Muitas pessoas tem bastante resistência em assimilar o mecanismo de responsabilidade sobre a própria vida. Aquela velha, mas atual, história sobre as consequências das escolhas que fazemos. Andei observando e parece que há uma área onde a tendência "o problema é o mundo" parece recuar um pouquinho (algo em torno de 0,5 cm): os relacionamentos afetivos. Por mais que você passe a vida numa espécie de coma, sem envolvimento consigo mesmo, é necessária a sua vontade para estar com alguém. Pelo menos aí acredito que possa existir um consenso de que casamento* ocorre por escolha de duas pessoas.
*Considero casamento toda união estável de duas pessoas que habitam o mesmo lar. E ponto.
Se há algo que me entristece é assistir à metamorfose de comportamentos ao unir as escovas de dentes. Parece que apertam um botão, viram uma chave e dois seres diferentes aparecem. Estes ETs nada lembram os indivíduos da época de namoro. As gentilezas, as demonstrações constantes de afeto, o companheirismo, a cumplicidade, tudo isso evapora e cada um passa a incorporar uma personagem esteriotipada. Talvez por terem passado uma vida sendo doutrinados sobre deveres e obrigações de maridos e esposas, o casais nem questionam se aqueles preceitos lhe servem. Cada um entra para um time e agora são rivais. Passa a existir uma competição de quem é o melhor ou o pior na sua função, de quem é a vítima e quem é o algoz. E agora, já que o problema não é o mundo, certamente tudo é culpa do outro.
Essa é uma das maiores loucuras humanas. Nunca entendi porque se costuma exigir do cônjuge poderes paranormais para adivinhar e suprir as necessidades do parceiro. É como uma aposentadoria de inteligência emocional. Quando se mora com a família, fica muito claro que cada um tem um jeito de ser. Por mais que cultivem rotinas semelhantes cada membro tem sua individualidade. Todos fazem algum esforço para que a convivência seja a melhor possível já que valorizam o fato de estarem juntos. Por que não levar este aprendizado desenvolvido durante décadas para a vida a dois? Se a sua vida em família era um inferno, não seria má ideia procurar uma ajuda profissional para se curar destas mágoas. Vá para a vida adulta saudável, limpo, muito consciente de que ninguém jamais poderá fazê-lo feliz senão você, sem o estúpido equívoco de acreditar que o outro tem a obrigação de saber o que você não diz. Quando vejo estes descompassos, questiono se ali há amor. Não afinidade, amor mesmo, este sentimento tão imperativo que nos aproxima de pares tidos como improváveis.
Tenha uma coisa em mente: quando você ama alguém e escolhe ficar com ela, saiba que levará o pacote completo. Você não se casará apenas com o príncipe encantado ou com a princesa da torre. Casará com o príncipe que tem a barba áspera pela manhã e com a princesa que parece que engoliu um sapo quando acorda. Todos somos um emaranhado de qualidades e defeitos. Tenho para mim que, com exceção dos estados de doença, os defeitos nunca são maiores do que as qualidades. A dualidade é característica inerente do ser humano. Se você gosta apenas de uma parte, me desculpe, mas eu não chamaria isso de amor. É outra coisa. O amor tem os pés no chão e não acontece com condições. É inteiro e pleno, nos faz melhores e traz maturidade, mas para que isso aconteça precisa ser vivenciado de maneira integral.
Aqui eu iria mais à frente, casa-se com o pacote completo mesmo, pessoa amada (ou supostamente amada conforme o caso), família, gato , cachorro, passarinho etc. Ainda mais, para mim, vivenciar integralmente seria o mesmo que tentar, de uma forma diuturna e com a vontade de extinguir um dragão a cada dia, fazer o outro feliz, pois, agindo assim, com certeza não errará.
ResponderExcluirPessoalmente acredito que tudo esta na forma como vc afronta a situação. É evidente que deve haver do outro lado uma vontade idêntica, senão a balança fica fora de medida e, como tudo que pende somente para um lado, seguramente, um dia vai quebrar.
Supondo que consiga encontrar outra pessoa que pense deste jeito e realmente faça a força e as concessões necessárias para que você seja fez, será necessária a contrapartida em igual intensidade de forma capaz a anular todas as forças empreendidas pela outra pessoa no que se refere ao seu bem estar.
E ai, incidimos em uma briga constante com a sua vontade e com o que realmente deve fazer, evidente que isto nem sempre é possível em sua integralidade, ou seja, agir desta forma todo o tempo é gigantescamente complicado para um ser humano de competência psicológica média. Tiro aqui de lado as sublimes almas que estão interagindo em uma freqüência muita mais evoluída que nós, pobres mortais.
De qualquer modo, acredito que a receita ideal seria em primeiro lugar a tolerância com tudo e com todos, dizer em uma conversa franca o que lhe aflige e o que deseja realmente da outra pessoa, amar incondicionalmente e finalmente suportar a carga que lhe cabe neste latifúndio.
Pretendendo alçar vôo em um patamar mais elevado ainda, acredito que esta seria a formula mágica para se viver bem.
Por fim, e na medida do possível, creio que todos devem tentar achar a graça nas coisas, ver tudo por um lado mais romântico, tentar aproveitar cada instante como se nunca mais fosse viver aquilo (o que de fato é uma certa verdade), ver o quão importante é viver, sentir, falar, ouvir, desfrutar o papo com outras pessoas, praticar o nadismo, em suma viver a vida, pois ela é bonita, é bonita e é bonita......