Se tem uma coisa que gosto na vida é ir em loja de 1,99. Lá experimento uma rara sensação de poder: encher uma sacola sem esvaziar a carteira. Numa das vezes, entre itens de primeira necessidade, como guardanapo decorado e fita adesiva holográfica, vi uma casinha de passarinho. Bonitinha, pequenininha e baratinha. Toda "inha" que eu nem parei para pensar que talvez fosso muito "inha". Não tenho total familiaridade com a fauna local, mas pelo que vi até hoje, acho que nenhum passarinho consegue passar pelo buraco que é a porta. Mas aí lembrei que temos um Hotel de Insetos pendurado na varanda. Ele é vendido em lojas de jardinagem e a ideia é servir de abrigo para aranhas, borboletas, abelhas e quem mais achar que ali pode ser chamado de lar. Assim sendo, decidi pensar que a casa de passarinhos poderia ser uma casa de insetos. Na verdade pode ser uma casa de todo mundo. Se passou no buraco, ela é sua. Mas mesmo com o leque de potenciais hóspedes bem amplo, não resisti ao tema "pássaros" na hora de revestir com mosaico.
Sim! As tampinhas de garrafa (sempre elas!) com alguma ave estampada foram bem-vindas neste trabalho. |
As telhas do telhado são fatias de rolha. Se você toma um vinho de vez em quando, agora já sabe que dá para fazer um telhado com as rolhas. ;-) |
Essa é a parte de trás. Sou só eu ou lembra a casa de doces da história de João e Maria? |
Está vendo? É pequenininha mesmo! |
Enquanto tentava achar um motivo que levaria um ser vivo a morar na casinha de mosaico, fiquei pensando no que precisa existir em um lugar para que a gente consiga chamá-lo de lar. Parece-me que precisa reunir mais de um atributo para surgir um lar. Lembrei dos lugares onde já morei. Em São Bernardo do Campo, o antigo apartamento era 90% um lar. Ficavam uns 10% de desconforto que a cada momento poderia vir de uma coisa diferente. Em Berlim experimentamos, talvez, 70% de lar. O apartamento era uma lástima, mas a cidade nos fez sentir parte de um todo, mesmo sendo estrangeiros. Aqui em Herrsching eu arriscaria uns 50% de lar. O apartamentinho é aconchegante, mas nunca me senti tão ET quanto nesta mini cidade. É um desconforto constante que me traz uma certeza: aqui não é o meu lugar. Sim, é tudo muito subjetivo e é exatamente esse o ponto. Outro dia tentei explicar para um amigo de Berlim, que nasceu, cresceu, ainda mora lá e é apaixonado pela Bavária, a razão de eu não me sentir bem aqui. Não deu certo. Percebi que para ele só razões concretas é que contam. Se eu dissesse que não quero morar aqui para sempre porque não tem cinema, talvez ele entendesse. Porque tem o mercado Netto, Edeka, Rewe e Norma, mas não tem Lidl e Aldi, talvez ele entendesse. Porque não tem uma loja de 1,99, talvez ele entendesse. Mas falar sobre sentimentos abstratos não foi o suficiente. Dizer que sinto que aqui não é o meu lugar porque não consigo me sentir em casa é uma justificativa totalmente sem pé nem cabeça para ele. Como o que não tem remédio, remediado está, focamos no ponto em comum: as paisagens por essas bandas são dignas de calendário. Nos despedimos com promessas de um reencontro em dezembro. Voltei para o lugar que para ele é um paraíso e para a incômoda sensação de ser uma pássaro fora do ninho. Acho que só conheço um lugar que é 100% lar e ele se chama "casa de mãe".
Até a próxima!
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