Olá!

Aqui você encontra vários tipos de textos com reflexões, introspecções, filosofadas e relatos, tudo sob a luz do mosaico. Desejo inspirar você com a mesma arte que me inspira.

O cesto das gerações.

Se tem uma coisa interessante nessa vida, são os caminhos percorridos até que os encontros aconteçam. Há uma conjunção delicada de acontecimentos encadeados que nos conduzem ao presente. Uma vírgula em outro lugar da sentença e todo o sentido da frase seria diferente.

Para que o cesto chegasse até mim, houve a participação de algumas pessoas. Teve a pessoa que compartilhou o meu trabalho no seu círculo de contatos, de onde o cestinho viria. Teve a pessoa que efetivamente trouxe o cestinho até mim. Até aqui, tudo parece muito banal. Mas para essa banalidade acontecer, quatro famílias deixaram seu país natal para morar em outro país. Foram morar na mesma região (e até na mesma cidade). De diferentes formas, em diferentes momentos e por diferentes razões, se encontraram. Quais são as chances? Quais são? Quando penso sobre isso, não vejo tanto o peso de um destino soberano. Para mim trata-se de prestar atenção no que acontece agora, pois este momento é único e há uma certa beleza nisso.

Com uma nuvem existencial de redes de encontro pairando sobre minha cabeça, tomei o cesto de madeira em mãos.


 Veio mostrando os sinais do tempo e muita, muita dignidade. Ele pertencera ao avô e, na mão de seus descendentes, cruzou o oceano Atlântico duas vezes. Foi nas mãos de uma geração e voltou nas mãos de outra.

Depois da troca de ideias, das ponderações, dos esboços e do desenho final, eu começaria então o restauro do cesto que receberia um mosaico na base. A primeira semana foi dedicada a extrair o óleo que havia penetrado na madeira. Em seguida, lixar tudo.


Nas laterias o verniz saiu como se esperava. Mas a base, de compensado, tinha várias camadas de cera, que pediu um empenho extra e, digamos, menos sutil. Um detalhe interessante: repare na foto, o lado esquerdo do cesto. Ele é levemente torto e isso levou minha imaginação longe, assistindo um filme fictício de quando o cesto foi feito.

De volta à Terra, era a hora do mosaico. A referência estética foram os azulejos portugueses e esta foi a minha proposta para o cesto:


A preferência de cores foi a paleta de tons terrosos, prata e madrepérola, mas ficou para mim a tarefa de escolher exatamente quais cores usar. Além das cores, decidi também sobre o material. Escolhi usar cerâmica para caprichar na referência à azulejaria portuguesa.

Depois de tudo escolhido, seguiram-se os dias de montar o delicioso quebra-cabeças.


  

E foi essa a aparência antes do rejunte. As bolinhas prateadas são um tipo de espelho ondulado na parte interna, lindo como só ele. Depois veio a etapa de acabamento com a aplicação do rejunte sobre o mosaico e de verniz sobre a madeira.


Na parte de baixo fixei essa ripa para sustentar a porção central da base e parar o movimento de envergamento que já vinha acontecendo. Para que o mosaico dure é preciso ter uma base estável.

A aparência final do cesto foi esta aqui:



Este tipo de trabalho, de renovar um objeto antigo por meio do mosaico, é uma das coisas que mais gosto de fazer, é o que mais faz sentido para mim. O cesto, até este momento, é um pedaço da história daqueles que nos antecederam. A partir de hoje, renovado, ele se torna  um símbolo da ancestralidade e de uma nova trajetória que é traçada agora, no presente.


Que ele permaneça na família, como testemunha dos caminhos percorridos, por outras tantas gerações. 

Até a próxima!
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