Nascemos e iniciamos um dos ciclos mais grandiosos entre todos os quais iremos conhecer - o da nossa própria existência. Até aquele ponto já passamos pelo ciclo da gestação e, porque não, pelo ciclo do nascimento. O tempo se desenrola e eles estão lá para marcar passagens, aprendizados, mudanças físicas, mudanças emocionais. Cada novo passo encerra um ciclo. Cada novo passo inicia um novo ciclo. De alguns somos capazes de dizer a data em que começaram, mas não temos a mínima ideia de quando irão se extinguir. Outros tem data para começar e para acabar. Alguns ciclos passam por nós de forma tão rápida e intensa que nem temos tempo de assimilar e analisar.
Começo. Fim. Recomeço. Fazem parte das verdades humanas gerais. Todos percebemos estes fatos. São incontestáveis. Acontecem conosco, seres humanos, e com toda a natureza à nossa volta. Mas, e tem sempre um mas, não conseguimos nos conformar com isso. Conscientemente sabemos que tudo acaba um dia. Não necessariamente deixará de existir. Poderá continuar, com alterações (então já é algo novo, certo?). Nos empenhamos em recordar ciclos que já se foram a fim de preservar os detalhes e ter certeza de que aquilo sim é que era bom. Presos a ciclos passados, não vivemos os ciclos presentes. Ao menos não plenamente. Sim, a infância de todos nós foi linda, mágica e, acredite, o que tornava aqueles tempos tão especiais ainda está em você. Não é necessário dedicar tanta energia para lembrar o dia no qual tirou as rodinhas da bicicleta, pois a coragem e o desejo de superação te acompanham desde aquela época. E assim ocorre com a adolescência, a juventude, a idade adulta ou quando ganhou as chaves de casa, aprendeu a dirigir, quando foi sozinho pela primeira vez ao cinema, o primeiro emprego, a primeira paixão (platônica?), o primeiro beijo e por aí afora. Isto considerando os ciclos que moldaram sua personalidade e seu caráter, pois há os supérfluos como o ciclo do cabelo comprido e liso até a cintura, o ciclo do cabelo na altura dos ombros e corte em camadas, o ciclo do Chanelzinho radical (quando você queria mudar toda a vida, encerrar vários ciclos, e, sem saber por onde começar, tosou a juba para alegria do cabeleireiro).Mas estes não fizeram você ser quem é hoje...
Pois bem, se nisto tudo não há novidade porque temos uma dificuldade tremenda em encerrar ciclos? Alguns acabam inevitavelmente pois não se pode impedir uma criança de se tornar adolescente. Outros acabam porque assim escolhemos. Decidimos nos casar, por exemplo, e encerramos um ciclo de vida avulsa para iniciar outro ciclo, de vida compartilhada. Quando são ciclos "esperados" o drama não é tão grande. A pedra entra no sapato quando é preciso terminar um relacionamento de anos. Quando se percebe que a profissão que você escolheu não lhe serve mais. Quando a cidade em que você mora lhe parece estranha e inoportuna agora. Apesar de a escolha ser encerrar um ciclo de infelicidade, todo o processo é muito sofrido. O ponto final é sempre dolorido, fincado no meio do peito. Escolhas à parte, há um fim de ciclo inevitável e indesejável trazido sempre pela morte. Mesmo que tenhamos vivido 150 anos ao lado daquela pessoa ou daquele animal ficamos com um gosto na boca de que ainda não era hora, de que o melhor da festa ainda estava por vir e mesmo que todos os ciclos anteriores tivessem sido generosos, desejamos esticar um pouco mais, nem que seja só para festejar o ótimo ciclo no qual estamos.
Acredito que nossa inabilidade em lidar com isso resida em um condicionamento que associa "fim" com "desesperança". O fim de um ciclo não é um fim absoluto, é a oportunidade de um recomeço. Claro que jamais desejamos interromper o que é do nosso gosto, mas talvez seja necessário pois naquele momento precisamos dar mais um passo rumo à evolução, que não pára nunca. Talvez precisemos exercitar mais o nosso desapego. Isto não quer dizer que não vamos mais nos afeiçoar a nada ou a ninguém, mas que tudo por aqui é passageiro. Usufruimos profundamente de incontáveis "itens" nesta vida, mas de verdade nenhum nos pertence. Viver um ciclo precavido para o seu fim é não viver. Os ciclos só valem a pena quando nos jogamos de cabeça e amamos ampla e sinceramente. Esta entrega, acredite, vale e muito a dor do fim. Quando pressentir que o final se aproxima, lembre-se que um dia você se encheu de uma coragem que nem sabia que tinha e tomou um injeção sem chorar (muito). Naquele dia você olhou para o seu (P)pai e viu como ele ficou orgulhoso de você. Naquele dia você entendeu que a simples presença (D)dele ali lhe deu a força de que precisava. Aquela força e a coragem para desvendar o que vem depois já estão em você. Apenas lembre e confie.
Para Tia Nide e Mel cujos grandiosos ciclos na Terra se encerraram recentemente....
Adri, você sempre me fazendo chorar, né?
ResponderExcluirTexto maravilhoso!
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Beijos!
Débora
Tudo bem?! Você sempre nos presenteando e nos deliciando com seus textos altamente reflexivos e seus belos trabalhos hein!
ResponderExcluirFiquei muito feliz com a sua visita lá no blog. Faço questão de te agradecer a visita e convidá-la para voltar ao blog e virar frequentadora e divulgadora. Cada vez que alguém visita, comenta, segue ou compartilha contribui para a gente fazer melhor! Sinta-se à vontade para enviar suas dúvidas, sugestões, críticas, enfim ...
Espero fazer do blog um espaço de trocas mútuas de ideias e amizades novas.
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Lele