Olá!

Aqui você encontra vários tipos de textos com reflexões, introspecções, filosofadas e relatos, tudo sob a luz do mosaico. Desejo inspirar você com a mesma arte que me inspira.

Inverno estéril.

    Acho bonita a cadência das estações. Gosto de ver a transformação de tudo que tem vida, me agrada a mensagem de ciclos que se sucedem, sempre dando chance a um recomeço. Minha preferência escancarada fica com o outono e a primavera. A característica mediana destas estações entende alguma suavidade, mudança paulatina, nada de brutalidade, mas um aviso gentil do que há mais à frente. Se tiver que optar quanto aos extremos, inverno, sem dúvida. O desconforto uma hora se resolve no aconchego da cama e não é preciso escolher a melhor hora para ir caminhando daqui até ali. É até muito bom, pois aquece o corpo.
    Depois de uma coleção de dias deslumbrantes que nos fizeram esquecer que a Terra gira sobre seu eixo inclinado, vieram os dias mais impiedosos. Aí pensamos com seriedade naqueles que não tem um teto sobre suas cabeças e, quando o dia amanhece, pensamos nos frentistas e trabalhadores da construção civil que passarão suas horas de trabalho sob o açoite do vento e da garoa. Há tempos não tínhamos uma sequência de dias com temperaturas abaixo de 10 graus Celsius. No quarto dia digo que somos todos frentistas e pedreiros, pois dentro de casa está tão frio quanto fora, sai aquela fumacinha da boca no meio da sua sala de estar, o aquecedor não vence, as costas doem tensionadas pelo frio, a cabeça dói porque as costas estão tensas e os pés gelados, os pés doem porque estão gelados e assim vai. Fica nítida nossa fragilidade e somos impelidos as recolhimento. Vejo as ruas mais vazias e tudo se manifesta pela metade. Muita coisa simplesmente não acontece, independente do que se faça. Então surge a angústia que cresce a cada novo dia sem sol. É inverno, é inverno, é assim mesmo, repito para mim. Decido que vou entender este período estéril e solitário como uma fase necessária à germinação, à continuidade dos ciclos. Dedico-me a semear o que conseguir de melhor, crente de que haverá a colheita. Em algum momento há de existir novamente a fluidez que dá aquele brilho tão especial à vida. Mas agora não. Agora o momento é outro e é preciso lidar também com isso.


Meu tomate (quase) maduro.

    Era uma vez uma composteira cheia de incríveis minhocas californianas. Para ela destinam-se restos de frutas e vegetais que alimentam as generosas minhoquinhas ao invés de rumarem para o contaminante aterro. Digo generosas porque processam todas essas "sobras" de forma muito competente, rendendo ao final de cada ciclo uma boa quantia de humus. Preste atenção à equação: restos+minhocas=adubo. Alguém vê algum motivo para não fazer isso? Enfim, desde o início a composteira serviu não só para diminuir o lixo como para o aprendizado desta pessoa que vos escreve. Eu diria que uma de minhas especialidades é aprender de novo e de novo as mesmas coisas. Diria que talvez elas não seja m tão óbvias assim, será? Voltando à composteira, passei por um período de adaptação onde precisei perceber que aquilo não era uma máquina onde você aperta um botão de um lado e do outro sai o produto escolhido. Nada disso. Aquilo é um ecossistema e como tal tem seu ritmo próprio e suas particularidades.  A mim coube me curvar à sua cadência. Se eu desejava reduzir o lixo descartado e ainda usufruir de um poderosíssimo adubo deveria entender o ritmo das minhocas. Como pessoa naturalmente revoltada que sou, isso causou um certo desconforto, mas no momento em que vi do que aquela comunidade de anelídeos era capaz de fazer, tirei o chapéu. Incrível! Simplesmente fantástico. Óbvio, você diria. Sem dúvida. Mas ver o óbvio acontecendo sempre me surpreende.
    E de ciclo em ciclo presenciava o despertar de espécies incertas nos vasos adubados. Como coloco sementes de frutas na composteira é esperado que isto ocorra. Tenho pezinhos de lichia que, se forem dar alguma fruta, levará mais uns duzentos anos a considerar a velocidade do seu desenvolvimento. E foi em mais uma dessas manifestações incontestes de vida que uma plantinha mais para frágil do que para robusta despontou em toda parte. Como é de costume deixei que crescesse, ainda que não soubesse o que era. Sabia apenas que tinha um cheiro gostoso nas folhas. Num raro almoço em família aqui, veio o diagnóstico: eram tomateiros. Junto com o diagnóstico a sentença: não dariam tomates pois do tamanho em que estavam já deveriam ter pencas.
    Acontece que tudo aqui em casa tem um ritmo peculiar, não usual. E nesta cadência tímidas, flores surgiram. Umas secaram rápido e outras duas resolveram me presentear com dois frutos, primeiro um e depois o outro. Só por terem surgido para mim já estava de ótimo tamanho, afinal o espaço é precário e os cuidados, confesso, também não são exemplares. Então veio o ataque das cochonilhas. Até hoje não sei porque surgem. Apenas descobri que as joaninhas, as simpáticas joaninhas, são seus predadores naturais. Saí por aí anunciando "comida grátis", mas nenhuma apareceu em meu socorro. Tentei inseticidas naturais (não faz sentido usar veneno químico para um tomate cultivado em casa, correto?), mas também não deu conta. Nas pesquisas que fiz recomenda-se exterminar a planta atacada, mas eu não estava pronta para me desfazer dos meu tomates verdes. Decidi então adubar mais frequentemente para que o tomateiro não morresse de desnutrição. E assim tem sido por um longo e bom tempo. Até que...oh! Um deles começa a mudar de cor. Juro por Deus que foi de ontem para hoje. Não é incrível? É óbvio, você pensa. Sem dúvida. Mas continuo achando fantástico. Olha que belezinha:

