Olá!

Aqui você encontra vários tipos de textos com reflexões, introspecções, filosofadas e relatos, tudo sob a luz do mosaico. Desejo inspirar você com a mesma arte que me inspira.

Luz para Joanna.

Desde 2014 que eu não fazia uma luminária para velas de 7 dias. Não consigo ver no consumidor daqui a inclinação místico/religiosa na mesma intensidade que podia observar no Brasil. Então deixei para lá. Ocorre que às vésperas de considerar encerradas as atividades do ano veio este pedido do maridão: fazer uma luminária para velas de 7 dias para a esposa de um amigo. Eu quis saber o motivo, não para responder se faria ou não (eu faria de qualquer maneira), mas para me conectar com a intenção. A resposta veio sem precisão da razão e com muito impulso intuitivo. Exatamente a justificativa que gosto, pois tenho convicção que nossa verdadeira inteligência mora na intuição e não no intelecto.

Esse tal amigo é um alemão e a esposa é polonesa. Estão juntos há um bom tempo e juntos tiveram um filhinha que tem pouco mais de 1 ano. Ela, a esposa, que também é nossa amiga, vem passando por uma fase difícil. Há tempos que tenta se achar dentro de sua própria vida, após o acontecimento de mudanças profundas pelas quais passou. Acho que isso é natural. Mudanças significativas rompem com nossas referências e, de repente, não conseguimos nos reconhecer mais. Mas não é por ser um processo natural que deixa de ser extremamente desconfortável, penoso. Esses problemas emocionais são um campo que os alemães não conseguem entender muito bem. São pragmáticos até a última gota. E, de acordo com alguns relatos que me deixaram de cachos em pé, é realmente difícil você conseguir tratamento psicoterápico por estas bandas. Por sorte a amiga é muito católica. Digo sorte porque acredito que a fé (seja no que for) é um elemento que nos ajuda a superar obstáculos.

A religiosidade foi o tema da luminária, com a figura de Nossa Senhora. A intenção foi dizer que ela, a amiga, não está só, que todo mundo tem seus problemas e que isso não é demérito para ninguém. Também foi dizer que ela, a amiga, é importante e única, que sua identidade cultural importa e que ser diferente não é um problema, é apenas uma questão de contexto.

A luminária mede 18,50 cm de altura. Utilizei uma garrafa cortada como base para o mosaico de stained glass e pastilha de vidro.

A vela fica sobre um prato de cerâmica que pintei de dourado.

Na parte de trás utilizei gemas de vidro e alguns pedaços de stained glass.

Detalhe da gema de vidro em formato de coração na parte de trás. O amor é capaz de curar nossos males.


No barrado do manto utilizei estas pastilhas de vidro douradas e com texturas. Minha intenção foi fazer uma referência ao manto que é retratado na imagem de Nossa Senhora da Czestochowa, cultuada na Polônia. Também conhecida como Nossa Senhora Negra, a imagem original teria sido pintada por São Lucas. Dizem que em suas seguidas visitas à mãe de Jesus, ela teria lhe contado sobre a infância do filho.


Intuição seguida, mosaico feito, presente entregue. E cada um de nós vai tocando a vida, fazendo o melhor que pode. Dentro de nossas limitações acho que vale a pena a gente se esforçar um tanto a mais para ser mais empático. A gente não precisa fazer amizade com todo mundo, mas precisa respeitar todo mundo. Acho que empatia é um dos caminhos para isso. Sem esse respeito fica difícil melhorar nas convivências e, caramba!, o mundo está precisando muito que a gente melhore nisso.

Que cada um de nós encontre o próprio caminho e a própria luz.

Bom Natal e até logo mais!




Re-iluminando o passado.

