Olá!

Aqui você encontra vários tipos de textos com reflexões, introspecções, filosofadas e relatos, tudo sob a luz do mosaico. Desejo inspirar você com a mesma arte que me inspira.

A Prateleira para o Dragão Fumeta.

Aconteceu novamente. Baltazar empolgou-se em meio aos anúncios dos classificados de desapego e em uma semana mais dois rádios antigos vieram habitar este pequeno lar. Tira coisa daqui e põe para lá, espreme de uma lado, espreme do outro e os novos integrantes da família encontraram lugar nas prateleiras. Contudo, pelo princípio da impenetrabilidade, o meu querido Dragão Fumeta ficou sem teto. Antes que você se pergunte, o Dragão Fumeta é um simpático queimador de incensos, no formato de um pequeno dragão que expele a fumaça pelas suas narinas, ou seja, a coisa mais fofa desse mundo.

A fim de evitar que o coitado fosse para dentro de algum armário entulhado e, consequentemente, esquecido, a solução foi criar uma prateleira especialmente para ele, a ser apoiada entre as pernas de um banco alto, que faz a vias de mesa de canto.

Para a base usei um pedaço de compensado e para os mosaico decidi que usaria restos de corte de pastilhas e de azulejos, além de alguns materiais que tenho há seculos e nunca uso. Delimitei no centro da placa o lugar para o dragão e ali apliquei os restos de cortes de pastilhas. Tudo foi contornado com pastilhas cristal com estampa que nunca tinha usado. O espaço que sobrou foi revestido com os restos de cortes de azulejos.


As pastilhas redondas também estavam esquecidas entre os materiais e encontraram aqui o seu momento de brilhar.




Para o acabamento das bordas da placa, cortei rolhas de garrafa em quatro partes no sentido do comprimento e, depois de coladas, passei duas demãos de verniz. Desta forma a cor ficou bem próxima da cor da madeira do banco, onde a prateleira foi encaixada. Para este encaixe acontecer, foi necessário deixar ser borda de rolha o espaço referente à largura das pernas do banco.


Escolhi o rejunte da cor cinza claro para adicionar menos informação visual à prateleira, uma vez que os restos de corte já são algo do tipo "tudo ao mesmo tempo agora".

 

Prateleira pronta, o amado Dragão Fumeta foi para sua casa nova e esse canto da sala ficou mais alegre. Faz parte do meu projeto "cor é o que não falta aqui" ou "cor: quanto mais, melhor".


Depois de fazer isso comecei a olhar as cadeiras da casa sob uma outra perspectiva, considerando a possibilidade de elas também ganharem prateleiras que podem acomodar livros e revistas, por exemplo...ou uma manta dobrada...onde certamente um gato iria se acomodar para seu sono reparador. É, colegas, a falta de espaço também serve de adubo para a criatividade.

Ainda que sobre a mesa de trabalho exista neste momento uma garrafa me esperando, a prateleira foi o último trabalho deste ano. Agora chegou aquela hora na qual a gente faz uma pausa para olhar para trás e para dentro. Que ano, hein? Eu sou incapaz de concluir qualquer coisa agora. As emoções tem estado tal qual um mar revolto. Quando chegar a calmaria - e um dia ela há de chegar - poderei tentar entender alguma coisa sobre o que vimos, vivemos e sentimos neste fatídico 2020. O único ponto que é claro para mim é que o mosaico foi o meu colete salva-vidas durante a tormenta que tem nos assolado. Foi um lugar seguro que pude acessar várias vezes, onde puder ser livre e ter esperança.

A todos que me fazem companhia aqui, recebam meu agradecimento profundo! Essa troca que temos significa muito para mim, é um farol que me guia na escuridão. Desejo que cada um de vocês também tenha seu "porto seguro" para se refugiar sempre que o mistério da existência esmagar o seu coração.

Fiquem bem, sejam responsáveis e até a próxima, a bordo de um novo calendário.

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A bandeja e a Família Raposa.

 Foi pela lembrança da rede social que a amiga de Berlim viu a foto da badeja de outra amiga em comum. "Quero uma igual a essa. Você faz?"

A bandeja em questão era essa aqui...


