a resposta: elas são o máximo! Personalidade não lhes falta e merecem o devido destaque.

Animais, brasões, personagens típicos - uma pequena história é contada através do logotipo.
No restante do vaso, emoldurei as tampinhas e delimitei as bordas com uma cor neutra. Os espaços que sobraram foram preenchidos com os amados restos de cortes, aleatórios, coloridos e vivos!


E na cerâmica aparente o dourado que faz justiça à nobreza da Flor de Novembro.
Embaixo também vai o dourado. Não é por estar menos aparente que não vai receber essa mistura viciante de verniz e purpurina, não é mesmo?
O que mais me empolga nesse vaso, além da sua simplicidade, é o fato de utilizar tesselas "alternativas" entre muitas, muitas aspas, porque esta classificação diz muito mais respeito à forma como enxergamos as possibilidades do que aos materiais em si. Ver valor naquilo que comumente não é muito valorizado é, para mim, um tratado sobre a esperança. Esperança de que vá um pouco menos de coisas para o lixo ou para a reciclagem, esperança de ver outras formas de beleza passeando pelo mundo, esperança de encontrar diferentes formas de viver nossa vida gasta e exaurida. Talvez seja possível a gente mudar tudo (ou o que precisa ser mudado) apenas com aquilo que já está à nossa volta. Que coisa louca, não?

Ah! A planta! Mandou milhões de lembranças. Está felizona na casa nova!!!!


Até a próxima!
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Brisa de esperança.

Quando deixei São Bernardo do Campo, há quase cinco anos, sabia de pouquíssimas pessoas na cidade que faziam mosaico e conhecia a loja Romiarte, no bairro de Rudge Ramos, que era o único lugar realmente decente para se comprar material. Sobre mosaicos na cidade, lembro de uma série de painéis na Av. Caminho do Mar, de um painel na entrada de um condomínio que indicava que ali um dia existiu uma unidade da IFRJ (Indústrias Reunidas Fábricas Matarazzo), lembro da praça da Igreja Matriz com um espetacular mosaico de pedras portuguesas (que foi removido numa reforma sem justificativas dando lugar a muito concreto), do corredor central da mesma igreja que, felizmente, não é mais coberto por um longo tapete vermelho, do altar da Igreja Santíssima Virgem, no bairro Jardim do Mar, da ornamentação das colunas na igreja do bairro Baeta Neves, do chafariz da praça Lauro Gomes e da fábrica da Vidrotil que não gostava muito de mosaicistas. Isso era tudo o que eu sabia (e que consigo me lembrar) da relação da cidade com o mosaico. Porém parece que boas brisas sopram em meio a tornados de caos. Há pouco tempo fiquei sabendo de uma ação coletiva para decorar uma escola no Jardim Hollywood. Atendendo ao chamado do mosaicista Henry Ribeiro Conde, da Conde Mosaicos, vários artesãos confeccionaram mosaicos sobre tela, no tamanho de 20cm X 17cm, que serão instalados em um dos muros da EMEB Mário de Andrade. O tema escolhido foi "Brincadeira de Criança" e as contribuições estão chegando de várias cidades e de alguns estados do Brasil. Esse é um aspecto muito bom de rede social: possibilitar o contato de pessoas com uma mesma afinidade que se reúnem em torno de um projeto que tem o objetivo de trazer beleza para um lugar.

Tomar conhecimento desse coletivo foi uma surpresa muito boa, como um gentil aceno da Sra. Esperança. Graças à disponibilidade do colega Henry, puder participar desta ação. Como deu de acontecer de Correio ser um serviço, digamos, com oportunidades de melhoria no mundo todo, ele topou instalar minha contribuição se por acaso ela chegar depois do prazo final. Mas confesso que preparo o meu coração para a hipótese real de o pacote nunca chegar...

O tema proposto é delicioso e me conduziu a uma viagem pela minha infância. Rememorando hoje, diria que as brincadeiras de "Poço de Correspondência", "Carroça", andar no meio dos pés de milho plantados no terreno ao lado de casa, soltar bolhas de sabão e fazer lipsync de Olivia Newton John eram minhas brincadeiras favoritas. Mas aí lembrei de uma tão antiga quanto o mundo e que fiz pouquíssimas vezes: soltar pipa na praia. Guardei lembranças muito especiais de quando senti que poderia voar sem sair do chão. Achei incrível a sensação de fazer algo subir ao céu e bailar no azul. Era como ser livre lá do outro lado da linha. Então escolhi essa brincadeira para ilustrar com mosaico.


