Olá!

Aqui você encontra vários tipos de textos com reflexões, introspecções, filosofadas e relatos, tudo sob a luz do mosaico. Desejo inspirar você com a mesma arte que me inspira.

O cahepô e o acordo de liberdade.

Todas as vezes em que fui cuidar das quatro gatas, imaginei como ficaria bem um cachepô na mesa da varanda, logo abaixo da plaquinha que indica "Biergarten". Um cachepô com tampas de garrafa de cerveja para que o tema seja seguido à risca. Toda vez pensava em fazer uma surpresa, e colocar o cachepô já com uma plantinha para dar as boas-vindas no retorno da viagem. Porém, a ideia do presente surpresa sempre foi sucedida pelos pensamentos de censura."Isto é uma invasão do espaço do outro", "não é todo mundo que gosta de mosaico", "você não tem o direito de decorar uma casa que não é sua", "o estilo de vocês é diametralmente diferente", "será constrangedor", "vai prejudicar a relação de vocês"...essas são algumas das frases que me refrearam. Curioso é observar que estes pensamentos estejam ligados em algum lugar da minha cabeça ao ato de presentear com uma peça feita por mim. Não achei que seria impróprio deixar de presente um pacote de macarrão artesanal ou bexigas ou bombons ou um par de garrafas de cerveja. Qualquer uma destas alternativas seria socialmente aceita, mas o resultado do meu trabalho, não. Por quê? Será que o motivo esteja em quão pessoal é o presente? O cachepô de mosaico é um pedaço de mim, repleto de intenção, na casa do outro e eu não sei se o outro me quer na sua casa. Problemas de autoestima? Temos!

Então, por causa da troca de presentes que sempre fazemos por ocasião das viagens/cuidados com os gatos (a gente tem um acordo tácito de cuidar dos gatos uns dos outros quando viajamos), conversamos sobre a motivação que cada um tem para presentear. Naquele dia firmamos um segundo acordo: cada um faz o que quiser, quando quiser e enquanto quiser. Faremos aquilo que nos trouxer alegria. E foi naquele dia que decidi: vou fazer o cachepô.

Não foi um processo pacífico dentro da minha mente. Aquelas frases de censura participaram ativamente dos trabalhos e estão até agora me enchendo a paciência e machucando o meu coração com um alfinete afiado e infectado.



Ainda que o design seja semelhante a alguns vasos com tampinhas que já fiz, a escolha das cores não é. Normalmente uso cores vibrantes, contrastantes, mas isso não teria nada a ver com a paleta de cores da casa deles. Por isso fui por essa via de tons suaves.



Achei também que a cor de cerâmica do cachepô destoou muito das cores do mosaico. Então pintei a parte não revestida, fazendo um fundo cinza com toques de prata e pérola.
E, simplesmente por usar cores de uma forma que normalmente não usaria, mais uma enxurrada de frases agressivas e castradoras de mim para mim mesma começaram a aparecer e a se multiplicar, sempre colocando em dúvida a qualidade do meu trabalho. Nesse ponto, eu confesso, fiquei cansada, muito cansada. Chamei todos os demônios da minha cabeça, coloquei todo mundo sentado, um ao lado do outro, e disse: "Galera, o que acontece aqui é o seguinte: esse cachepô não é sobre mim. É sobre outra pessoa. Quando eu faço coisas para outras pessoas, certamente farei algo que usualmente não faria. Isso gera alguma insegurança? Sim! Aliás, vocês se alimentam disso também, não é? Mas, olha só, com todo o respeito, vocês vão ter que calar a boca e parar de jogar lama em algo que nasceu de um desejo bom. Eu quero presentear alguém que eu gosto com algo muito especial e isso não é ruim. Isso é bom. Estou falando de um gesto de afetividade. Isso é bom. Carinho é carinho. Carinho não ofende!" Af! Que luta!


 O cachepô será entregue em breve. Independente da minha luta demoníaca interna, eu vejo nele um marco. Deste cachepô em diante, resolvi dar toda atenção aos impulsos de demonstrar afeto. Seja na forma de um presente, de uma palavra, de um gesto, tanto faz...que a censura exista para o que nascer da raiva, da incompreensão, da inveja. Não há como impedir os maus sentimentos de existirem. Eles fazem parte de nós, que somos luz e trevas, mas eles não precisam dar frutos. Da mesma forma, porém em outro sentido, podemos fazer florescer os bons sentimentos. Se eles forem regados, adubados e cuidados, podem crescer. Darão novos e longos galhos e farão sombra sobre os maus sentimentos, que não terão espaço para se desenvolver. Bora cuidar desse jardim?

Até a próxima!
___________________________________________
Visite a galeria de fotos dos meus mosaicos na página do Facebook. É só clicar AQUI e se encantar!