Tenho certeza de que aprendi isto com a minha mãe. Sempre que alguém nos visita é uma ocasião solene. Não no sentido da formalidade excessiva, dos gesto medidos e da conversa evasiva, mas da importância de dividir nosso lar com aqueles que nos visitam e fazer disso um momento especial. Não tem muito segredo, apenas coloque em cada detalhe a mesma atenção e o mesmo carinho que você tem para consigo no seu dia-a-dia. Cada pessoa terá a sua maneira particular de expressar o prazer de reunir em volta da sua mesa as pessoas que lhe são importantes. O meu começa com a arrumação da mesa. Na verdade esta é a parte da qual mais gosto. Primeiro escolho uma toalha, depois é a vez da louça, a seguir talheres e copos. O acabamento é dado pelo guardanapo decorado e pelas velas para aconchegar. O resultado final dependerá da ocasião, mas sempre tem que ser alegre e colorido. Isto pronto, vou para a cozinha. Durante todo o processo penso em quem está para chegar e imagino um sorriso no rosto de cada um ao ver que tudo ali foi escolhido para aquele momento.
Acredito que a maioria de nós gosta de reunir pessoas em casa por motivos que vão além da diversão. Acredito que naturalmente gostamos de acolher, de cuidar e de dizer pelos meios mais diversos "eu gosto de você, fique aqui comigo e sinta como és importante para mim". Creio que nossa inclinação natural seja o amor e que criamos situações para evidenciar isto. Sempre nos reunimos pelo prazer de desfrutar da companhia uns dos outros. Não sejamos demasiadamente românticos para achar que a comida não tem lá o seu papel, mas ainda que falte ou sobre sal os momentos serão especialmente bons. Os melhores encontros não são aqueles que dividem nossas vidas em antes e depois, mas aquele que são ordinariamente agradáveis, possíveis de se repetir a qualquer tempo e que guardam aquela alegria cotidiana que sempre é bem-vinda. E por mais que exija um tempo que muitos de nós acreditam não ter, não há o que faça não valer a pena. Até a pia lotada ao final de tudo é um convite para já começar a lembrar os momentos recém vividos.
Atualmente, sempre que conseguimos nos reunir, tenho uma sensação de dever cumprido e de privilégio concedido pois tudo parece caminhar na direção oposta. Todos tem seus afazeres, seus horários, suas lutas e, de uns tempos para cá, os percalços mais corriqueiros são amplamente utilizados para não se estar com as pessoas. As dores no pé, na cabeça, no estômago, as provas na escola, na faculdade, o exame de sangue, a limpeza do aquário, do carburador do carro, a espinha no rosto, o cabelo teimoso, tudo o que sempre fez parte da vida toma um ar de grande tragédia e vira uma desculpa bem esfarrapada para desfalcar a mesa. Uma pena. Tiramos aquele prato e mandamos as sobras num potinho. O que não dá para requentar depois é o conforto de compartilhar as vidas de todos nós nestes momentos. Vidas que, felizmente, não são perfeitas, pois se o fossem não gerariam momentos tão ricos.
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