Olá!

Aqui você encontra vários tipos de textos com reflexões, introspecções, filosofadas e relatos, tudo sob a luz do mosaico. Desejo inspirar você com a mesma arte que me inspira.

Adriana, o Smalti e a chama da paixão.

Da última visita ao Brasil trouxe comigo uma base de ferro para mosaico feita pelo Sr. Walter. Para quem não sabe, o Sr. Walter é um talentoso artesão que fazia camas e portões de ferro. Com a idade e mais as exigências que o trabalho pesado teve sobre seus braços, ele precisou deixar as grandes obras de lado e se dedicar a peças menores. Seus arabescos caprichados emolduraram vários números residenciais e vários Olhos Gregos que fiz. Fazia séculos que eu não fazia nenhum Nazar (nome turco do olho grego) e revendo as fotos reparei que nunca tinha usado smalti em nenhum deles. Diga-se de passagem, gastei um tempo precioso economizando smalti para alguma coisa especial. Como a gente muda, não é? Hoje entendo que o momento presente é a coisa mais especial que posso ter, já que estou viva agora, hoje. Amanhã, ninguém sabe.

Com minha plaquinha devidamente preparada, não levou muito tempo para revesti-la. Fiquei olhando meio desconsolada para minha obra. Parecia que alguma coisa estava faltando. Voltei a olhar as fotos e concluí que meu desconsolo não estava no Nazar. É um símbolo que gosto - aliás adoro símbolos de uma forma geral. Ouso dizer que minha desilusão está no smalti mesmo. Sim, é uma delícia cortá-lo no tagliolo. A forma macia, quase escorregadia, como a peça se divide em dois me causa um prazer que somente entendidos entenderão. Mas acho que venerei esse material de uma forma um tanto exagerada ao longo dos anos. Eu o considerava o material mais fabuloso do universo. Sim, ele é de uma beleza singular, maaaaaas acredito que meu parâmetro de beleza foi mudando. Descobri beleza em outros cantos, outras formas e outros materiais...desculpe Sr. Smalti, meu coração agora tem vários donos. Não lhe pertenço mais exclusivamente. O problema não é você. Sou eu. Fui eu quem colocou você num pedestal e exigiu coisas que você não poderia me dar. Espero que não se ofenda e que possamos ainda ser amigos. Eu jamais vou deixar de te admirar. Se reparar bem, você nem precisa de mim. Há uma legião de pessoas que enxerga em você a única possibilidade, percebe? Você ficará bem e eu também. Obrigada pelos anos em que me fez suspirar pelo seu brilho...

Sim, cores mais vívidas não há!

E essa textura tão orgânica? Perfeição.





Não diminuo aqui o mérito do Smalti. Jamais! Apenas aprendi que quando temos uma paixão tão retumbante, precisamos vivê-la naquele instante, quando ela faz todo sentido. Se não, corremos o sério risco da desilusão, da decepção...À paixão idealizada e não vivida conferimos expectativas irreais. Quando finalmente acontece o encontro, não há como corresponder ao mundo dos sonhos. Traduzindo: aquela história de que a roupa boa é para ir ao médico e que a comida boa é para as visitas, minha amiga e meu amigo, isso é uma grande furada. Vamos estrear a roupa em plena quarta-feira e comprar aquele queijo maravilhoso para nós mesmos. Amanhã? Amanhã podemos ficar intolerantes à lactose. Amanhã pode estar frio para usar o vestido de algodão.

Boas paixões e até a próxima!
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Um vaso para plantar esperança.

No meu aniversário, ganhei d'além mar um delicado arranjo de mini rosas. Elas, tão coloridas e generosas, me foram entregues pela funcionária da floricultura em meio a um sorriso aberto de quem ama o trabalho que tem. Só aquele sorriso já foi um presente. O arranjo enfeitou nossa mesinha de café da manhã até as rosas começarem a murchar. Foi só então que percebi que elas estavam plantadas na terra. Corri para o YouTube em busca de orientações sobre como cuidar destas flores. Quanto de sol? Quanto de água? Em meio às respostas às minhas dúvidas constatei com alegria infantil que, sim, existe uma maneira de preparar a roseira para que ela sobreviva ao inverno. Com esse horizonte de esperança à minha frente, fui logo comprar um vaso. Herrsching tem tudo o que você precisa para o seu dia a dia, ainda que não tenha muita variedade. Então comprei o melhor vaso possível e lá fui mergulhar nas infinitas possibilidades de revesti-lo. Escolhe daqui, dali...os desenhos se formando e se modificando na mente...separei o material. Daí para frente é aquela alegria de ver o sentimento tomar forma. Amei o que fiz!

Usei tampas de Club-Mate, pastilhas de vidro, gemas de vidro e pastilhas de cerâmica.
Achei que ficou alegre e com uma cara de arte mexicana, não parece?
A borda e o fundo do vaso pintei de dourado...porque amo dourado.

Desavisados perguntariam porque pintar o fundo. Gente! E por que não? Já dizia alguém que "Deus mora nos detalhes".

 Fiz o plantio das mini rosas um tanto incrédula. Eu adoro plantas, converso com todas, mas tem algumas que me parecem inacessíveis. Rosas são uma delas. Então já comecei o papo pedindo desculpas pela falta de jeito, explicando que nunca tinha cuidado de rosas antes, mas que tinha me informado bastante e que, se elas quisessem, a gente poderia cultivar ali não só as próprias rosas, mas também uma amizade. Acho que ter tido uma conversa franca ajudou. A bichinha não morreu! Só aí já ganhei o mês. Mas o melhor de tudo foi ver as folhinhas novas nascendo. Não me aguentei e enchi a roseira de beijos!!! 

Olha que amor!!! Já expliquei para as outras flores que elas também ganharão casa nova. É só ter paciência.
A sobrevivência da roseira e a esperança que as novas folhas me trouxeram fizeram com que eu notasse uma tristeza resignada que trazia de Berlim. Lá fui deixando de cultivar plantas porque sabia que elas morreriam. Era só uma questão de tempo. Por isso meu primeiro pensamento ao ganhar a roseira foi dúbio. Algo como "que linda!...pena que vai morrer" e tentei me conformar com isso. Precisei de um tempo para ver que uma possibilidade já existia bem ali na minha frente. E, quem sabe, essa possibilidade me traga mais do que sobrevivência. Quem sabe, eu possa sonhar com flores antes do inverno chegar e, se tudo der certo, resistir ao frio para ressurgir na primavera.

Tenho uma relação conturbada com essa história de esperança. A cada novo momento não sei decidir se ela é um véu que colocamos sobre os olhos para não encarar diretamente o que precisa ser visto ou se é um cajado que nos ajuda a caminhar mais longe. Mas hoje, exatamente hoje, ela é tudo que tenho. Sem a ideia de que algum dia verei botões de rosa se abrindo na minha varanda fica muito, muito difícil continuar a jornada. Então, ainda que não saiba definir o que é a esperança, acho que sua função, no final das contas, é simplesmente essa - nos manter aqui.   

Cultivemos o nosso melhor e...até a próxima!
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