Aqui na sala onde fica minha mesa, comecei a compor uma parede com os meus trabalhos. No começo a questão era apenas encontrar uma maneira agradável de dispor os mosaicos que iam nascendo. Mas, a partir de um momento, os mosaicos começaram a nascer para integrarem essa composição. Com a ordem das coisas invertida, estava na minha mira um trabalho que abrigasse um espelho redondo e que preencheria o último grande espaço vago. Já sabia que o espelho seria disposto no canto superior direito de uma base retangular. Assim, esta peça faria o contraponto com o outro mosaico com espelho que habita a parede.
Com a base montada, precisava de um ponto de partida. Já havia decidido que algum conteúdo do pote de sucatas deveria fazer parte deste mosaico. O motivo? Precisava esvaziar um pouco o tal pote. De lá tirei moedas, uma arruela, um filtro antigo de cafeteira italiana e um zíper. A ideia inicial foi essa:
Sobre o filtro da cafeteira, colei canutilhos e um broche. Sobre a arruela, canutilhos e contas de vidro. Nas moedas, mais canutilhos. |
Deste momento em diante trabalhei das bordas para dentro. Meu desejo maior foi ter todo o tempo do mundo para fazer tantos detalhes quantos fossem surgindo na mente. A cada nova fase, um novo humor. Os diferentes estados de espírito ficaram encravados na argamassa. Teve tudo, tudo o que você pode imaginar que seja possível sentir no mundo que temos hoje.
Teve desejo de acolhimento, de comunhão, de dias com mais brilho no olhar. |
Teve o momento de querer estar na natureza, aprendendo sobre nós através dela. |
Teve desejo de ir além de nossas barreiras físicas, ser mais etérea, mais inteligente, compreender o todo. |
Teve a angústia roubando o ar. Teve o esforço para respirar...devagar, com ritmo e consciência. Tentativa de pensar melhor. |
Teve momento de não querer pensar e, principalmente, não querer sentir, com medo de que o coração não aguentasse. |
Teve o momento de perceber que o fundo do poço tem porão e de buscar ajuda para tentar tirar o mastodonte que está sentado há séculos sobre o meu peito. |
Teve tentativa de se reorganizar, entendendo que essa tentativa tem que ser repetida todos os dias. |
Teve apoio e acolhimento das amigas. Nos escoramos umas nas outras, porque não está fácil...por meio de uma delas veio a indicação do poema tão preciso. Empatia. |
Ao concluir o mosaico, entendi que ele foi feito não pela junção de vidro, metal, madeira, cimento...ele foi feito com o amálgama deste emaranhado de emoções agudas e mal endereçadas que estão em mim. Uma mistura de extremos opostos, de conflitos, de antônimos. Ele me denuncia sem nenhum constrangimento.
Ao contemplá-lo, me vejo. Os últimos meses foram ruidosos dentro da cabeça. Aversão. Compreensão. |
É isso o que acontece quando a gente resolve criar, não importa o que esteja acontecendo: nos revelamos cruamente para nós mesmos.
A parede recebeu mais uma peça do quebra-cabeça. Mais um retrato colorido de um momento específico.
Ainda há outros espaços a preencher. Novos capítulos de uma velha história. |
Sigamos, colegas, sigamos...
Pausando. Respirando. Respeitando. Ajudando. Sendo ajudado.
Cuidem-se bem para que possamos nos encontrar na próxima. Até lá!
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Tá bonito! Mas tá muito bonito! Mas tá muito, muito, mas muito bonito mesmo!
ResponderExcluirMil vezes agradeço!
ExcluirNão sei se acho bonito, só sei que é bom de olhar, mesmo sem compreender. A combinação de cores me acalma.
ResponderExcluirNão sei se acho bonito, só sei que é bom de olhar, mesmo sem compreender. A combinação de cores me acalma.
ResponderExcluirEu acredito que é sobre isto, sabe? Não precisamos ter um entendimento racional de tudo o que nos cerca. Muito menos categorizar tudo. Há outras formas de captar o que vemos, ouvimos, lemos...formas talvez mais sutis, mas também essenciais.
ExcluirUm grande abraço!