Olá!

Aqui você encontra vários tipos de textos com reflexões, introspecções, filosofadas e relatos, tudo sob a luz do mosaico. Desejo inspirar você com a mesma arte que me inspira.

Será que te conheço?

    Quando abriram-se os portais da Era de Aquarius tomei como certo que mergulharíamos num grande bolsão de esperanças, de regeneração e evolução. Ingênua? Pode ser. Afoita, imediatista? É, acho que é esse o caso. Contudo não vi nenhuma placa que indicasse declive tão acentuado à frente. E é aí que não entendi mais nada. Sinto que tomamos o caminho inverso às estradas de serenidade, compreensão, amor fraterno e toda essa turma. O caminho está tão diferente do que eu imaginei que acabei eu mesma assustada com minha intolerância. É tudo tão extremo que não sei para que lado ir. Não consigo me identificar com a nova ordem e por vezes, muitas vezes, prefiro fechar portas e janelas para não ver o que está fora. O motivo é simples: percebi que não consigo lidar com o que está lá. Não sei nem por onde começar. Assusta-me a indignação que cresce desacompanhada de ações. Todos se revoltam em relação a tudo, 80% das vezes com razão, afinal não há mais lugar neste mundo para uma série de coisas. Que bom, então? Não, afinal esta movimentação toda não tem sido acompanhada por atitudes que ajudariam a solucionar os problemas. Fala-se muito, muito mesmo e o tom é alto. Mas as palavras se perdem, sem significado real.
    Assim, com uma sensação prá lá de esquisita, não consigo mais reconhecer as pessoas que achava que conhecia. Arregalo os olhos para tentar enxergar algo que certamente não vi até até então e tento entender como é possível exaltar monstros do passado para expressar a insatisfação com o presente. Ao voltar a respirar após o sopetão, permaneço estarrecida com a minha dúvida: eu também integro este grupo que aos meus olhos parece sinistro, indesejado, mau amado? Caramba! E agora? Agora fica ainda mais evidente a solidão, pois no final de tudo estamos realmente sozinhos, sempre. Não importa o tamanho do seu círculo de convívio, no apagar das luzes estamos sós, eu comigo, você cosigo e ninguém pode salvar ninguém das próprias verdades, dos próprios medos, das próprias perguntas...e respostas. O caminho da cada um é trilhado apenas com dois pés. Mas a ilusão de que não é assim reconforta bastante e ter isso se esvaindo um pouco mais a cada dia me entristece.
    Você também se sente assim? Sente que estamos em uma espécie de "stand by", num entardecer incompleto na expectativa de não se sabe o quê? Sente que tudo se desintegra velozmente? Que não conseguimos desatar as amarras que nos impedem de agir?


Você conhece o Mosaico Estrutural?

    Quem anda mais pelo Facebook do que por aqui certamente responderá que sim. Mas para quem já perdeu, ou nunca teve, paciência para as redes sociais eu faço questão de apresentar. Trata-se uma técnica criada pelo artista Marcelo de Melo onde o mosaico não é apenas decorativo, mas atua na sustentação do trabalho. O resultado são peças de beleza e formas inesperadas.
    Agora vamos por partes. Recomendo, e muito, que você conheça o trabalho do Marcelo, este brasileiro que já está há mais tempo fora do que dentro do Brasil. Visite o site: www.mdemelo.com . Por aí você poderá perceber a versatilidade da expressão artística dele. Se você está no Facebook, pesquise "Structural Mosaics Workshops" e veja a produção resultante dos cursos que aconteceram nos meses de março a abril aqui no Brasil.
    Isto posto, vamos aos devaneios que povoaram esta pessoa durante o workshop que aconteceu em São Paulo, em março. O curso foi em território conhecido, o ateliê da Tânia Kassya (conheça aqui), mesma cena do crime do curso da Orsoni de 2011. Assim eu sabia que seria muito bem recebida, mas não sabia muito bem o que esperar do workshop. Ainda bem! Porque a experiência foi bem intensa. Primeiro me encantei com a técnica em um nível superlativo porque ela permite criações prá lá de livres. Não há limites e logo nos primeiros instantes já dá para perceber isso. Eu não estava me vendo, mas acho que devo ter feito uma cara de criança na loja de doces quando me dei conta de que o céu não era a linha final. Apenas tomei o cuidado de não viajar demais na maionese, mesmo com a tentação sendo grande, para poder terminar a peça durante o curso, aproveitando ao máximo as orientações do professor em cada fase do projeto.
    Meu segundo encantamento foi justamente com o professor. Em todo meio é comum encontrar quem suba no salto Luís XV quando domina o assunto. Em mosaico isto não é diferente e existem histórias pavorosas de professores que jogam o material do aluno no lixo (literalmente) por não ser o que há de melhor no planeta. Só que o Marcelo é o oposto disso e mostrou-se imensamente humilde e acessível. O que mais um aluno pode querer? De uma sensibilidade amorosa, entendeu e respeitou o processo criativo de cada um, embarcando inteiramente no universo alheio para poder orientar de maneira específica. 
    Então vamos às fotos!
Acima - com a base pronta, recebo a orientação de como transpor minha idéia rascunhada no papel para uma superfície 3D.

Abaixo - dá-lhe revestimento! E...um dos lados ficou pronto.

Abaixo - parecendo um espectro do outro mundo, com a mão na massa trabalhando o outro lado.

E depois da última tessela aplicada, recebendo o certificado.

    Foi uma semana que me abasteceu de inspiração, que abriu minha mente um pouco mais, que reforçou minhas convicções, que me fez mudar de opinião (adoooooro!!!!) sobre algumas coisas e acreditar ainda mais em outras. Fiquei flutuando uns dias depois, com aquela sensação de gratidão que brota bem no centro do peito.

    O acabamento fiz em casa e a peça ficou assim:

Enquanto fotografava, achei que dava para explorar ainda mais as formas. Então desci para o jardim e te convido a enxergar com os meus olhos:




    Não sei você, mas eu acho demais poder dar esta sensação de leveza e movimento a algo tão sólido. Vivas à técnica e ao seu criador!