Acredito que um dos maiores encantos que o mosaico me trouxe foram as experiências com vidro. Elas não começaram ao acaso. Começaram porque minha irmã achou que era uma boa idéia e como eu estava absorta em outras coisas ela foi abrindo o caminho, desvendando alguns mistérios e fertilizando um belo terreno para mim. Foi extremamente estimulante comungar com uma mente de uma criatividade tão complexa. Os frutos foram brotando ao longo do caminho.

Porém (e sempre há um) a mudança para Berlim afetou-me em muitas formas e quase todas elas imprevistas. Um das maneiras foi a perda dos parâmetros criativos que eu tinha. Traduzindo: eu fazia uma coisa e depois de algum tempo, num segundo olhar, não via o menor sentido naquilo. Não gostava do que tinha feito. Aos poucos a "pegada" foi voltando, mas nada foi como era antes. Um passeio pelo álbum de fotos deixa isso muito claro.

O que ainda me incomoda é ter perdido muito a mão para fazer luminárias. Tem sido uma luta me re-encontrar num tipo de trabalho que foi um dos meu prediletos, que tanto inspirou e elevou minha alma. Falta do estímulo certo (leia-se da irmã)? Sim, pode ser. Mas para o que não tem remédio, a aceitação é o caminho...

Dias desses voltei ao campo das luminárias. Compramos uma ferramente para ajudar a cortar garrafas e senti vontade de reviver aqueles dias. Para felicidade minha ainda tenho alguns cortes de vidro feitos pela Alê e coloridos nos tons que só ela sabe fazer. Foi bom, a sensação foi muito boa e senti que voltei a colocar um pé naquela antiga estrada.

Além desses vidros também usei outros que foram coloridos por mim, alguns de garrafas coloridas, umas pastilhas para mudar a textura e umas miçangas. Para a base usei um prato de cerâmica devidamente pintado. O resultado final é uma luminária rústica, como a maioria das coisas que faço, e muito nostálgica para mim.

Esta é a base. Misturei folha de ouro e purpurina com goma laca.
Nas bordas na luminária dei o mesmo acabamento dourado da base.
Os cortes transversais de vidro de garrafa foram o ponto de partida.
O conjunto ficou cheio de texturas. Eu gosto disso. Acredito que traz vida e movimento à peça.
Quando apagada ela até faz a linha discreta...
Mas quando acesa, não dá para ignorar o bailar das cores.



O desejo puro e descontrolado é de voltar àqueles dias. Mas isso é fantasia perdida, pois tudo passa. Então o único desejo que posso acalentar é o de fazer andarem na mesma estrada o meu encanto pela reutilização de vidros, a magia das luzes coloridas e a pessoa que sou hoje. O passado pode ser uma grande referência, mas não pode ser o nosso norte. Acolher as mudanças é tão desafiador quanto nos reconhecermos após elas. Mas isso é a vida, não é?

Que suas mudanças sejam inspiradoras!

Beijos para todos e até a próxima!
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Vasos de Lâmpada - você precisa fazer um!

Precisa mesmo! Porque ficam lindos, porque são um presente mais que especial e porque reutilizar, além de um dever, é uma delícia.

Depois da minha óbvia epifania de como deixar a lâmpada em pé sem os lindos suportes que o Sr. Walter fazia, passei a desejar com muito mais afinco cada lâmpada queimada do planeta. Como vocês sabem, elas são uma espécie em extinção, pois muito em breve deixarão de ser fabricadas. Então, queridos amigos, esta é uma alegria que está com os dias contados. Se você também pegou gosto pela coisa, espalhe aos quatro ventos que recolhe lâmpadas incandescentes queimadas e pague lá um valor por elas. Tenho certeza que conseguirá coletar várias. Por aqui posso caçá-las nos pontos de coletas que ficam nas perfumarias e nos mercados. De quando em quando estico o pescoção para ver se tem alguma para mim.

Estas que fiz agora são de tamanho normal, então por isso achei que ficaria bem se formassem um par. Escolhi tons de azul, repeti elementos nas duas para que tivesse uma conexão e assim elas saíram...