Fiz esta peça em 2014 e as flores foram feitas com azulejos que peguei de uma caçamba de entulhos. Portanto minha resposta foi não. Não há como fazer uma bandeja igual a essa. Posso fazer uma muito semelhante, mas igual não tem como, já que não há maneira de ter o mesmo material. E eu ainda disse a frase que sempre ecoa no vazio: "Inclusive eu posso fazer qualquer mosaico que você quiser, podemos usar algum pequeno objeto que lhe tenha um significado especial ou algo assim". Eu prometi que esta foi a última vez que falei isso porque, em 98% das vezes, recebo a resposta "faz como você achar melhor". Não, galera! Se a bandeja for para mim, não tenha dúvida de que eu vou fazer como achar melhor. Mas se é para você e você vai pagar por isso, a bandeja tem que ser do jeito que você achar melhor. Cabe a mim ajustar o seu desejo à técnica e à função do objeto.

Enquanto eu deixo fixado no topo do meu feed mental uma outra forma de agir numa próxima ocasião, fico imaginando porque é tão difícil para as pessoas fazer uma escolha ou então contarem sobre suas preferências. Será que isso é uma liberdade muito fora dos seus costumes? Será que elas têm medo de me ofender de alguma maneira? Quanto mais livre, mais difícil fazer uma escolha?

Enquanto tentava (tento) entender um pouco mais sobre nossa mente, fui fazer alguns esboços para oferecer opções concretas e diminuir, quem sabe, a angústia da escolha. Foram três opções: um desenho floral, bem semelhante à bandeja da foto, um desenho com quatro Triquetas - um síbolo muito usado na Irlanda (país natal dessa amiga) - e o terceiro desenho com uma raposa geométrica. A última opção foi a escolhida...e não por acaso. O sobrenome da família é "Fuchs" que significa "raposa" em alemão. Eu escolhi as cores para não submeter a amiga a mais uma angústia. Sei que ela não gosta de coisas ultra coloridas, ainda que aprecie um toque do cor, e o inverno é a sua estação do ano favorita.

Tudo pronto para começar? Não, ainda não...faltava só chegar a bandeja em si, que ela fez questão de comprar de uma loja da qual gosta muito. 

Algumas semanas depois...


...chegou esta bela bandeja. E foi com imensa dor no coração que eu fiz isso...


Removi o máximo possível da pintura para iniciar o mosaico. Ainda enxugando as lágrimas por desfazer um trabalho que já havia sido feito, transferi o desenho e comecei o mosaico. Escolhi fazê-lo todo com cerâmica. A bandeja não era muito funda, então se eu usasse materiais diversos, com espessuras diferentes, não haveria altura suficiente para  nivelar as tesselas ou colocar um vidro sobre o mosaico. Com a cerâmica eu teria a garantia de uma superfície plana, necessária para uma bandeja.


Neste ponto a raposa e as bordas estavam completas, faltando apenas preencher o fundo. Para ele escolhi o azul mais claro que encontrei entre as opções de azulejo. Havia considerado fazer o fundo em verde, mas achei que azul está mais ligado a inverno do que o verde, além de ser a cor dos olhos dos quatro membros da família. Então assim fiz.


Fundo preenchido e mosaico rejuntado. Tudo plano como o planejado.


Bandeja pronta, envio a foto. Ela fica satisfeita com o que vê e diz que as crianças vão adorar, ainda que ela pretenda não permitir que cheguem perto. Não! Não! Não, amiga! Se as crianças quiserem, por favor, deixe-as tocar o mosaico, sentir com suas mãozinhas a textura e a temperatura, deixe que elas se encantem, que elas fiquem curiosas sobre o material, que elas se divirtam..."pode?" Pode! E então recebo esta foto que iluminou os dias escuros desta época...


Ooooooowwwwwnnnnnn...💙💙💙💙💙💙💙💙💙!!!!!!!!!!!

E deste belo trabalho guardei comigo que ter que fazer uma escolha pode ser tão angustiante quanto não ter escolha alguma. Aliás, ousaria dizer que há quem se sinta confortável em não ter que optar por nada, em simplesmente lidar com as opções que alguém já fez em seu lugar, mas que sentiria uma ansiedade sem tamanho ao precisar fazer uma escolha. Será que a dificuldade está, na verdade, em encarar as consequências decorrentes da opção que fez?

É, minhas queridas pessoas, somos um oceano de complexidades.

Até a próxima!
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