Olá!

Aqui você encontra vários tipos de textos com reflexões, introspecções, filosofadas e relatos, tudo sob a luz do mosaico. Desejo inspirar você com a mesma arte que me inspira.

Os porta-retratos e o amigo leal.

 Muitas vezes eu me pego pensando sobre as pessoas que encontramos ao longo da vida. Por que será que conhecemos as pessoas que conhecemos? Veja, o planeta onde moramos tem alguns bilhões de humanos e dentre estas bilhares de possibilidades, cruzamos com algumas bem específicas. Pensando tanto nas pessoas que passam brevemente pelas nossas vidas como naquelas outras que caminham junto com a gente, lembro das palavras da Monja Coen: "tudo e todos podem ser um Buda em nossa vida". Ela continua e explica que todos podem nos ensinar alguma coisa. Alguns nos ensinam com ser e outros como não ser, num fluxo contínuo de aprendizado. Vindo de outra vertente, mas culminando no mesmo ponto, há também uma frase que me foi dita pela minha ex-dentista e eterna amiga: "somos todos anjos uns nas vidas dos outros". Ensinamos algo a alguém na mesma medida em que aprendemos algo com alguém.

Esse pensamento sobre as pessoas sempre está ativo na minha cabeça, mas quando fui fazer os porta-retratos que mostrarei a seguir, assisti a um filme do tipo "Esta é Sua Vida" na tela da minha mente. Foi o amigo MM que pediu que eu os fizesse (MM é uma pessoa discreta, por isso preservarei sua identidade). Ele é amigo do meu pai há um milhão e meio de anos. À medida que fui crescendo, posso dizer que fui criando a minha própria relação de amizade com MM. Com mais ou com menos intensidade ele sempre esteve presente em nossas vidas. MM sempre foi muito direto e falou tão claramente suas opiniões que houve um tempo em que eu tivesse medo dele, ou melhor, medo de ouvir alguma verdade bem no meio da minha cara. Hoje MM mudou quanto a isso e tenho a impressão de que faz de um tudo para que eu não me aborreça. Isso inclui ficar calado ou contar pequenas mentirinhas, como dizer que amou o pesto italiano que lhe dei de presente. Eu havia esquecido que MM detesta queijo. Detesta!!!! Mas deixando estes detalhes tragicômicos de lado, posso dizer que MM é um amigo leal. Ele sempre me apoiou desde que comecei a fazer mosaicos. E seu apoio é da forma mais foda que tem: comprando e presenteando outras pessoas. Aliás, MM faz isso com outros amigos artistas e artesãos que tem. Por isso seus presentes são sempre incríveis. Tenho bolsa, tapete e objetos de decoração que foram feitos  por mãos carinhosas e amigas, coisas cheias de significado. Essa é uma das formas que ele demonstra afeto e cuidado. MM foi até Berlim passar uma semana com a gente! Passou frio, tomou chuva, andou quilômetros a pé, subiu e desceu muita escada com seu joelho problemático,  ficou gripado e ainda foi embora agradecendo. Pior! Um passarinho me contou que MM toparia repetir a dose pelas bandas de cá! Ele também é apaixonado por cinema, amante da boa cozinha e tem as melhores dicas culturais de São Paulo. Por causa de MM, me interesso cada vez mais por coisas do Japão. Por causa dele também sei tudo o que acontece com Hauser, um violoncelista croata (ou o "cellista gato" como costumo chamar).

É por tudo isso e mais um pouco - desde a mais tenra idade tenho liberdade de mandar MM se foder numa boa - que um pedido dele é para mim uma alegria imensa. Foi nessa toada que fiz os porta-retratos.

                             

Todos foram feitos com Smalti, que é, de fato, um material belíssimo.


O design foi quase o mesmo de um trabalho de 2014 e em outras cores.


Dá um arrepio na coluna de imaginar estas peças sacolejando na infinita viagem até MM? Dá.


Mas tenhamos fé que Nossa Senhora dos Correios não nos desampare...exceto em caso de greve...


Em meio a esse movimento de pessoas que vêm e pessoas que vão, ter pessoas que ficam é um privilégio. E se entre as pessoas que ficam existirem aquelas pelas quais temos um graaande carinho, então acho que o pacote está completo e não se tem o direito de reclamar de nada. O que há de mais valioso na vida, já nos foi dado.

Até a próxima!

_______________________________________

Já visitou a minha página no Facebook? É por AQUI!

Lembranças do que não vivi

 Algumas vezes já citei que tenho o desejo de cobrir com mosaico cada centímetro das paredes brancas deste apartamentinho que moramos. O trabalho que mostro hoje nasceu para compor esse plano.

Eu queria fazer algo que conversasse com as curvas do meu querido e belo (belíssimo!) "Manifesto sobre a Assimentria" - veja AQUI - e já vinha cultivando essa ideia há algum tempo, até encontrar a peça perfeita para começar o trabalho: um espelho redondo. Na verdade encontrei dez deles em uma venda de garagem. Originalmente os espelhos eram suportes de velas para decorar mesas ou aparadores. Então tive apenas o trabalho de descolar os suportes de borracha que estavam na parte de trás. Colei o espelho num recorte de madeira e o mosaico começou a se revelar.

Posicionei o espelho em um dos vértices da base retangular, mas coloquei essa foto aqui só para enaltecer a fofurice da Antônia.

 Comecei pelas pedras vermelhas que estavam na prateleira há um tempão. Sempre que tentei inseri-las em um trabalho, acabava por desistir achando que não combinavam. Desta vez comecei por elas, assim o que viesse depois deveria harmonizar com as pedras. Acho que a estratégia funcionou. Depois das pedras vermelhas vieram as pedras prateadas. Depois vieram as pastilhas, o Vidrotil e mais algum espelho.

A inserção de textura, depois das pedras, foi muito suave.

 A minha diversão aqui foi propor uma simetria de revestimento em áreas assimétricas, mais ou menos como fiz no "Manifesto sobre a Assimetria", com a diferença que aqui a assimetria é muito evidente. 

Repetição de linhas retas e curvas.

Durante a execução, à medida que o mosaico surgia, fui observando uma estética que me transportou até algum lugar da minha infância (acho) e passei a sentir algo que se tornou a minha especialidade: saudade de alguma coisa que não sei o que é. Uma espécie de lembrança que é muito nítida quando sentida, mas totalmente abstrata e etérea para ser definida. Sabe quando você sente um aroma que lhe é muito familiar e este aroma imediatamente te faz sentir uma torrente de emoções, mas você não sabe dizer qual aroma é esse? É mais ou menos assim que eu sinto.


Depois de finalizado, explorei um pouco as várias posições que ele poderia ocupar na parede.


E até considerei colocá-lo em outro cômodo. Mas achei melhor sossegar a macacada que pulava na mente e me ater ao plano original.


Olhando a parede como está, já começo a desenhar na mente o mosaico que irá na parte de baixo...e também a ver outros espaços onde encaixarei outras coisas - para alegria da macacada que já começa a pular novamente dentro da minha cabeça.

Está ficando muito interessante, não está?

E essa alegria toda foi possível graças à Venda de Garagem, ou Mercado de Pulgas se preferir. É um evento que é bom para todo mundo. Se onde você mora isso não acontece usualmente, você pode começar um. Ou pode simplesmente oferecer aquilo que não lhe serve mais para o seu amigo criativo por um preço camarada. Que tal? Bora circular essa energia?

Até a próxima!

__________________________________________

Visite minha página no Facebook e mergulhe nas fotos de tudo que já fiz até hoje. É só clicar AQUI.