Esta em tons mais escuros mede 10,50 cm de altura.

Esta em tons mais claros mede 12,50 cm de altura.
Usei pastilhas de vidro comum, pastilhas do tipo cristal, miçangas de vidro, espelhos e estes corações de vidro que são tudo de bom e mais um pouco. Ficaram bem delicadas e a cor azul complementou a cor das flores.

Gosto tanto que tenho vontade de comê-las!!!

Já posso imaginar uma coleção de lâmpadas passando por todas as cores do arco-íris. Seria lindo! Enquanto estou apenas no azul vou misturando as lâmpadas com os outros objetos. Acredito que elas fazem o arremate perfeito, concorda?



Espero ter inspirado alguns de vocês a iniciarem seus próprios projetos.

Boa preparação para o início do Advento para todos e até a próxima!

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Mosaico sobre base tipo Wedi.

Olá, pessoas! Como tem passado? Aqui nessas terras o outono vai aos poucos perdendo sua magia e dando lugar à aridez das árvores nuas e aos precoces pores-do-sol. As aves migratórias já iniciaram suas peregrinações para terras mais quentes e, quando eu vejo aquele batalhão de pássaros voando em formação de V, sinto que está todo mundo indo embora e só eu ficarei aqui no frio e na escuridão. Sim, bem dramático. Mas as mudanças de estação tem uma dramaticidade inegável e isso invade a gente.

No mundo do mosaico experimentei algo novo (para mim): usar uma base de Wedi. Na verdade usei de outra marca porque tinha um preço mais convidativo. Para quem não sabe o que é isso, trata-se de uma placa de espuma de alta densidade que tem dos dois dois lados uma fina camada de cimento. É só dar um Google em "Wedi" para entender exatamente do que se trata. Essas placas são muito usadas na construção e são uma base muito versátil para mosaico já que podem permanecer tanto em ambientes externos quanto internos. Além disso são bem leves, o que deixa tudo mais fácil. Custam mais (bem mais) do que uma base de MDF, mas tem uma vantagem (mais uma): com um estilete você corta o que quiser, todas as curvas que imaginar e cortes vazados também. Achei o máximo não precisar de uma serra para chegar no formato que eu pretendia. Então valeu a pena o investimento. Mas o que fiz com a tal base super, tunder, mega maravilhosa? Fiz os números para uma casa. Literalmente. Não foi uma placa com os números, foram os números mesmo. Veja:

Recortei cada número e depois revesti com as pastilhas. Como ficarão em ambiente externo, o adesivo escolhido foi específico para isso.

Depois saí brincando de colocá-los em todo lugar e fiquei imaginando quanta coisa dá para fazer a partir desta base.
Eles agora estão viajando rumo ao seu destino final e eu estou rezando porque a viagem é longa. Só desejo uma coisa - que cheguem inteiros.

Depois dessa experimentação voltei ao conhecido mosaico em garrafas. Para mim fazer garrafas é como voltar para casa depois de uma viagem. É uma delícia viajar e igualmente bom regressar para nosso canto.

Utilizando ainda algumas pastilham que sobraram dos números montei uma garrafa com vermelho, rosa, bege, marrom e dourado (porque sou do signo de leão e preciso de um brilho em algum lugar, sempre). Comecei o trabalho meio desconfiada de mim mesma, mas depois fui me apaixonando perdidamente por ela. Adorei a interação dessas cores. Não sei dizer muito bem o motivo, mas paixão é assim mesmo, não é? A gente não consegue explicar. Para a coroação no topo, uma flor de cerâmica que, vou te falar, tinham que fazer em todas as cores do arco-íris.

É ou né?

Tenho uma maneira peculiar de perceber quando gosto muito de um mosaico: sinto vontade de comê-lo. Sério mesmo. Sinto até a salivação aumentar. Alguém explica?

