Olá!

Aqui você encontra vários tipos de textos com reflexões, introspecções, filosofadas e relatos, tudo sob a luz do mosaico. Desejo inspirar você com a mesma arte que me inspira.

A Dominação Mundial Felina, a serra tico-tico e o auto censor.

 Depois de concluir a "Garrafa da Reabilitação" coloquei novamente o mosaico em pausa para aprender outras coisas, continuar treinando crochê e desenhar (meu ansiolítico preferido). Fiz um curso online de Ponto Bargello e enquanto contemplava o desastre que ficou meu projeto do curso o portal cósmico do mosaico abriu-se novamente. O pedido veio da minha parceirona de escatologia, da melhor professora de crochê que eu poderia ter, da mulher que conheci aqui, mas que descobri que fomos praticamente vizinhas na década de 1990 em São Bernardo do Campo, da pessoa que dá um "Foda-se" como ninguém. Ela pediu um gato para presentear o sobrinho gateiro. Eu, como serva felina que sou, senti-me honrada. A imagem de referência era essa aqui:

Um aparador de porta visto no Instagran.



No nosso caso, o gato seria para enfeitar uma prateleira. Para receber mosaico, achei que outras silhuetas seriam mais adequadas. E a amigona escolheu esta:


Hora de botar a mão na massa. Para cortar esse perfil usei a dupla serra tico-tico e bancada. Foi a primeira vez que utilizei a bancada e, menina!, que delícia! O corte corre pelas linhas curvas como música suave. Senti tanto poder que me deu vontade de sair por aí resolvendo os problemas do mundo com a bancada e a serra embaixo do braço. Infelizmente a mesma alegria não se repetiu na hora de limpar o pó fino acumulado por to-da-par-te...

Superadas as dualidades da vida, comecei o revestimento da silhueta. Usei vários tipos de pastilhas, sendo alguma de cerâmica e outras tantas de vidro, misturando texturas e cores. Para o rejunte, escolhi o cinza grafite. Mosaico concluído, usei retalhos do corte da madeira para fazer a fazer a base e colocar o gatinho em pé. A madeira pintei de cinza médio.

Fofo? Muito fofo!


Sem dúvida foi especialmente gostoso mosaicar o símbolo máximo da elegância, da inteligência e da sabedoria. É dever nosso, toscos mortais, prestar honras e glórias àqueles que salvarão e comandarão o planeta.

Brincadeiras (ou não...à parte), sabe o que foi o melhor de fazer esse gatos? Foi ter um diálogo mais amigável com aquela voz interior que adora cortar o meu barato. Ela surge em vários momentos dos meus dias e sempre fala algo muito cruel como "você acha que isso está bom? Essa porcaria de corte está bom para você? Você não tem vergonha de cobrar por uma porcaria dessa?". Credo, não é? Passei muito tempo evitando essa voz. Mas parece que quanto mais eu tentava ignorá-la, mais forte ela ficava. Então aprendi com a D. Psicóloga que é preciso parar, escutar o que ela tem a dizer e questionar - eu acredito mesmo que está uma porcaria? No caso minha resposta foi não. Aí é hora de dialogar com a voz, algo mais ou menos assim: "eu ouvi o que você disse, mas não concordo com isso. Fiz este mosaico com cuidado, com capricho, prestando atenção aos detalhes. Agora me dê licença porque vou continuar meu trabalho". É mais ou menos um "ahã...senta lá, Cláudia". Isso tudo pode soar meio estranho se você nunca ouviu uma voz como essa. Mas se você também tem um auto censor na sua cabeça, entende como colocá-lo no devido lugar é importante. Não se trata de extinguí-lo, mas de mantê-lo do tamanho adequado para que a gente possa desfrutar dos nossos momentos com leveza.

Finalizado, o gatinho mede 25 cm de altura e 20 cm de largura.

Fiquem bem, meus queridos! Façam as pazes consigo mesmos e até a próxima!

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A recuperação, a paciência e a garrafa.