Os irmãos tomates: o mais novo é o que está mais alto. O mais velho é do baixo.

       Não faço a menor ideia se serão próprios para o consumo. Também não importa muito, uma vez que são pequenos, coitados. Mas ver a natureza acontecer assim, embaixo do meu nariz faz com que eu me sinta recebedora de um presente. Ou melhor, de dois: um é poder assistir ao surgimento da vida. O outro é poder aprender, mais uma vez, que tudo tem seu tempo para acontecer e quando conseguimos aquietar o coração durante a espera, este tempo se torna um grata aventura.     
Outro ângulo do promissor tomatinho a caminho da maturidade.





Novamente Chillon

Alguém se lembra de uma mandala que fiz inspirada em uma figura entalhada em um móvel de madeira que estava no castelo de Chillon? Se não lembra, veja aqui. Se lembra, boas novas: nasceu uma irmã!

A inspiração veio exatamente do mesmo móvel, veja:

E a minha versão ficou assim:


Recém terminada, a ansiedade foi tal que nem deu para esperar a luz do dia para fazer um foto mais decente, com um fundo que ofereça contraste e valorize as cores. Não senhor, senti urgência em oferecer ao mundo a beleza destas pastilhas que só quem pode "ver com a mão" apreciará a riqueza. Totalmente diferente da anterior, esta tem ares soturnos, misteriosos e elegantes.

Da mesma maneira que antes, continuo convicta de que não inventamos nada, apenas resgatamos o que já existe. Mas uma coisa me intrigou: fazer uma mandala é diferente, o trabalho flui de uma maneira particular. Já ouvi falar de seus poderes para harmonizar energias, mas com a sensação tão fresca fui pesquisar rapidamente sobre este símbolo tão antigo. Antigo mesmo, século VIII a.C. é de onde remontam as primeiras referências. Mandala significa círculo ou concentração de energia. Podem ser usadas como instrumento de concentração para atingir estados superiores de meditação. Hum...agora as coisas começam a fazer sentido. Li também que são capazes de ativar e irradiar energia, trabalhando na harmonização do ambiente e que trabalhar com mandalas é uma forma carinhosa de abrir o coração para a criatividade, a intuição e o amor. Hum...tudo faz sentido agora. Então sugiro que você experimente desenhar e colorir uma mandala e depois me conte se sentiu algo de bom.

Agora sim, fotos um pouco mais dignas:



 
Esta mandala está à venda na loja virtual. Acesse e confira!