Você pode usar as garrafas da forma que achar melhor na decoração. Eu gosto especialmente de misturá-las a livros e lembranças de viagens. A garrafa faz o fator "uau!", como aquele brinco maravilhoso que você coloca com uma roupa mais básica e fica glamurosa.

Essas foram as últimas por aqui. A gente ainda se encontra pelo menos mais uma vez nesse restinho de ano.

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Manifesto sobre a Assimetria.

Esse é o nome do mosaico que fiz.

Sou dessas pessoas que questionam coisas. Sou do signo de leão com ascendente em libra. Recentemente descobri que meu signo lunar é gêmeos. Talvez essa combinação seja a causa da minha rebeldia inerente, mas não tenho certeza. O que sei é que não me identifico nada, mas nada mesmo, com alguns parâmetros que as pessoas espalham por aí. Essa questão da simetria x assimetria é uma delas. Se você der um Google nessas palavras, basicamente lerá sobre dimensões e formas, sobre a simetria presente na natureza e na matemática, verá desenhos e fotos de coisas que quando divididos em partes, uma pode ser sobreposta à outra com perfeição e verá várias vezes a palavra beleza. Associa-se a presença de simetria à beleza, ou seja, se é simétrico então é bonito.

Nem precisa dizer que é nessa parte que meu humor muda. Simetria não é algo relativo, mas beleza...ah, amiguinhos, está aí um conceito que muda todos os dias, que precisa de contexto para acontecer. Pensando um par de minutos você poderá citar algumas coisas que são consideradas belas hoje, mas que no passado não eram. O contrário também vale. O meu ponto é que a beleza é um conceito subjetivo, íntimo e complexo. É nisso que acredito. Confesso que não entendo muito bem a obsessão humana por beleza. Nessa busca desesperada vai todo mundo para um lado só, enquanto há um universo de tantas outras coisas fantásticas acontecendo do lado de lá. Acho isso triste.

O que fiz nesse mosaico foi zombar descaradamente da simetria e de outros pequenos conceitos que, no mundo do mosaico, são tidos como pré-requisito para dizer se um trabalho é belo. Na base, nada bate com nada. Parece que bate, mas não. Usei dois restos de cortes de um círculo e a parte retangular foi a lateral de uma gaveta. Isso significa que uma das suas bordas reta e a outra arredondada. Comecei o revestimento pelas extremidades, repetindo os elementos no lado oposto correspondente. Porém coloquei pedras e conchas no meio dessa história só para ter certeza de que não casaria mesmo, para somar mais assimetria na minha assimetria inicial. E fui seguindo nessa busca do impossível (que é o que fazemos na vida quando tentamos nos encaixar nos padrões), repetindo os elementos dos dois lados. Quando a assimetria se fazia mais do que evidente, suprimia algum elemento para tentar resgatar a simetria que em momento algum existiu. Ou seja, eu aumentei a assimetria para diminuir a assimetria. Faz todo o sentindo. O trabalho como um todo virou uma espécie de "jogo dos sete erros". Você pode gastar alguns momentos encontrando as diferenças.

Ao primeiro olhar, nada parece estar fora da ordem.




E a peça desempenha lindamente na parede, ao lado das coleguinhas. 

Formando uma grande família de assimétricos assumidos.
O que acontece aqui é que o conjunto tem lá sua harmonia e isso prevaleceu. No fim pouco importa a precisão milimétrica. Importa a gana, a paixão, a intenção, o ideal, a expressão, a mensagem. Importa que cada um sinta a liberdade inata e genuína para ser o que é. Isso fica bem pertinho da beleza. Um viva para a assimetria!

O despertar da bijuteria.

