Olá!

Aqui você encontra vários tipos de textos com reflexões, introspecções, filosofadas e relatos, tudo sob a luz do mosaico. Desejo inspirar você com a mesma arte que me inspira.

Impotência, filha da prepotência.

    Os golpes mais marcantes que percebemos na vida são os que nos remetem à nossa natureza humana, quando encaramos bem de frente, quase ralando a ponta do nariz, nossa condição limitada. Quando uma pessoa próxima falece, por exemplo, somos impelidos a examinar nossa própria finitude. É óbvio que não somos eternos, mas não pensamos nisso o tempo todo. Vivemos os dias sem contar com o fato de que caminhamos para o fim. Por parecer um acontecimento tão distante, agimos como se nossa expactativa de vida fossa de uns 250 ou 300 anos. Que choque imenso relembrar que não funciona assim, que caminhamos na incerteza de ver o dia seguinte. Acho muito curioso este nosso comportamento, pois sabemos quais são os nossos limites, quais são nossas únicas certezas, o que podemos influenciar e o que não. Ainda assim, a cada tropeço, é como se fizéssemos uma grande descoberta sobre os mistérios da vida. Há ainda situações em que nos recusamos a aceitar os fatos. Quando alguém próximo a nós está sofrendo, nosso instinto primeiro é o de resolver o problema do outro. Adivinha?! Não dá! Nosso poder na esfera do outro é bem pequeno. Podemos promover mudanças do tamanho de oceanos em nós, mas nunca no outro. Que desgaste presenciar o sofrimento daquele que está ao seu lado e não poder fazer nada! São muitas as situações: uma doença grave, uma doença leve, um desentendimento na família, um problema no trabalho, um conflito interno. Em cada uma das situações o que podemos fazer é muito, muito pouco. Podemos mostrar apoio, podemos cuidar de todo o resto, permanecer ao lado o tempo todo, mas nada disso resolve. Nunca entendi se nossa angústia diante do sofrimento alheio ocorre realmente pela empatia ou porque na verdade não aguentamos o nosso sofrimento ao presenciar as dificuldades que o outro enfrenta. Seria algo como estar entristecido não porque o outro está triste, mas porque eu não gosto de ter esta pessoa triste perto de mim e talvez por isso tentamos resolver tudo o que acontece com aqueles de quem gostamos.
    Raras vezes conseguimos manter a serenidade e aguardar, pois ao final de toda tormenta sempre há um crescimento. O mais comum é ficarmos frustados porque nossas tentativas não surtem os efeitos desejados e isso é inaceitável. Acreditamos que podemos tudo, que conseguimos tudo, tudo deve acontecer de acordo com nossa expectativa, no nosso tempo imediatista, nada que nos desagrada deve cruzar nosso caminho. Porém o pior, depois de uma dose de resignação (quando há), seja percebermos que todo o afeto que dedicamos à pessoa querida não impede que ela sofra. Estamos ali, ao lado, despejando tanto amor quanto nos for possível sentir e isto também não adianta nada. As situações não mudam. Talvez as coisas fossem ainda piores se não estivéssemos ali para amortecer a queda (ou parte dela), mas mesmo tendo esta comprovação é duro lidar com o fato de que não temos o poder de resolver problemas pelo afeto. Na verdade nunca tivemos , mas intimamente parece que sempre acreditamos nele. Podemos passar por uma situação difícil, perceber nossa pequenez, nossa impotência e ficarmos conscientes disso, mas no próximo obstáculo vamos sentir tudo de novo. Não há vacina para nosso comportamento errante. Repetidamente precisamos enxergar o óbvio. Daí concluo que somos ainda menores do que antes supunha. Seres realmente minúsculos, com dificuldade de entregar as situações que não controlam a um desígnio que não entendem. Temos esta dificuldade em reconhecer o que não nos compete, em nos lançarmos ao fluxo da vida depois de termos tentado tudo. Entretanto, enquanto não encontramos esta serenidade necessária para a entrega acredito que não devemos desistir. Não de resolver os problemas do mundo, mas de confortar quem sofre, ainda que aparentemente seja inócuo. Podemos não solucionar o problema, mas talvez possamos evitar que algums coisas piorem. Não me parece possível que um tanto assim de amor não faça a balança pender um pouco, mesmo que só dê para perceber depois . Afinal é tudo que temos, a única ação plausível. É apenas o que nos resta dentro da nossa condição.


3 comentários:

  1. Ave -Mãe!!!!!

    E o pior é que é verdade.....

    bjs
    mamunka preta

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  2. Drica, recebi hoje meu presente de natal. Peça maravilhosa. Presente incrível...Obrigada,adorei. Aliás, tenho visto algumas peças suas, são lindas.
    Parabéns pelo excelente trabalho.

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