Olá!

Aqui você encontra vários tipos de textos com reflexões, introspecções, filosofadas e relatos, tudo sob a luz do mosaico. Desejo inspirar você com a mesma arte que me inspira.

O fantasma e a luz.

Ela me contou que, quando a reforma da casa estivesse concluída, gostaria de ter uma luminária elétrica num determinado canto da sala. A confiança era total, o passe era livre. Vi fotos do lugar onde ficaria e falamos um pouco sobre cores. E aí senti aquele medo! Medo de fazer uma grande cagada, medo de não ser boa o suficiente, medo de decepcionar. Quando a gente faz algo para alguém com quem temos uma relação antiga e profunda, dá a sensação de que um desleixo no trabalho significa um desleixo na relação. Sim, isso é loucura. Uma coisa não tem ligação com a outra. Mas foi isso que senti.

Há um sem fim de maneiras de fazer uma luminária. Como eu saberia que escolhi a maneira correta? Não saberia e era isso aí. Essa foi a primeira luminária com lâmpada que fiz totalmente sozinha. Nos bons tempos havia o Sr.Walter para fazer um belo suporte de ferro e a parte elétrica, enquanto eu fazia a cúpula. Sem Sr. Walter, a primeira coisa que decidi foi como seria a base: escolhi Wedi pela facilidade para recortar o local onde colocaria o soquete da lâmpada. Sobre o Wedi coloquei azulejo. Então fiz as laterais. Colei um vidro por dia, esperando a cola secar bem e evitando que os vidros saíssem do prumo. Com a estrutura pronta, comecei o mosaico. Criar é tão divertido quanto demorado. Isso não é problema. Problema é ter um demônio dentro da cabeça falando "sério que é isso mesmo que você vai fazer? Tá uma bosta isso! Jura que não dá para ficar melhor? Olha o erro que você fez aqui! Ela vai odiar...que vergonha, hein?!".

Esse fantasma de decepcionar alguém que gosto ficou enorme e travamos lutas homéricas. O mais suave que fiz foi mandar ele calar a boca. Dissemos coisas horríveis um para o outro. Terminei de montar o mosaico, rejuntei e o mal amado fantasma continuava me atormentando. Fui dando acabamento, fiz os pés da luminária com rolhas de garrafa de vinho, prendi o fio, limpei daqui e dali, coloquei a lâmpada e liguei na tomada. Caceta! Funciona! A lâmpada acendeu e mostrou uma luz linda. O conjunto da obra era bom...pelo menos para mim. Fiz as pazes com os meus erros, anotei o que poderá ser diferente da próxima vez, olhei, alisei, fotografei, olhei mais um pouco, alisei mais um pouco e depois precisei embalar e colocar na mala. Sabe quem foi junto? O fantasma! Foi com as mãos dele esmagando minhas tripas que, ao entregar a luminária, eu disse: "está tudo bem se você não gostar. Eu aceito devoluções e depois faço uma melhor". Ri-dí-cu-la. Você precisava ver o sorrisão do fantasma nessa hora...Mas aí a gente acendeu a luminária e aquele visual foi silenciando o desgraçado. Foi bom não ouvir aquela voz que no último mês gritou dentro da minha cabeça do momento que eu acordava até a hora de ir dormir.

Os materiais do mosaico são pastilhas de vidro, stained glass, gemas de vidro, contas de vidro e miçangas.
A luminária mede 26 cm de altura (contando os pés).
A parte de dentro, com a lâmpada encaixada. O interior da luminária me lembra o lado avesso de um bordado. Não parece?
Luz!
Cores! Cores! Cores!
Como é doce o bailar das cores!
Esse fantasma que tanto me exauriu durante a confecção dessa luminária é um velho conhecido meu. A gente convive desde que o mundo é mundo. Ele mora no meu lado obscuro. Quando os pensamentos estão trevosos e as emoções viscosas ele cresce, cresce muito e parece que vai me matar sufocada. A boa notícia é que a luz sempre vence a escuridão. Então, a gente não precisa esperar o momento de passagem para ir em direção à luz. A gente já pode ir para a luz aqui e agora. Não sei se isso extingue o meu fantasma. Acho que não. Mas o mantém de boca fechada.

Até a próxima!
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