Um dos aspectos que chama minha atenção nessa caminhada longe de casa é observar a interação entre concidadãos. Acredito que, por termos nascido em um mesmo país e falarmos um mesmo idioma, iniciamos o primeiro contato em um ponto que está em qualquer lugar, exceto no começo. Já pressupomos um punhado de coisas que têm muita chance de não serem verdade e calibramos as expectativas em patamares totalmente equivocados. Ao final do encontro normalmente tenho aquela impressão de que não, nós não falamos a mesma língua e o único ponto comum entre nós é o que está grafado em nossos documentos. Mas isso, infelizmente, não serve para muita coisa.
Só pude perceber esta obviedade de maneira mais clara após um jantar com um casal que imigrou da Turquia e um casal que imigrou da África do Sul. De comum entre nós havia apenas o fato de pertencermos todos à espécie humana. Este foi o ponto de partida e é o que deveria ser sempre, pois assim expandimos a nossa empatia e nos colocamos receptivos àquele que está à nossa frente. Isso, somado ao respeito, proporcionou uma conversa franca e profunda entre seis pessoas de realidades totalmente distintas e que terminou após quatro horas porque o restaurante precisava fechar. Deste dia em diante, passei a observar o quanto destes elementos - empatia e respeito - havia nos encontros com os conhecidos da mesma nacionalidade que a minha. Não foi por acaso que encontrei em maior quantidade na interação que temos com a vizinha brasileira. Nascemos no mesmo país, na mesma década e só. Nascemos em estados diferentes, tivemos trajetórias de vida totalmente diferentes, dinâmicas familiares diferentes, relacionamentos diferentes, gostos diferentes, profissões diametralmente diferentes e ainda assim existe algo ali que faz com que tenhamos vontade de nos reunirmos de quando em quando. Minha teoria é que isso só é possível porque entre nós há respeito e empatia.
Foi após um de nossos encontros que senti uma espécie de urgência em agradecer pela convivência, pelo acolhimento, pelo companheirismo e...pelo RESPEITO. A maneira mais íntima que tenho de fazer isso é com o meu ofício. Então decidi que seria um colar, já que a vida é impermanente e um colar não pesa na bagagem quando chegar o dia de deixar a pérola do Ammersee.
O primeiro impulso foi usar uma tampa de garrafa, mas achei que seria pequeno demais. Então, na cesta dos recicláveis, passei a mão numa lata de conserva, arranquei-lhe a tampa e dela saiu a base do pingente.
Recortei um quadrado e dobrei as bordas para receber o mosaico. |
Escolhi os materiais que achei que combinariam com o estilo contemporâneo da presenteada: stained glass, ouro Orsoni e pastilhas van Gogh. Depois veio a parte mais gostosa (e a que leva mais tempo) - criar! Uma vez definido o design é só uma questão de execução e acabamento.
Os materiais com os quais fiz o mosaico são novos, mas todo o resto é reutilizado. Além da tampa de alumínio para a base, o cordão de algodão encerado e as contas vieram das bijouterias doadas pela minha mãe. Se reutilização não é uma grande barato, eu não sei o que é.
Deixei o cordão longo pois acho mais fácil de usar com um pingente grande como esse. Mas é só mudar o nó de lugar para usar o pingente sobre o colo.
Cobri o metal e a cola aparente com a boa e velha mistura de purpurina e Goma-Laca, deixando tudo dourado.
Presenteei a vizinha e agradeci por tornar nosso cotidiano mais suave e mais interessante. Por alguma razão nossos caminhos se cruzaram. Que bom que temos sido capazes de fazer desse encontro algo enriquecedor. Que assim seja enquanto estivermos próximos. Quando não estivermos mais, que a lembrança seja embalada em carinho.
Até a próxima!
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