Falar sobre as estações do ano, sobre as variações de temperatura e a presença ou ausência de sol tornou-se uma constante por aqui. Desculpa, gente! Mas acho que não terá outro jeito por enquanto. Isso me afeta profundamente, afeta meu humor, minha identidade, a maneira como me expresso, a maneira como me relaciono, afeta o olhar que tenho sobre o mundo. Talvez não seja exagero dizer que sou uma pessoa a cada estação do ano. Se um dia isso vai passar (ou ser mais brando), eu não sei dizer. No agora é assim que me percebo. Então vamos falar sobre os efeitos do verão.

O que acontece na estação mais festejada do ano é uma certa histeria. Temos luz em quantidades cavalares. No seu auge são 18 horas de luz. Quando faz calor, faz MUITO calor, mas não é certeza que o sol apareça. Quando ele aparece, a vida só acontece do lado de fora. Tem cinema, shows e concertos ao ar livre, festas e eventos que só acontecem no verão. É preciso fazer uma boa provisão de caixa se você quiser aproveitar tudo o que acontece nessa época. Pessoas dão um jeito de faltar ao trabalho para poder tomar sol. Quem pode, tira férias em agosto. De início eu via uma poesia nisso tudo. Achava lindo esse impulso de aproveitar o momento presente, de desfrutar da luz na simplicidade de um gramado e com a companhia de um livro. Hoje vejo aí um certo ar de desespero e o motivo é simples: dura muito pouco. Se há uma certeza na vida é a de que o verão vai acabar e tudo vai voltar a ser frio e, principalmente, escuro. Daí me vejo mergulhada em angústia se o dia tem sol e por qualquer motivo eu não possa saudá-lo. Se perder esse momento, vai demorar um ano para talvez isso acontecer novamente. Esse é um ótimo abudo para estados ansiosos.

O que vem a seguir é o resultado deste pacote de percepções do meio e de mim. Por breves meses posso sair de casa sem checar qual a sensação térmica do lado de fora. Posso usar na rua a mesma roupa que estou usando dentro de casa. Posso usar brincos enormes porque eles não vão enroscar em nenhuma gola alta ou cachecol. Posso usar colares pelos mesmos motivos. Posso usar anéis porque não preciso de luvas. Posso, enfim, me expressar livremente. Não é, então, por acaso que as bases para bijouteria saltaram à minha inspiração. As coitadas aguardavam a vez desde abril e precisaram de um eclipse da lua e um do sol (no mesmo mês) para ganharem cores, formas e identidade. Se me vierem com a famosa pergunta "o que você fez nesse verão" a minha resposta é essa aí:




Para este pingente utilizei smalti italiano. O cordão é de camurça.

Pingente com pedra natural, smalti ouro, miçanga, stained glass e pastilha de vidro.

Pedra natural, millefiori, smalti italiano e pastilha de vidro.

Pingente com miçangas, pedra natural, stained glass, pastilha de vidro, millefiori e smalti ouro.

Pedras naturais, miçangas e vidro dicróico.

Gema de vidro, millefiori e stained glass.

Gemas e miçangas de vidro.

Millefiori e só :-)

Stained glass e pastilha de vidro.

Pedras naturais, vidro dicróico e miçangas.


Preciso agradecer à Yara Fragoso, professora e amiga, que me incentivou a fazer bijous. Ela disse que eu iria gostar e dividiu comigo seus saberes. Ela estava certíssima (como também estava sobre as garrafas de mosaico e o mosaico contemporâneo). Eu só precisei da plenitude do sol para acender o fogo de mais uma paixão. Querido Deus, por favor, não permita que o fim do verão leve embora a minha inspiração. Amém.

Escolhemos amar.

É, meus queridos, o mundo anda sendo um lugarzinho bem curioso. Talvez sempre tenha sido assim, mas acontece que eu ando com essa sensação de que tudo está muito estranho. Parece que as tensões têm aumentado em quase todos os cantos e precisamos fazer um esforço para não sucumbir ao lado negro da força. Como dizem os filósofos, "não tá fácil, miga!". É neonazista causando pesado no trem, é covarde empurrando gente pelas costas escada abaixo na estação de metrô...e eu me vejo totalmente rendida, sem saber lidar com isso. O curioso é que no Brasil também há muita violência, mas eu carregava a sensação de que conseguia me defender de algumas coisas. Talvez seja aquela casca mais grossa que desenvolvemos para não sangrarmos até a morte. Só que a violência daqui é diferente e...é sério...está complicado de elaborar os sentimentos.

