O episódio Charles de Gaulle
A hoje vizinha havia se mudado há pouco tempo para a região e ainda morava em um hotel enquanto procurava apartamento para alugar. Conta ela que, certo dia, enquanto dava aquela boa relaxada no esqueleto, alguém abriu a porta do quarto. Tomada por um susto sem tamanho, ela levantou prontamente da cama já perguntando "quem é?". Não deu tempo de ver as feições do invasor, que saiu em disparada dizendo "Charles de Gaulle! Charles de Gaulle! Charles de Gaulle!". Minutos depois o telefone do quarto toca. É a recepção pedindo milhões de desculpas. Houve um equívoco nas reservas e a chave do quarto ocupado pela hoje vizinha foi dada a um novo hóspede. Para tornar a desculpa mais crível, o hotel ofertou à hóspede invadida uma garrafa de espumante de primeiríssima qualidade. Achei justo.
Quando ela nos contou o ocorrido, supusemos que o invasor não teria dito "Charles de Gaulle", mas sim "Entschuldigung!", que signifa "desculpa" em alemão. A hoje vizinha fez uma carinha de que finalmente as coisas faziam mais sentido. Brindamos, nos deliciamos e eu pedi se poderia ficar com a garrafa, tão ancuda e pescoçuda. Pedido atendido, a garrafa foi para a prateleira dos materiais.
A ansiedade e o mosaico.
Atualmente deixo para fazer uma garrafa quando quero colocar as coisas de dentro da cabeça em ordem.
Ano novo, problemas velhos, achei que uma garrafa seria a melhor forma de começar janeiro. Olhei a prateleira e escolhi justamente a garrafa "Charles de Gaulle". Suas formas marcantes seriam um bom estímulo. Porém, desta vez, não queria que a já companheira íntima, a ansiedade, atrapalhasse a minha brincadeira. Propus uma regra para mim: não faria nada correndo. Levaria o tempo que fosse preciso para fazer o mosaico. Se desse um branco, faria uma pausa e só seguiria adiante quando surgisse a ideia. Fiquei muito vigilante e parei o trabalho inúmeras vezes. Fazendo isso, descobri que a ansiedade em terminar logo vem do fato de que há muitas ideias na cabeça e a torneira por onde elas saem tem uma vazão muito pequena. Então fica aquela pressão desgraçada, um desejo de tornar real tudo o que habita a imaginação. Impossível, não é, amores? Totalmente impossível.
O fato é que fazendo as pausas necessárias para não colocar a carroça na frente dos bois, levei quase um mês para terminar o mosaico. Um mês! Qual o ponto positivo? Tenho apenas um arrependimento no trabalho como um todo: a cor do rejunte. Normalmente são vários arrependimentos. O ponto negativo é que levou um mês para fazer um trabalho de aparência ordinária, ou seja, não é pior e nem melhor do que os demais. Então concluí algo bem estranho: talvez não valha muito a pena querer controlar a ansiedade a ferro e fogo. Quero dizer, o fato de eu deixar para continuar o trabalho quando estivesse mais tranquila e pensando com mais clareza não me levou a um resultado melhor. Se tiver algum analista lendo isso, por gentileza, me conte o que Freud diria.
Enquanto aguardo o meu diagnóstico, vamos aos fatos:
Ei-la, senhoras e senhores,a rainha de janeiro! |
O bom e velho puxador rosqueado na rolha como tampa. Agora desça um pouco o seu olhar e veja que belo desenho as miçangas formaram ali em baixo. |
Cada coluna da garrafa teve uma cor guia. Foram quatro no total: laranja, rosa, roxo e verde. |
Usei conchas pintadas por toda a volta. |
Para o mosaico desta garrafa usei pastilhas de vidro, miçangas, contas, canutilhos e conchas. A questão do rejunte é que se ele fosse uma tonalidade mais escura, acredito que as cores ficariam mais vibrantes. Da forma como ficou, a garrafa tem uma delicadeza que eu não desejei que tivesse. Mas, como alguém já disse em vários lugares, tudo é aprendizado. Por aqui, lição aprendida e anotada.
Espero que o ano de vocês, até este meio de fevereiro, tenha sido estável. Se não melhorou nada em relação ao nefasto 2020, que pelo menos não tenha piorado. Torço por isso!
Até a próxima!
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