Olá!

Aqui você encontra vários tipos de textos com reflexões, introspecções, filosofadas e relatos, tudo sob a luz do mosaico. Desejo inspirar você com a mesma arte que me inspira.

O Vaso restaurado.

Este vaso foi feito em 2016, ou seja, ontem (clique AQUI para ler sobre o nascimento dele). Foi o primeiro que fiz usando tampinhas de garrafa. Na ocasião, achei que fazia muito sentido amassá-las para depois colá-as ao vaso. Hoje, honestamente, não acho que esse seja o melhor caminho...

O vaso com tampinhas na ocasião de seu nascimento.

O que deu errado não foi amassar as tampinhas, mas não ter retirado aquela borrachinha que vem grudada na parte de dentro. Ledo engano. O adesivo aderiu à borracha e não à tampinha. Com o passar dos anos o óbvio aconteceu: uma tampinha se soltou. Por motivo de preguiça pura tentei dar o truque e apenas recolar a tampinha, desta vez sem a borracha. Tarde demais. O rejunte já havia rachado e o reparo durou pouco tempo. Começou então um tipo de efeito cascata. A cada vez que eu mexia no vaso o mosaico da borda ia ficando mais frágil. Até aí eu me contentava em virar o lado quebrado para a parede e seguir o baile. Então descobri que há algo que me afeta mais do que um mosaico capenga - planta triste.

Originalmente o vaso foi feito para abrigar um pé de gengibre. Depois de um tempo o gengibre ganhou a companhia da cúrcuma. Aí achei que a dupla tinha morrido e plantei ali a Ciclame, a fim de salvá-la de depressão de uma vaso minúsculo. A Ciclame foi muito bem. Cresceu e deu flor...até que o gengibre e a cúrcuma reapareceram. Eu, na minha inocência botânica, desconhecia a motivação dos rizomas. O gengibre e a cúrcuma não tinham morrido, apenas estavam numa espécie de entressafra. O problemas é que as três plantas têm necessidades distintas de rega. Resultado: a Ciclame voltou a deprimir-se. Então tirei-a deste vaso para um outro novo, que não abrigasse nenhuma surpresa oculta e continuei conformada em apenas esconder a parte estragada do vaso. Mas aí, não sei se foi efeito da terapia ou o famoso fogo no rabo, achei que isso era uma pouca vergonha. Lá fui eu tirar a cúrcuma e o gengibre da terra, colocá-los na água e restaurar o vaso. Esse tal restauro, meus anjos, durou alguns meses. Sempre surgia alguma coisa que parecia mais importante. Os rizomas (agora eu já estava íntima deles) estavam bem na água, criando novas raízes, de forma que isso contribuía para minha falta de urgência com o vaso. Meu único avanço na obra havia sido remover o que estava e o que não estava solto na borda.


Contudo, esta que agora aqui se confessa, começou a respirar outros ares. Comecei a aprender crochê. Isto me deu uma empolgação para atender outros desejos antigos e me increvi num curso online de Upcycling de Roupas. Fui fazendo as aulas, os exercícios e chegou a hora de fazer o projeto de final de curso. Aí voltamos para o vaso, coitado, emborcado sobre a mesa. Mesa essa da qual precisarei de cada centímetro.

Com motivos mais do que abundantes fui finalmente para a restauração. Refiz o mosaico da borda numa diposição um pouco diferente da original e cobri toda a borda com tampinhas douradas. Hava Nagila!!!




Quantos às plantas, é com pesar que comunico o falecimento do gengibre. Fui tirar uma folha seca e quebrei o caule numa fratura mortal. Como sobrou apenas a cúrcuma, cedi a vez no vaso restaurado para a Flor de Maio. Sempre leal e sintonizada, ela nunca deixou de florir, nem mesmo este ano quando já dava sinais de cansaço pela falta de espaço no pequeno vaso onde residia. Agora ela está no vaso das tampinhas devidamente restaurado, a cúrcuma está no vasinho que era da flor de maio e eu finalmente tenho a mesa livre para fazer meu projeto de Upcycling.


É, colegas, o "x" da questão é descobrir o estímulo que funciona para a gente.

Até a próxima!

__________________________________________

Quer ver mais vasos que eu fiz? Corra lá no Facebook que tem um álbum só deles :-) Vai por AQUI.

O carro, a bandeja e a pequenez do mundo.

Você já ouviu o ditado que diz que o mundo todo tem 300 pessoas e o resto é figurante? Isso explicaria porque de quando em quando esbarramos com alguém que conhece alguém que nos conhece. Daí a necessidade de andar direito na vida ou assumir o risco de ter sua reputação jogada na lama. É basicamente isso que me impede de sair de pijama sob o casaco para dar aquela corridinha na farmácia. Pois bem, sabendo que somos este punhadinho de gente no planeta, era de se esperar (mas na verdade, não) que alguém que estivesse em Herrsching quisesse conhecer o meu trabalho. Não qualquer alguém, mas alguém que já sabia que eu faço mosaico porque conhece a minha mãe e, por meio dela, já havia visto fotos dos meus trabalhos no Facebook. Como se não fosse cruzamento suficiente de destinos, a futura cliente estava passando ums dias na casa de uma amiga aqui na cidade, mais especificamente a dois quarteirões de onde moramos. Foi assim que nos encontramos.

