Não a alma. Tampouco os pensamentos. Foi para aliviar a prateleira de materiais que mosaiquei a garrafa. Estava tudo meio apertado, meio amontoado e eu precisava abrir um pouquinho de espaço. Foi essa a motivação sincera. Não quis provar um ponto, não quis expressar uma angústia, não quis salvar o mundo. Eu quis simplesmente acomodar um pouco melhor o material. Então rumei para aquilo que hoje acontece tão naturalmente: mosaicar garrafa. É divertido, é fluido, é encantador e eu ainda posso me iludir achando que estou fazendo o bem. Olha que maravilha! Penso que dar uma segunda vida à garrafa é sinônimo de reduzir o descarte de materiais. Isso em parte é verdade. Em parte. O buraco é (sempre é) mais embaixo. Sucumbindo - cada dia mais - ao peso das responsabilidades da existência, me contento com minhas meias verdades. Elas dão um meio conforto frente ao que não consigo resolver.
A garrafa! Ajustemos o foco na garrafa! A garrafa era de vinagre, num formato sinuoso e suave.
As cores da tampa ditaram as cores do revestimento. |
Se em outros momentos eu evitei garrafas com quinas, agora quis me divertir justamente aí. |
Em outra ocasião, na qual constatei que uma das prateleiras da minha estante estava vergando com o peso, falei para mim mesma que só compraria mais material se esvaziasse pelo menos 20% do que tinha ali. Estou 80% fiel a esta proposta. Ainda não resisto quando encontro algo descartado que para mim é muito útil. O mesmo acontece em mercado de pulgas.
Quando terminei a garrafa senti satisfação pela conclusão da tarefa. Limpei daqui e dali, fiquei alisando...
Que belo ângulo! Para mim, a contemplação do alívio. |
Percebi esse paralelismo esquisitíssimo e fiquei achando que faço o que faço não por amor, não por inspiração, mas para esvaziar espaços cheios. Que loucura! Não, não, não!!! Isso não deve ser totalmente verdade. Não pode ser...talvez seja uma meia verdade...e agora preciso de uma meia mentira para me reconfortar de mim mesma.
É, meus amores, a beleza (estou assumindo que a garrafa é bela) pode nascer de lugares incertos e sem nenhum glamour. Vale assim mesmo? Ou só vale quando escorre sangue e sour?
Me despeço, como sempre, sem respostas. Pior: comecei a ver o rosto de um animal orelhudo na última foto. Alguém mais?
Caso não sucumba à minha própria loucura, nos vemos na próxima. Até lá!
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