Quando teve o atentado aqui, em dezembro do ano passado, recebi o conselho de me cercar de amor e não entrar em ressonância com os sentimentos derivados de acontecimentos assim. Tem que fazer uma escolha consciente e se prender à ela. Tenho tentado fazer isso. Procuro referências que me inspirem o bem, que me façam rir, gargalhar (se possível), cavocar tudo o que é memória boa para revivê-las e, para não ficar só no passado, manter no horizonte próximo uns planos que aliviem o peso no peito.

Foi daí que veio este quadrinho. Logo mais a Ju vai casar. Meu Deus! A Ju vai casar!!!! Aquela menininha de cabelinho chanel que fugiu de mim tímida na primeira vez que nos vimos vai, toda maravilhosa e trabalhada no luxo, dizer um sonoro "sim" para o Japa. As crianças crescem e a gente assiste meio maravilhado a vida acontecendo. E imaginar quanta curtição deve estar acontecendo nos preparativos deste casamento tem temperado minha maltratada vibe com um pouquinho de açúcar. Sou muito grata por isso.

Ano passado fiz algo neste mesmo tema para a Louise e o Daniel, inspirada que estava pela linda celebração que fizeram. Agora é a vez dos sobrinhos. Para ficar mais personalizado, retirei o tecido que revestia a parte interna do envelope no qual veio o convite e usei-o junto com o mosaico.

Com o tecido do envelope preenchi os números, o símbolo do infinito e fiz duas bordas.


No verso colei o restante do tecido e o convite. Achei que assim a lembrança estaria completa.


Espero que combine com a casa nova dos noivos.

A vida é esse processo acelerado que exige escolhas constantes. Não escolher é também uma escolha, dizem. Então, vamos juntar nossas mentes e escolher o bem, o bom, o belo e o amor. A esperança que precisamos vem de nós mesmos.

Até a próxima!

A lâmpada mágica.

Mudar é sempre um processo e tanto, não é mesmo? A nossa mudança para Berlim envolveu e envolve muito mais (MUITO MAIS!) do que a mudança física. De uma hora para outra não temos mais nenhum referencial familiar. Num primeiro momento, quando vivemos meio acampados, sem nossas coisas, o único elo que temos com a vida que acabou de acabar é o que trouxemos na mala. Todo o resto é novidade. Isso pode ser muito excitante quando se tem um prazo e, ao final dele, um lugar para voltar. Quando esse não é o caso a coisa toda é exaustiva, stressante e nos afeta de formas que não temos como prever. Um exemplo: na vida antiga eu costumava fazer as tarefas da casa, e muitas vezes também os mosaicos, com fones de ouvido. Escutava (performava) minhas músicas prediletas ou ouvia minha rádio favorita. Isso tornava as tarefas penosas mais leves e as tarefas prazerosas mais gostosas ainda. Pois fiquei cerca de dois anos sem conseguir fazer isso. Tentava, porque buscava esse acalento (na verdade a gente busca qualquer acalento), mas não dava certo. Não era mais bom, irritava. Não faço a menor ideia de porque isso aconteceu, mas há alguns meses algo encaixou e voltou a ser muito bom. É um detalhe na vida, eu sei, mas que me trouxe mais conforto comigo mesma e isso é muito valioso para mim. E vamos combinar que se somarmos esses detalhes a coisa toda fica bem grande. Então comemorei esse pedacinho de re-conquista.

