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Aqui você encontra vários tipos de textos com reflexões, introspecções, filosofadas e relatos, tudo sob a luz do mosaico. Desejo inspirar você com a mesma arte que me inspira.

O perdão nosso de cada dia.

    Há uma conhecida frase que diz que perdoar é Divino. Acho esta classificação intrigante, pois pode fazer uma falsa alusão à idéia de que perdoar não compete aos humanos. Ou ainda, seria algo tão difícil, inacessível e improvável que só Deus estaria capacitado para fazê-lo. Eu entendo da seguinte forma: creio que somos capazes de perdoar, se estivermos dispostos, e que isto nos aproxima de Deus.
    Por ser presumido como trabalhoso, falamos muito em perdão e fazemos muito pouco. Muitas vezes sequer tentamos já que é muito mais fácil mandar o ofensor para o diabo que o carregue. Só há um problema: isto não resolve. Pode desopilar o fígado, mas não traz a paz que buscamos (e necessitamos) cegamente. Mas por que é tão difícil? Por que pode parecer impossível transpor o desrespeito do outro? Os afrontamentos podem ocorrer a todo instante: uma fechada no trânsito, uma cara feia no supermercado, o vizinho que estaciona mal na garagem do prédio e te faz gastar dez minutos de manobras, litros de suor e se atrasar para aquele compromisso que você já saiu atrasado. Estas são as pequenas coisas, para não falar das questões mais graves. Mas se não somos capazes de superar estas quinquilharias, certamente parecerá impossível transpor as ofensas que fazem a sua vida parar, as cores desaparecerem, os perfumes se extinguirem e os sabores serem amargos.
     Por algum motivo (que não sei qual é), acreditamos que todo o mundo é passível de falhas, exceto nós. Todo mundo pode ser feio, bobo, burro, chato e fedido. Mas nós não! Então, quando alguém nos ofende, vemos ali a nossa própria possibilidade de ofender e isto não aceitamos, como se fôssemos incapazes de cometer um ato igual. Acontece que em todos os fatos existem três lados: o do ofensor, o do ofendido e a verdade, que não há como ser conhecida. Considerando isto, acredito que se não perdoarmos nossas próprias falhas, torna-se impossível perdoar as do próximo. Por isso é tão difícil. Temos que nos encarar cruamente primeiro. Deixar o orgulho de lado e reconhecer que somos falhos, imperfeitos, nos perdoar por isso e entender que ter esta consciência não faz de nós pessoas piores. Por fim, cada indivíduo, após fazer as pazes consigo, precisa amar a si de forma irrestrita, sincera e compreensiva. Errar faz parte de nossa natureza. Podemos aprender com nossos desencontros. Há o exemplo clássico pelo qual cada um de nós já passou: classificar a sua diarista de leprosa para baixo porque ela quebrou a asa da sua xícara preferida. Você está convencido de que ela é um ser inferior, que fez aquilo de propósito, até que, arrumando o armário, você deixa a tal xícara cair e esta se espatifa em centenas de pedaços impossíveis de serem colados. Neste momento você passa a entender como tudo acontece. Como uma pessoa exemplar como você pode quebrar uma xícara. Simplesmente faz parte. E tudo faz parte. As coisas pequenas e as grandes. O outro pode se enganar assim como você já se enganou algumas vezes. Mas não basta entender como tudo acontece pois o perdão vai além. Não existem garantias de que os equívocos não voltem a acontecer, mas você escolhe seguir em frente sem mágoas, afinal, estamos todos aprendendo. Sem exceção.
    Já ouvi mais de uma vez alguém repetir que não ganha nada em desculpar  um pessoa e que o desinfeliz  tem que provar cada gota do sofrimento causado. Há um ditado, daqueles que são repetidos por gerações e que trazem verdades descaradas sobre a humanidade, que diz que se nós não gostarmos de nós mesmos ficará impossível de alguém mais fazê-lo. Eu faria uma adapção. Diria que se você não se amar, é impossível amar o outro. Sem amor, fica muito, muito difícil de existir o perdão. Esta é a beleza da coisa. O caminho espinhoso para perdoar é ladeado de afeto - por si próprio e, consequentemente, pelo próximo. Aqueles que têm a coragem para percorrê-lo descobrirão que o bem-querer pode ser multiplicado exponecialmente a cada pequeno ou grande ato de perdão. Precisamos de recompensa maior?


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