Muitas vezes já me perguntaram se não acho ruim fazer uma peça igual à outra. A resposta é não. Cada trabalho tem uma história e o processo de confecção do mosaico é que dá o grande barato. Não é raro, especialmente com as placas de número residencial, um cliente pedir uma igual, extamente igual a um modelo feito. "O senhor pode mudar as cores, acrescentar algum detalhe. Pode mudar a fonte também". "Não, não! Quero igual mesmo, se for possível". Claro que sim! Reservo meus experimentos e devaneios para peças que ainda não tem dono.
Mas, e sempre há um "mas", tive que fazer uma cópia fiel com um gosto bem amargo na boca. A última peça que despachei antes das férias, uma placa para um consultório, foi roubada num assalto ao caminhão do Correios no Rio de Janeiro. É violência à distância. Senti-me reduzida a nada. Lembro de toda a troca de informação com a cliente até chegarmos nas cores mais adequadas, na relação com o logo que já existe, na hamonização com o lugar onde seria fixada e outros pequenos detalhes tão importantes quanto os grandes para o resultado final. Todo este trabalho foi jogado fora por uma situação sócio-econômica amplamente defeituosa.
Confesso que ainda não digeri o ocorrido e fico imaginando a placa sendo vendida numa feirinha mequetrefe por R$ 20,00. Sim, os Correios deverão pagar uma indenização além, de devolver o valor da postagem. Já percebi que isso vai dar trabalho. Mas o que pega mesmo não é ter ou não de volta o dinheiro, é o ato de violência que fez com que eu me sentisse refém de um contexto, sem garantias de uma vida digna, de civilidade e isto eu não aceito.
A nova placa está praticamente pronta, com apenas alguns retoques pendentes. Fiz um exercício mental monstruoso para controlar meus pensamentos durante todo o processo de motagem. Acredito que o que vai na minha mente é tranferido para a peça e levo esta responsabilidade muito a sério. O lado bom é que na outra ponta do prejuízo exite uma pessoa cheia de bom senso, disposta a resolver problemas.
Ainda sem encontar resposta para algumas perguntas, eu trabalho e me aprimoro, coisa que quem rouba não é capaz de fazer.