Como somos uma coisa só, esse choque de adaptação nos atinge em todos os aspectos. Pois bem, o maravilhoso mundo do mosaico não ficou de fora. Um dos trabalhos que mais curti fazer foram os Vasos Lâmpada. Fiz dois. Amei-os intensamente. Em São Bernardo do Campo tem o Sr. Walter que trabalha com ferro e ele sempre topou minhas idéias. Fez suportes delicados que valorizaram ainda mais o meu trabalho. Aqui não tem o Sr. Walter. Eu fiquei este tempo todo olhando com tristeza as lâmpadas queimadas que vieram junto com meus materiais com a certeza de que jamais faria outro vasinho. Por vezes planejei levá-las para a reciclagem (aqui tem) e todas essas vezes esqueci. Aí aconteceu uma coisa simples e maravilhosa. Um dia deses acordei com a solução dos meus problemas: colocaria o Vaso Lâmpada em pé fixando uma pastilha uma pouco maior na base. É uma solução tão simples que dá até vergonha. Mas o que me admirou mais foi o tempo em que acreditei que não havia mesmo solução para o meu problema. Achei isso muito maluco. O dia em que acordei com a solução foi como o despertar de um transe. O que uma mudança não faz com a gente, não é mesmo? Uma vez mais não faço a menor ideia de porque isso tudo aconteceu, mas saboreei novamente minha pequena re-conquista. Veja o resultado do meu micro despertar:






Dizem que "não há mal que sempre perdure e nem bem que nunca se acabe". Tudo é passageiro. Isto também passará. Vamos celebrar a vida, o amor e cultivar a gratidão. Cada detalhe conta.

Se você quiser conhecer os vasinhos anteriores, visite o álbum de fotos na nossa Fan Page do Facebook. Vai por AQUI.

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A flor amarela.

Em Berlim tudo segue na normalidade, mesmo porque se a normalidade falta, o alemão surta. Aí tudo trava, nada segue. Mas cá estamos nós abençoando cada dia de sol e amaldiçoando cada dia cinza (isto significa uma médica de 90% de maldições). E em algum dia dentro desta incrível labilidade emocional que experimentamos aqui, encontrei uma das coisas mais fofas que já tinha visto: um puxador de gaveta em formato de flor! Já imaginou? E, claro, para quem é dessa área de miçangas, o desejo por um puxador de gavetas não é necessariamente para usá-lo como puxador. Explico: quando fui participar do workshop onde aprendi a fazer garrafas decoradas com mosaico, faltava a tampa para a dita cuja. Procurando opções pela internet, foi no Pinterest que encontrei a ideia de juntar uma rolha de garrafa de vinho com um puxador de gavetas. Assim, para mim, um puxador de gavetas é, antes de tudo, uma tampa de garrafa em potencial.

Aqui vamos fazer uma pausa só para pensar sobre os diferentes olhares. Cada um de nós tem uma visão própria sobre um mesmo objeto, ou assunto, ou sentimento, ou lugar, ou qualquer outra coisa e isso é, de certa forma, lindo! Pense em como as possibilidades se multiplicam graças à pluralidade, à diversidade que existe entre nós. Isso faz com que o mundo fique muito, mas muito mais interessante, faz com que você veja solução onde eu só consigo ver problema, faz com que eu prefira aproveitar o sol ficando na sombra, faz com que você prefira aproveitar o sol se expondo a ele na grama e então há lugar para todos, há gosto para tudo. Há amor para todos e tudo tem o seu valor.

Brisas à parte, voltemos à garrafa. Bem, o puxador rendeu mesmo uma tampa encantadora, além de inspiração e bons momentos. Vamos aos fatos?

Fala sério, essa flor não é linda? Diz que sim! Diz que sim!



Sim, os ares primaveris continuam imperando por aqui :-)

Em tempo, se alguém tiver uma sugestão de gambiarra como a da tampa de garrafa, por favor divida! Já diziam que quem divide, multiplica. Vamos nessa!


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