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O olho que olha

 As famosas placas de ferro do Sr.Walter foram base para muitos dos meus trabalhos ao longo dos anos. Bateu uma saudade daquela época, das visitas periódicas para comprar mais placas e da acolhida que sempre recebi na casa deles (a D. Marta, esposa do Sr.Walter, é parceira de primeira linha nos negócios). Sempre havia papo, contação de história e visita à horta. Sempre havia uma caixa de legumes e verduras para eu levar junto com a encomenda de placas. Na verdade eu queria reviver aqueles tempos, quando em mim havia ainda um pequenino reduto de inocência que se extinguiu nos anos que vieram.

A saída para este tipo de banzo foi fuçar a prateleira dos materiais. Minha mémória dizia que em um dos nossos reencontros eu tinha voltado com umas duas placas na mala. Era isso mesmo. Achei-as ainda com a embalagem de espuma. O formato elíptico e os arabescos me fizeram revisitar toda a dinastia de Olhos Gregos que já fiz. Eu os adoro. Não sei porque. Apenas adoro. Mas não queria fazer um amuleto. Então fiz apenas um olho com stained glass, outros tipos de vidro e dois pinguinhos de espelho.


Terminei e vi este olhar vago, um tanto sem vida. Parece que não julga, parece que sequer presta atenção no que está a sua volta. Apenas olha, absorto em outros mundos. Está cansado, exausto, insone. Entrega-se ao olhar do observador sem fazer muita questão de interação. Ainda assim, sustenta o olhar, não se desvia, não foge, permanece.

Uma vez pendurado, olho-o de vez em quando. Se paro e ponho reparo, começo a pensar nos olhares que não são de vidro. Quanta coisa cabe ali! Um universo de palavras não ditas ganham o mundo jorradas pupila afora. E aí não tem como ocultar o que vai na alma, na cabeça, no coração, na índole. Impossível. A boca falando e olhar desmentindo ou confirmando. Que riqueza há nisso, não é?

A parede de mosaicos ganhou mais um item e o meu banzo não foi exatamente solucionado. Faz parte. Uma coisa me consola: enquanto o passado acontecia, eu sabia quando estava bom. Prestava atenção, curtia e agradecia. 



A gente se vê na próxima.

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4 comentários:

  1. Acabamos de falar sobre isso, e, com esse texto viajei com você no tempo. Também não solucionou meu banzo, mas me enriqueceu um pouco mais...

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    1. Talvez banzo seja algo que só se extingua com o reencontro. Não há reencenação que resolva. Faz parte.

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  2. O meu banzo me tocou. Lindo trabalho mas volte logo

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    1. Obrigada! Volto em breve, mas alguns banzos sempre existirão.

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