Costumo comprar o material para o meu trabalho em uma pequena loja familiar. Lá revezam-se no antendimento o filho, o pai e a mãe, sendo estes dois já com bastante idade. Desde a primeira vez que fui lá, chamou a minha atenção o fato dos proprietários fazerem tudo por você. Além da simpatia e da prestatividade eles têm a preocupação de ensinar tudo o que já sabem. Às vezes observo alguns clientes que não querem muita conversa e já cortam logo as explicações com um "ah, isso eu já sei" ou "nem precisa falar porque eu já fiz isso várias vezes".
Eu, geralmente, sinto simpatia por pessoas idosas. É alguma coisa no olhar, talvez. Sempre gasto alguns minutos pensando em tudo o que já viveram e me parece que sempre transmitem algo além do que estão dizendo. Por esta razão gosto de ouvi-las falar. Então procuro sempre ir à lojinha sem pressa. Numa das últimas vezes eu precisava comprar uma placa de metal para fazer um número de residência para uns amigos. Quem me atendia era a mãe. Solícita como sempre perguntou: "o que você quer fazer, minha linda?" Contei e ela prontamente pegou a peça de tamanho adequado e se pôs a explicar: "você faz assim, filinha, põe o 1 aqui ,depois o 1, depois o 1, nossa! São três 1! Você viu Luizinho (marido)? Ela vai fazer três 1 seguidos! Então, filinha, que número que é mesmo?" E contiuou explicando com toda a calma do mundo como eu deveria dispor os números na placa. Achei aquilo de uma candura incrível! A preocupação dela era desmistificar aquele trabalho para que me fosse prazeiroso e descomplicado.
Pela minha disposição em escutar pude aprender com eles outras formas de fazer o que eu já sabia. Numa destas vezes a mesma mãe concluiu categórica: "sabe, filinha, a genta dá estas dicas porque tem pessoa que não pensa". E não é que ela está coberta de razão?
Lembro de um excelente professor na faculdade que dizia que se você não passar adiante o conhecimento que tem, não sairá do lugar. Isso é verdade em vários aspectos que vão muito além de não mudar de cargo dentro de uma empresa. Acontece uma estagnação mental e energética quando você não compartilha o que sabe. E pior, não abre espaço para o novo. Quem já ensinou qualquer coisa a alguém deve ter perecebido que acabou aprendendo muito mais. No momento em que você transmite o que sabe acaba por perceber uma gama de coisas inéditas! Também pode ver o assunto com os olhos do outro e novas descobertas são feitas. A partir daí nada mais é óbvio e as possibilidades se tornam infinitas.
Acredito que nosso conhecimento é nosso único patrimônio. É a única coisa que é sua e ninguém tasca. O único valor que você vai levar para o além. É o elemento capaz de promover trasformações imensas. A forma mais eficaz de aumentá-lo é compartilhando-o. Quem não está aberto para ensinar, para dividir, também não está totalmente aberto para aprender e jamais sentirá o prazer de ampliar os horizontes de outra pessoa além dos seus próprios.
Minha mais sincera homenagem a todos os professores que conheço. Graduados ou não, vocês são o máximo!
(Peça confeccionada pela querida Débora após a sua primeira aula)