Olá!

Aqui você encontra vários tipos de textos com reflexões, introspecções, filosofadas e relatos, tudo sob a luz do mosaico. Desejo inspirar você com a mesma arte que me inspira.

Uma casinha para quem quiser um lar.

Se tem uma coisa que gosto na vida é ir em loja de 1,99. Lá experimento uma rara sensação de poder: encher uma sacola sem esvaziar a carteira. Numa das vezes, entre itens de primeira necessidade, como guardanapo decorado e fita adesiva holográfica, vi uma casinha de passarinho. Bonitinha, pequenininha e baratinha. Toda "inha" que eu nem parei para pensar que talvez fosso muito "inha". Não tenho total familiaridade com a fauna local, mas pelo que vi até hoje, acho que nenhum passarinho consegue passar pelo buraco que é a porta. Mas aí lembrei que temos um Hotel de Insetos pendurado na varanda. Ele é vendido em lojas de jardinagem e a ideia é servir de abrigo para aranhas, borboletas, abelhas e quem mais achar que ali pode ser chamado de lar. Assim sendo, decidi pensar que a casa de passarinhos poderia ser uma casa de insetos. Na verdade pode ser uma casa de todo mundo. Se passou no buraco, ela é sua. Mas mesmo com o leque de potenciais hóspedes bem amplo, não resisti ao tema "pássaros" na hora de revestir com mosaico.

Sim! As tampinhas de garrafa (sempre elas!) com alguma ave estampada foram bem-vindas neste trabalho. 

As telhas do telhado são fatias de rolha. Se você toma um vinho de vez em quando, agora já sabe que dá para fazer um telhado com as rolhas. ;-)

Essa é a parte de trás. Sou só eu ou lembra a  casa de doces da história de João e Maria? 

Está vendo? É pequenininha mesmo!

Agora está lá na varanda, pendurada naquilo que eu julgava ser um suporte para vasos, mas que descobri se tratar de um suporte de cabides. Você usa a roupa e depois pendura ali. Ela toma um ar e depois você guarda a roupa de volta no armário. Lavar a roupa? Para quê?
Enquanto tentava achar um motivo que levaria um ser vivo a morar na casinha de mosaico, fiquei pensando no que precisa existir em um lugar para que a gente consiga chamá-lo de lar. Parece-me que precisa reunir mais de um atributo para surgir um lar. Lembrei dos lugares onde já morei. Em São Bernardo do Campo, o antigo apartamento era 90% um lar. Ficavam uns 10% de desconforto que a cada momento poderia vir de uma coisa diferente. Em Berlim experimentamos, talvez, 70% de lar. O apartamento era uma lástima, mas a cidade nos fez sentir parte de um todo, mesmo sendo estrangeiros. Aqui em Herrsching eu arriscaria uns 50% de lar. O apartamentinho é aconchegante, mas nunca me senti tão ET quanto nesta mini cidade. É um desconforto constante que me traz uma certeza: aqui não é o meu lugar. Sim, é tudo muito subjetivo e é exatamente esse o ponto. Outro dia tentei explicar para um amigo de Berlim, que nasceu, cresceu, ainda mora lá e é apaixonado pela Bavária, a razão de eu não me sentir bem aqui. Não deu certo. Percebi que para ele só razões concretas é que contam. Se eu dissesse que não quero morar aqui para sempre porque não tem cinema, talvez ele entendesse. Porque tem o mercado Netto, Edeka, Rewe e Norma, mas não tem Lidl e Aldi, talvez ele entendesse. Porque não tem uma loja de 1,99, talvez ele entendesse. Mas falar sobre sentimentos abstratos não foi o suficiente. Dizer que sinto que aqui não é o meu lugar porque não consigo me sentir em casa é uma justificativa totalmente sem pé nem cabeça para ele. Como o que não tem remédio, remediado está, focamos no ponto em comum: as paisagens por essas bandas são dignas de calendário. Nos despedimos com promessas de um reencontro em dezembro. Voltei para o lugar que para ele é um paraíso e para a incômoda sensação de ser uma pássaro fora do ninho. Acho que só conheço um lugar que é 100% lar e ele se chama "casa de mãe".

Até a próxima!
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