Onde tudo nasce.

Onde tudo se concretiza.





São Bernardo tornou-se uma cidade profunda e amplamente maltratada. Ações como a do colega Henry são muito, muito importantes. Além de ser uma declaração de afeto feita por desconhecidos ao local onde ficará o painel, a obra trará uma pincelada de beleza para o local, levando ao contemplamento, à reflexão e ao aprendizado todos que estiverem dispostos a se conectarem com o mosaico. Tenho certeza de que o mural espalhará algumas sementes por aí, alguns corações serão tocados e pequeninas mudanças poderão começar a acontecer. Essa é uma das tantas maneiras que existem para se promover uma transformação positiva.

Inspiremo-nos, amigas e amigos! Inspiremo-nos!
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A garrafa iluminada

Os fatos já são velhos conhecidos: Adriana adora decorar garrafas com mosaico. Adriana adora luz colorida. Adriana adora vidro colorido. E já faz um bom tempo que eu nutria o desejo de juntar todas as minhas adorações em uma coisa só. Enquanto não achava um bom jeito de fazer a tal união acontecer, praticava o prazer secreto de colocar uma lanterna sob uma garrafa terminada só para imaginar as possibilidades iluminadas do futuro. Até que certo dia, enquanto mergulhava fundo no oceano da internet, apareceu um anúncio de uma rolha de plástico da qual saía um fio de LED. A proposta era justamente iluminar garrafas. É sério, Deus? Achei que o Senhor estava bem ocupado com as eternas tensões do oriente médio, com a eterna fome que aflige quase 1 bilhão de pessoas ao redor deste mundo, com as diversas guerras e conflitos que cospem refugiados para todos os cantos. No meio de tudo isso o Senhor teve tempo de inspirar um chinês para fazer o sistema perfeito para iluminar garrafas?! Como agradecê-Lo? Aqui, na minha pequenez, acho que é honrando Sua criação. 

De início fiquei ressabiada em entregar meus dados e meus trocados numa loja virtual desconhecida que prometia uma entrega entre 10 e 45 dias úteis. Muito elástico esse prazo. Deixa para lá. Uma hora a novidade chega por aqui. E chegou! Lá na loja de inutilidades domésticas. Não aqui em Herrsching, é claro. A vocação para o turismo lacustre de terceira idade desta pequena estância bávara não combina com esse tipo de comércio. Fui ser feliz a alguns bons quilômetros daqui.

Uma vez proprietária da rolha iluminadora, separei materiais translúcidos e transparentes para a minha obra. Seria a ocasião perfeita para usar um pires de vidro que pegamos numa caixa de doações. O danado era bem bonitinho, verde, todo desenhado e tinha uns bons lascados aqui e ali. De início achei que o usaria como base para alguma coisa, mas a gente não pode - anote isso aí no seu caderno de diretrizes para a vida - desperdiçar um vidro colorido escondendo sua cor e sua transparência. Anotou? Ótimo! Então o pires iria para uma luminária...mas aí veio a rolha de luz e o pires foi devidamente picotado para ornamentar a garrafa dos meus sonhos.

Maltratado, mas muito digno.

Onde havia um pires passaram a existir tesselas.

Daí para frente todo mundo já sabe como funciona: corta, cola, corta, cola, corta, cola, seca a cola, rejunta tudo, seca o rejunte, limpa tudo, limpa mais um pouco, limpa de novo, coloca a rolha, acha que a rolha não tem nada a ver, troca zapzap com a irmã sobre a rolha, acata a sugestão, pinta a rolha de dourado, acha que a ainda não está bom, cola uma gema em cima da rolha mesmo com o marido sendo contra e aí acha que está ok, harmonioso, funcionando e dentro das expectativas. Sinto falta das tampas de louça e de vidro? Sinto, mas para ter a garrafa dos meus sonhos precisava abrir mão de alguma coisa (nesse caso da estética já conhecida). Quem sabe o mesmo chinês não inventa uma outra rolha de luz com upgrade estético. Quem sabe...

Vamos à diversão!

Fofa! Ela é feliz, mas é discreta. Não sai por aí fazendo post sobre sua felicidade (ao contrário de nós...)

Perfil elegante anunciando que o que está na frente não está atrás.

Parte de trás com sua beleza própria.

Close dos pedaços do pires verde.

