Imagine uma vida que tenha durado 102 anos! Uma das primeiras coisas que vem à mente é a quantidade de acontecimentos que essa pessoa testemunhou. Várias revoluções políticas, culturais e sociais, vários regimes governamentais, vários avanços tecnológicos e uma infinidade de outros fatos que mudaram o rumo da história do mundo. Mas, por um momento, pense sob o ponto de vista humano, algo pessoal e imagine os acontecimentos cotidianos de uma vida de 102 anos. Todas as pessoas que conheceu, todas as paixões que experimentou e tantas outras que testemunhou, quantas conclusões empolgantes, quantas novidades inebriantes pode ter. Quantas vidas gerou, direta e indiretamente, quanto carinho, afeto e amor teve a capacidade de semear, quanto bem pode propagar. E como tudo tem dois lados e um deles não tem flores, quantas decepções lhe amargaram a boca, quantos desencantos lhe eclipsaram o sol, quantas despedidas reduziram seu coração a pó.
Somando a parte boa e a parte ruim, ambas certas e irrefutáveis na nossa existência, imagine quanto conhecimento foi possível adquirir ao longo de mais de cem anos. Quanto conhecimento dividido e, assim, multiplicado, quantos conselhos dados, quanta paciência e compreensão diante da inexperiência insurgente.
Tendo acompanhado pouco mais de 1/3 desta longeva existência, fico cabalmente admirada e só tenho uma palavra para descrever este processo: incrível! Quando se pensa em ciclo da vida não há melhor exemplo do que este e eu falo aqui da fileira da geração dos bisnetos, mais para o fundo do teatro. Daqui vejo que esta pequenina pessoa, que teve a audácia de viver por 102 anos fez, entre tantas, uma das coisas que mais admiro: ela foi um ponto de união. Se cada um de nós fosse uma semente ou uma conta ela certamente foi o fio que nos unia num reluzente colar totalmente heterogêneo.
Imagino cá com meus botões o que testemunharam aqueles que se sentam nas fileiras mais à frente. Viram tudo o que eu vi e muito mais! Agora precisarão lidar com o buraco físico de um espaço que não é mais ocupado. Por sorte ou providência divina isto não ocorre em suas almas onde ela permanecerá derramando seu amor e suas histórias, seu bom humor e sua irreverência. As boas lembranças duram para sempre se assim desejarmos...
Mais uma vez, como a evolução não pára, o espetáculo chega ao fim num sutil e esperado apagar de luzes. Poder olhar estes 102 anos e perceber suas ramificações faz-me reverenciar a Criação e entender que no dia de hoje presenciamos o verdadeiro milagre da vida.
... e na foto agumas dezenas (centenas?) dos milhares (milhões?) de pontinhos de crochê feitos por ela...
ResponderExcluirQue lindooo .........
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