O pedido era um presente de casamento. Tendo o casal a vida já estabelecida, precisaríamos pensar em algo muito personalizado. Pensando em gostos, na casa e tudo mais, decidiu-se por uma bandeja com a figura do carro Hummer, uma paixão do noivo. Outro detalhe importante era a cor, preferida do casal para tudo na vida: preto. Não só a cor do carro, mas da peça toda.
Com tudo definido, bora trabalhar! O material escolhido foi o Smalti italiano. Como a bandeja é uma peça utilitária, houve a necessidade de colocar uma placa de vidro sobre o mosaico. Para tanto coloquei 12 pedacinhos de madeira distribuídos pelas as bordas e peloo meio da superfície da bandeja para servirem de apoio para o vidro. 
Além do preto, usei também o tom mais ecuro de marrom e o tom mais escuro de cinza. Alguns outros tons de cinza para detalhes e nuances e ouro branco para o contorno
Este pedido me tirou por bons momentos do calor egóico onde cada tessela é sobre mim e relembrou a delicadeza que é fazer um mosaico sobre o momento de outra pessoa, com outro olhar e outro querer. Um pedido nascido do afeto para celebrar o afeto.
Acima você vê abandeja prontinha e brilhando. A seguir, o vidro foi colocado.
Um viva aos noivos! Que a união prossiga, longeva, saudável, vibrante e afetuosa.

Um viva aos caminhos que se cruzam, nunca ao acaso, e ao que surge destas intersecções!

Até a próxima!
_________________________________________
Para conhecer outros trabalhos meus, navegue pelo Blog ou visite minha página no Facebook. É só clicar AQUI.

O espelho, as miçangas e o frangalho emocional.

 Aqui na sala onde fica minha mesa, comecei a compor uma parede com os meus trabalhos. No começo a questão era apenas encontrar uma maneira agradável de dispor os mosaicos que iam nascendo. Mas, a partir de um momento, os mosaicos começaram a nascer para integrarem essa composição. Com a ordem das coisas invertida, estava na minha mira um trabalho que abrigasse um espelho redondo e que preencheria o último grande espaço vago. Já sabia que o espelho seria disposto no canto superior direito de uma base retangular. Assim, esta peça faria o contraponto com o outro mosaico com espelho que habita a parede.

Com a base montada, precisava de um ponto de partida. Já havia decidido que algum conteúdo do pote de sucatas deveria fazer parte deste mosaico. O motivo? Precisava esvaziar um pouco o tal pote. De lá tirei moedas, uma arruela, um filtro antigo de cafeteira italiana e um zíper. A ideia inicial foi essa:

 


Achei que era um bom começo. O passo seguinte foi pintar estas peças e adicionar detalhes. No momento de colar decidi por não colocar o zíper e o visual foi este:

Sobre o filtro da cafeteira, colei canutilhos e um broche. Sobre a arruela, canutilhos e contas de vidro. Nas moedas, mais canutilhos.

Deste momento em diante trabalhei das bordas para dentro. Meu desejo maior foi ter todo o tempo do mundo para fazer tantos detalhes quantos fossem surgindo na mente. A cada nova fase, um novo humor. Os diferentes estados de espírito ficaram encravados na argamassa. Teve tudo, tudo o que você pode imaginar que seja possível sentir no mundo que temos hoje.

Teve desejo de acolhimento, de comunhão, de dias com mais brilho no olhar.

 
Teve o momento de querer estar na natureza, aprendendo sobre nós através dela.

Teve desejo de ir além de nossas barreiras físicas, ser mais etérea, mais inteligente, compreender o todo.


Teve a angústia roubando o ar. Teve o esforço para respirar...devagar, com ritmo e consciência. Tentativa de pensar melhor.

Teve momento de não querer pensar e, principalmente, não querer sentir, com medo de que o coração não aguentasse.

Teve o momento de perceber que o fundo do poço tem porão e de buscar ajuda para tentar tirar o mastodonte que está sentado há séculos sobre o meu peito.

Teve tentativa de se reorganizar, entendendo que essa tentativa tem que ser repetida todos os dias.

Teve apoio e acolhimento das amigas. Nos escoramos umas nas outras, porque não está fácil...por meio de uma delas veio a indicação do poema tão preciso. Empatia.

Ao concluir o mosaico, entendi que ele foi feito não pela junção de vidro, metal, madeira, cimento...ele foi feito com o amálgama deste emaranhado de emoções agudas e mal endereçadas que estão em mim. Uma mistura de extremos opostos, de conflitos, de antônimos. Ele me denuncia sem nenhum constrangimento.

Ao contemplá-lo, me vejo. Os últimos meses foram ruidosos dentro da cabeça. Aversão. Compreensão.

