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Vizinhança, vasos e apego.

 O diagrama é o seguinte: a vizinha, que agora é vizinha minha, tem uma vizinha de quando não era vizinha minha. Passada a fase de reclusão da pandemia a ex-vizinha da agora vizinha minha decidiu festejar o próprio aniversário em grande estilo. Comemorações especiais pedem presentes especiais, certo? Foi então que a vizinha, a minha, me pediu para fazer um presente para a vizinha, que um dia foi dela (parece que uma vez vizinha, sempre vizinha).

Ponderamos juntas o que caberia para a ocasião. Algo marcante, que pudesse estar sempre em uso, ser sempre visto. Então decidimos por um par de lâmpadas-vaso, onde a lâmpada maior media 14 cm de altura e menor, 11cm. Para o estilo me foi dada carta branca. Isso seria a certeza de que o resultado teria um aspecto completamente diverso da estética local, afinal, para que servem os amigos estrangeiros senão para apresentar lampejos de um outro mundo?

Abri a porta de um universo onírico só meu e dali peguei o que precisava. Durante o trabalho fui contemplando meus desejos, cada vez mais, e um apego foi surgindo ali. Um desejo de posse ou de proteção, não sei. Fato é que quando os dois pequenos vasos ficaram prontos fiquei com muita pena de deixá-los ir, pena de irem para um local onde não fossem totalmente compreendidos. Cogitei recusar pagamento e pagar para não entregar. Pareceu racionalmente absurdo, ainda que emocionalmente plausível. Acabei por cumprir o combinado, ficando com a consciência tranquila e o coração ruído. Esta dor vem da percepção que tenho de que eu e os teutões da região que hora habito, temos sensos estéticos diametralmente diferentes. Isto significa que a pessoa presenteada jamais, nem vivendo mil anos, verá ali o mesmo que eu vejo. E isso me parece um desperdício sem propósito. Mas...isso não é problema de ninguém, a não ser meu. Eu que resolva minhas dores na terapia.

Esta é a lâmpada-vaso maior.

A parte lateral.

A parte de baixo.

A lâmpada-vaso menor.

A parte de trás.

A parte de baixo.

A transação foi realizada conforme o combinado. A vizinha, que agora é minha, gostou do que comprou. Resolvi pensar que isto basta e não perguntei se a ex-vizinha, a que foi presenteada, ficou feliz com o presente. Se a resposta fosse negativa, eu sofreria e teria vontade de ir até ela resgatar os vasinhos. Se a resposta fosse positiva, seria insuficiente para diminuir o abismo colossal que abrange nossas visões de mundo.

É...parece que apego e sofrimento caminham lado a lado.

Até a próxima!


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