Para mim foram os pedaços do pires que deram o toque especial.

A chave mágica, a razão da minha alegria.

Aqui você pode ver a garrafa muito segura de si. Ela pode não ter uma tampa toda ornamentada, mas ela tem luz! Como competir com isso?

Reinando plena e exclusiva.
Há luz...

...por todos os lados!

Fiquei pensando sobre o meu tempo de espera para ter uma garrafa com luz. Poderia dizer que tudo tem seu tempo ou que cada coisa acontece no momento certo. Esses ditos são verdade, mas talvez não nesse caso. A rolha iluminada não é exatamente uma ideia complexa, concorda? Talvez muitos de nós improvisaríamos algo muito semelhante se estivéssemos dispostos a chegar num resultado assim. Não menciono isso porque acredito que deveria ter sido eu a dar a ideia aos chineses, mas porque não sei responder a mim mesma sobre o motivo de não ter encarado com mais atenção o desejo da minha mente inquieta. Aqui é apenas uma garrafa iluminada, mas se faço isso com algo simples, imagine o que acontece com as questões complexas.

E com o amargor desta constatação permitir-me-ei uns instantes de "deixa prá lá" só para ter a mente em paz e apreciar minha garrafa iluminada. Até a próxima!

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Dando asas à perua.


Dizem os especialistas que ao longo da vida nossas orelhas e nosso nariz não param de crescer. Além de outras partes do corpo, eu adicionaria à lista os anéis, os brincos e os colares. Eu fui um dia a discreta, adepta das bijuterias minimalistas. Qualquer acessório além dos mini brincos já era coisa demais. Mas, não sei por qual motivo, a regra foi perdendo efeito ao longo dos anos. Seria o signo solar falando mais alto? Seria a auto censura falando mais baixo? Pouco, muito pouco importa. Tendências "peruescas" assumidas, vamos tratar de expressá-las, afinal não é toda perua que gosta de legging com animal print, de dirigir SUV e de longas unhas decoradas. A minha jovem perua curte a tendência de andar a pé, prefere estampa floral em roupas largas e leves como o vento e mantém as unhas curtas e eventualmente coloridas (de preferência uma mão de cada cor). E para atender aos meus próprios anseios, achei que era uma boa fazer meu próprio colar, logicamente com influências musivas. 

Em outras ocasiões fiz minhas caminhadas por esses campos. A cada peça feita, tive a sensação de que ainda não tinha chegado lá, ou seja, ainda não tinha conseguido me expressar satisfatoriamente nas bijuterias. Agora dei mais um passo numa direção que para mim é boa. Vamos a ele:

Essa é a parte de trás. Como das últimas vezes, a base é feita com tampas de garrafa. Neste colar usei todas do mesmo tipo (Fritz-Kola).
 
Tirei a borda ondulada das tampinhas e preenchi cada uma com pequenos mosaicos de stained glass, miçangas, areia de espelho e contas de vidro.


As peças de vidro foram o elo de ligação entre as tampinhas.
Sim, um guizo para finalizar. Porque eu gosto, porque é lúdico, porque me traz lembranças da juventude.

Belo! Muito belo!

Dá para usar bem próximo do pescoço.

Ou deixar mais comprido, descendo pelo colo.
A sensação de "quase lá" me diz que falta dominar essa caminho que vai desde o que existe dentro da cabeça até as mãos. É um processo curioso esse. Freqüentemente me perco nas curvas ou pego atalhos. O problema destes desvios é não chegar no destino final. A gente chega, mas chega em outro lugar.

Criar e executar também envolve disciplina e, às vezes (ou sempre), a criança interna não fica muito contente com essa história. Ela quer sair pulando e cantando, pisando em poças d'água, deitando na grama, correndo no mato, voando entre nuvens, cheirando flores para sentir se são perfumadas... Sempre há o dilema de quem deve falar mais alto: a disciplina ou a liberdade? Alguém uma vez disse que se a primeira ameaça a segunda, é o momento da segunda falar mais alto. Neste ponto a gente precisa tomar um certo cuidado para não descambar para a boa e velha putaria. Parece, então, que tudo se resolve com o famoso "meio termo". Difícil...bem difícil. É muito mais simples ficar em um ou outro extremo, mas aí não se chega onde se quer chegar. Já pensou nisso? Dilemas, meus queridos, dilemas! A boa notícia é que enquanto estamos vivos, podemos aprender. Que siga o baile!

Até a próxima!
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