20 minutos. Esse era o tempo que eu conseguia fazer um pouco de mosaico antes de ceder à dor. Ao contrário do que imaginava, o mais dolorido não era usar a torquês, mas fazer movimentos mais finos com os dedos, como segurar a pinça ou pegar uma miçanga. A postura também era um problema. O colar cervical diminuía a dor, mas dificultava todo o resto. Destino dado, o melhor que eu poderia fazer era aproveitar esses 20 minutos diários. Lado ruim: quando começo um trabalho, quero ir fazendo até cansar, até dar a hora de fazer outra coisa ou até acabar a inspiração. Era frustrante. Mas fazer nada seria incomparavelmente mais frustrante ainda. Lado bom: o ritmo bem lento foi um convite para mergulhar nos detalhes. Além disso, de um dia para o outro o silicone estava bem seco e isso me dava total liberdade para trabalhar qualquer face da garrafa que quisesse, sem medo de deslocar alguma tessela. Foi sob essas regras que comecei o novo trabalho.

Para este, deixei um pouco de lado o tipo de tampa que normalmente uso - o puxador de gaveta fixado numa rolha. Fui até a última prateleira da estante resgatar uma tampa de vidro comprada num passado já sem data. Nesta garrafa a tampa não ficaria fixa como em todas as antecessoras. Fiquei imaginando que deliciosa extravagância seria tomar qualquer coisa que saísse de uma garrafa completamente revestida em mosaico e cedi à sedução da idéia. Na prática não tenho coragem de fazer isso. Imagina colocar um suco ali dentro. Como seria para limpar depois? Como saberia se a garrafa ficou realmente limpa? Não, não, não! No mundo real não daria certo. Mas na imaginação é incrível! Segui com meu plano.

Não é uma lindeza de tampa?

Como de costume, as cores da tampa determinaram as cores dos materiais para o mosaico. Depois disso, o trabalho de formiguinha correu, ou melhor, andou solto, bem solto mesmo. Um espacinho a cada dia. Um dia em cima, no outro embaixo. Formar linhas, preencher formas, criar e repetir padrões.
Houve momentos em que achei que não terminaria nunca. Precisava me lembrar constantemente que o mais importante era fazer. Terminar seria uma consequência. Era (e ainda é) fundamental manter os músculos em movimento. Aprendi com a fisioterapeuta que é justamento o movimento que nos tira de uma crise. Aprendi ainda que os exercícios devem ser feitos não apenas depois, mas também antes do trabalho.

E, de 20 em 20 minutos, a garrafa ficou pronta. Ao final, o limite dos 20 minutos já era 30, às vezes 40 minutos. Só uma coisa não mudou: o dilema da cor do rejunte. Optei por cinza, mas fiz uma mistura de dois tons que já tinha para ficar num meio termo. Gostei? Gostei. Fiquei pensando se o preto não ficaria melhor? Fiquei...só para não perder o costume.


A parte da frente. Dá um close e vê essa riqueza em detalhes.

A garrafa de perfil. Algo aí me faz pensar em céu, em nuvens, em conforto.

A parte de trás que também poderia ser da frente.

Fiquei com vontade de ter uma base giratória para contemplar em modo contínuo todos os lados da garrafa e me perguntei que história é essa de ter uma parte que fica para frente e outra que fica para trás. Talvez não precise ser sempre assim. Já fiz algumas garrafas que não tem frente ou trás porque todas as faces são iguais. Não é o caso dessa.

Além de pensar sobre lados, também pensei de onde vem a pressa, a urgência que sentimos constantemente. Por que mesmo precisamos correr? O que exatamente tem nos roubado os inestimáveis momentos presentes? Eu sempre tive pressa de terminar um trabalho para poder começar outro. Nessa garrafa não adiantava a pressa. O ritmo foi estabelecido pela dor e na lentidão da minha possibilidade eu pude estar mais no presente, pude desfrutar mais profundamente daquilo que me encanta. Talvez porque soubesse que aquele momento era breve. Talvez porque fosse impossível agir diferente. Seja o que for, me pareceu que vivemos um tanto errados há um tanto de tempo. Esse não é um pensamento do tipo "joga tudo fora e começa de novo". É um pensamento do tipo que quer prestar mais atenção naquilo que traz angústia e ansiedade e então refletir se não há uma outra maneira de fazer o que temos que fazer. Uma maneira que nos permita não apenas um maior desfrute do momento presente, mas o desfrute de nós mesmos, menos apartados de nosso íntimo.

