Não sei é devido ao signo solar ou à natureza do meu ofício, mas me classifico como um ser narcisista. Olho aquilo que faço e me contento comigo mesma. A autocensura está mais ligada à antecipação da rejeição imaginária que o outro poderá lançar sobre mim. Então, quando estou eu sozinha comigo mesma é bem divertido. Faz parte desta diversão tentar fazer uma foto das mudanças que acontecem com o passar do tempo. Isso significa reeditar algo que já fiz. Funciona mais ou menos como pegar aquela receita de bolo que você já não faz há algum tempo e repetí-la. Ao fazer isso, dá para perceber se você melhorou seu dotes culinários, se o seu paladar mudou, se a receita vale mesmo a pena e até observar como você editou a sua memória.
A reedição da vez foi feita sobre o balão de tampinhas de garrafa. O primeiro que fiz foi em 2018. Na época anotei que deveria ter feito um fundo para ele. Hoje revendo o trabalho, acho que o fundo não faz falta alguma, mas não entendo por qual razão achei que precisava colar vidro transparente sobre vidro transparente no cesto do balão.
Para você que não viu, esse é o balão de 2018. |
Para a edição de 2020, de cara abri mão do cesto para colocar flores. Na prática não foi tão prático (ainda que seja a coisa mais fofa dessa vida), pois a água secava rápido e as flores murchavam rápido, exigindo uma manutenção indesejada para algo que pendurei no alto. Sem falar que comecei a sentir muita pena das flores cortadas, mas isso é uma reflexão para um outro lugar.
Definidas as alterações que gostaria de fazer, mergulhei nas tampinhas. Aqui preciso destacar algo que acho muito bacana: a solidariedade de quem sabe que eu existo. Por saber que uso tampinhas de garrafa, o marido guarda para mim todas as que passam pela sua frente. Mas até aí, marido tem mais é que fazer isso mesmo. Porém recebi uma doação enorrrrrme do primo que mora muito, muito longe. Com ajudas aqui e ali, as tampinhas chegaram até mim e incrementaram meu arsenal.
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Mão na massa! Passei o desenho para um pedaço de Wedi e comecei a trabalhar as tampinhas. |
Quando vejo tampinhas fico pensando no sujeito que pensou em como colocar o logo da marca ali. |
Tampinhas devidamente trabalhadas, passei para o cesto do balão. Há um bom tempo havia ganhado uma caixa de sucatas (a tal da solidariedade, lembra?) e nunca tinha usado nada dela...até esse dia. E como ela tinha (ainda tem) alternativas para oferecer!
Descasquei uns cabos, encaracolei uns perfis, separei umas roscas... |
...posicionei uns terminais, brinquei com parafusos e dei um espirro de miçangas em cima. Pronto! |
Fechei o acabamento com pastilhas e o Balão 2020 estava apto a voar. Foi fazer companhia para o parente de 2018. Foi o marido que saiu com essa história de que o primeiro balão é mais tímido e o segundo, mais feliz. Eu diria que o segundo balão talvez seja o primeiro, mas que saiu do armário e se assumiu plenamente como balão de tampinhas. Talvez venha daí a impressão de felicidade.
Agora ambos integram um projeto maior, que é o de cobrir as paredes deste apartamentinho com mosaico, porque mosaico é vida. Acredite.
Independente da Dominação Mundial Musiva, o exercício de observar as próprias mudanças é, além de interessante, de muita ajuda para assimilar que tudo muda o tempo todo. Quando nos surpreendemos com as mudanças a nossa volta, geralmente temos a impressão de que somos sempre os mesmos. Não somos. A cada tanto de tempo, a gente morre e renasce. Tudo é transitório.
Até a próxima (transição)!