É isso o que acontece quando a gente resolve criar, não importa o que esteja acontecendo: nos revelamos cruamente para nós mesmos.

A parede recebeu mais uma peça do quebra-cabeça. Mais um retrato colorido de um momento específico.

Ainda há outros espaços a preencher. Novos capítulos de uma velha história.


Sigamos, colegas, sigamos...

Pausando. Respirando. Respeitando. Ajudando. Sendo ajudado.

Cuidem-se bem para que possamos nos encontrar na próxima. Até lá!

__________________________________________

Visite minha página no Facebook e veja uma galera de fotos incrível de todos os meus trabalhos. É só clicar AQUI.

Charles de Gaulle, a ansiedade e o mosaico.

 O episódio Charles de Gaulle

A hoje vizinha havia se mudado há pouco tempo para a região e ainda morava em um hotel enquanto procurava apartamento para alugar. Conta ela que, certo dia, enquanto dava aquela boa relaxada no esqueleto, alguém abriu a porta do quarto. Tomada por um susto sem tamanho, ela levantou prontamente da cama já perguntando "quem é?". Não deu tempo de ver as feições do invasor, que saiu em disparada dizendo "Charles de Gaulle! Charles de Gaulle! Charles de Gaulle!". Minutos depois o telefone do quarto toca. É a recepção pedindo milhões de desculpas. Houve um equívoco nas reservas e a chave do quarto ocupado pela hoje vizinha foi dada a um novo hóspede. Para tornar a desculpa mais crível, o hotel ofertou à hóspede invadida uma garrafa de espumante de primeiríssima qualidade. Achei justo.

Quando ela nos contou o ocorrido, supusemos que o invasor não teria dito "Charles de Gaulle", mas sim "Entschuldigung!", que signifa "desculpa" em alemão. A hoje vizinha fez uma carinha de que finalmente as coisas faziam mais sentido. Brindamos, nos deliciamos e eu pedi se poderia ficar com a garrafa, tão ancuda e pescoçuda. Pedido atendido, a garrafa foi para a prateleira dos materiais.

A ansiedade e o mosaico.

Atualmente deixo para fazer uma garrafa quando quero colocar as coisas de dentro da cabeça em ordem. 

Ano novo, problemas velhos, achei que uma garrafa seria a melhor forma de começar janeiro. Olhei a prateleira e escolhi justamente a garrafa "Charles de Gaulle". Suas formas marcantes seriam um bom estímulo. Porém, desta vez, não queria que a já companheira íntima, a ansiedade, atrapalhasse a minha brincadeira. Propus uma regra para mim: não faria nada correndo. Levaria o tempo que fosse preciso para fazer o mosaico. Se desse um branco, faria uma pausa e só seguiria adiante quando surgisse a ideia. Fiquei muito vigilante e parei o trabalho inúmeras vezes. Fazendo isso, descobri que a ansiedade em terminar logo vem do fato de que há muitas ideias na cabeça e a torneira por onde elas saem tem uma vazão muito pequena. Então fica aquela pressão desgraçada, um desejo de tornar real tudo o que habita a imaginação. Impossível, não é, amores? Totalmente impossível.

O fato é que fazendo as pausas necessárias para não colocar a carroça na frente dos bois, levei quase um mês para terminar o mosaico. Um mês! Qual o ponto positivo? Tenho apenas um arrependimento no trabalho como um todo: a cor do rejunte. Normalmente são vários arrependimentos. O ponto negativo é que levou um mês para fazer um trabalho de aparência ordinária, ou seja, não é pior e nem melhor do que os demais. Então concluí algo bem estranho: talvez não valha muito a pena querer controlar a ansiedade a ferro e fogo. Quero dizer, o fato de eu deixar para continuar o trabalho quando estivesse mais tranquila e pensando com mais clareza não me levou a um resultado melhor. Se tiver algum analista lendo isso, por gentileza, me conte o que Freud diria.

Enquanto aguardo o meu diagnóstico, vamos aos fatos:

Ei-la, senhoras e senhores,a rainha de janeiro!

O bom e velho puxador rosqueado na rolha como tampa. Agora desça um pouco o seu olhar e veja que belo desenho as miçangas formaram ali em baixo.


Cada coluna da garrafa teve uma cor guia. Foram quatro no total: laranja, rosa, roxo e verde.

Usei conchas pintadas por toda a volta.

Para o mosaico desta garrafa usei pastilhas de vidro, miçangas, contas, canutilhos e conchas. A questão do rejunte é que se ele fosse uma tonalidade mais escura, acredito que as cores ficariam mais vibrantes. Da forma como ficou, a garrafa tem uma delicadeza que eu não desejei que tivesse. Mas, como alguém já disse em vários lugares, tudo é aprendizado. Por aqui, lição aprendida e anotada.

Espero que o ano de vocês, até este meio de fevereiro, tenha sido estável. Se não melhorou nada em relação ao nefasto 2020, que pelo menos não tenha piorado. Torço por isso!

Até a próxima!

__________________________________________

Visite minha página no Facebook e conheça um pouco mais do meu trabalho. É só clicar AQUI.