E nas tentativas, seguimos.

Até a próxima!
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O vaso, a hérnia e a pausa.

 Tinha terminado a parte teórica do curso online de vitrais e, sabendo que não daria para fazer o projeto do curso agora, fui cheia de amor me reencontrar com o mosaico. Havia um vaso sobre a mesa que seguramente já fizera aniversário. Ele veio dos desapegos muito comuns na primavera, quando a maior parte das pessoas faz um faxinão em casa e coloca para fora o que não quer mais. Quase o revesti uma vez. Fiz rascunho e tudo, mas não me convenci e o vaso continuou ali de lado. Porém, o momento agora era outro. Comecei os trabalhos dizendo para mim que não era para ter pressa porque certamente não o terminaria antes das férias já programadas. Com o espírito embuído de calma fui compondo com carinho, curvada sobre os materiais e ferramentas que tanto gosto. Curvada como sempre. Curvada demais, talvez. Já tinha umas dores aqui e ali, mas a pausa para um bom alongamento não acontecia nunca.  Encurtando a história, a dor no ombro, na escápula, no braço direito, no cotovelo e os dedos dormentes eram sintomas de hérnia de disco cervical que estava extrusa. Entre C5 e C6, mostrou a ressonância feita no que seria o primeiro dia de férias. Férias canceladas. Drogas e fisioterapia no lugar. Também conheci algo chamado Osteopatia, que até agora não sei dizer extamaente o que é, mas recomendo muitíssimo!

Além das férias, fiquei sem tudo que mais gosto. Sem as caminhadas no mato, sem mosaico, sem crochê, sem desenho, sem conseguir dormir, sem conseguir escrever, sem conseguir pegar o PoiZé no colo, sem independêcia...sem identidade, enfim. Aos poucos fui sabendo de mais e mais pessoas com o mesmo problema. Recebi muitas dicas e coloquei todas em prática. Também me deparei com muita solidariedade e, vou te dizer, isso faz maravilhas denro do organismo! Como todo este apoio, o tratamento e muita paciência as coisas foram melhorando. Para drenar um pouco do que acontece dentro da minha cabeça, pedi uma ajuda para a mão esquerda e ela me foi muito útil para fazer alguns desenhos, apesar da sua falta de prática.


Com a dor menor, olhei para o vaso iniciado. Daria para continuar? Não, ainda não. Mas ele me pareceu simpático como estava. Então decidi pintar a cerâmica e presentear a fisioterapeuta que foi, sem dúvida, a profissional de saúde mais acolhedora com que tive contato aqui.





A ocasião coincidiu com a véspera do feriado de Páscoa, de forma que o vaso foi rechado de chocolate. O presentear rendeu um "oh, nein!" (oh, não!), que eu já aprendi que é dito em momentos de boa surpresa. Também teve "Gänsehaut", que é quando a pele fica arrepiada. E o que veio depois, eu nunca imaginei que aconteceria aqui: um abraço. Por essa eu não esperava! Foi preciso concentração para conseguir deixar o choro para depois. Em minha defesa, digo que nestes dias eu chorava por tudo e por nada.

Agora tudo está melhor. Na última semana comecei a mosaicar uma garrafa, muito mais atenta aos limites do corpo. É ele que me diz quando devo parar. Ontem fiz um pouco de crochê e isso me deu alegria. Antes de ontem voltei a caminhar no mato e isso me acalmou. Viver apenas um dia por vez nunca foi tão necessário.

Até a próxima!

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