Olá!

Aqui você encontra vários tipos de textos com reflexões, introspecções, filosofadas e relatos, tudo sob a luz do mosaico. Desejo inspirar você com a mesma arte que me inspira.

Vergonha de mim.

    Ontem foi um dia no qual a natureza chamava e para atender ao seu clamor rumamos para a opção mais imediata: o parque Estoril. Acredito que só havia ido lá uma única vez, quando criança, então seria como conhecer um lugar novo. Sabendo que foi reinaugurado há alguns anos, esperava ao menos locais de contemplação com vista para a represa. Bem, uma vez lá,  contatamos que aindá há uma série de obras em andamento para que o visitante possa, futuramente, aproveitar melhor o espaço.
    A estradinha que conduz ao estacionamento dá uma amostra da exuberância da Mata Atlântica. O ar ali tem outro aroma e é possível ver no tronco das árvores um líquen vermelho, observado apenas em localidades onde há pouca ou nenhuma poluição. Ao lado do bolsão de estacionamento há o Zoológico Municipal. Eu não fazia a menor idéia de que a cidade possuía um zoológico e faço menos idéia ainda do motivo que me levou a entrar. O fato é que não estava nem um pouco preparada para aquilo. No site da cidade há a informação sobre o objetivo dos cativeiros: estudo e reprodução de espécies ameaçadas de extinção, entre elas o Tamanduá Mirim e o Cachorro Vinagre. O Tamanduá foi justamente o primeiro animal que vi e a sensação imediata foi de ver uma pessoa que foi morar num apartamento. Era eu que estava no viveiro. Pronto, meu processo de angústia havia começado. Depois achei que o pequeno Tamanduá sofre de solidão ali, sem um companheiro da mesma espécie, e me senti uma pessoa horrível por compactuar da sua situação.
    Há também primatas de algumas espécies, répteis, muitas aves e outros exemplares de animais selvagens. O Cachorro Vinagre também ocupava sozinho seu insignificante viveiro e rodeava initerruptamente os limites da sua prisão com um olhar perdido, vidrado. E foram justamente os olhares que acabaram comigo. São olhares iguais aos nossos, profundos e comunicativos. Agora iamgine você qual é o olhar de um falcão colocado em um lugar onde não lhe é possível voar. Um ser que foi projetado para ganhar os céus e não conhcecer limites passa os seus dias num revezamento entre três galhos.
    Experimentei uma penosa dualidade de sentimentos: a admiração pela Criação, ao ver criaturas tão maravilhosas e uma vergonha indizível de estar ali, incentivando de certa maneira uma prática que para mim, não se justifica. Como se pretende estudar um animal tirando-o de seu habitat? O que seria possível saber sobre a humanidade se pegassem um de seus exemplares e o trancassem naquele quartinho que todo mundo tem em casa, mas que fosse árido, precário e sujo? Não! Isto é muito errado, sobretudo injusto. E não se pode dizer que os visitantes saem de lá instruídos sobre as espécies pois os cartazes explicativos são deveras simplistas quando existem. Além do mais não há este intuito naqueles que ali passeiam. Tome como exemplo uma família que estava em frente a uma dupla de Emas com penagens decadentes. A avó diz para o neto: "Olha a Hiena, Pedro!". É corrigida pela filha: "É Ema. Tá escrito aqui, Ema". E a avó deflagra todo o seu interesse: "Tanto faz!"
    Sim, não há dúvidas de que somos seres especistas. Temos a convicção de que somos superiores aos demais seres com os quais dividimos o planeta. Muitos podem achar isto natural devido a discrepante capacidade de raciocínio da qual o humano é dotado. Sim, esta diferença existe, mas diferença não é sinônimo de melhor ou pior, é só diferente. Para quem não vê a questão bem assim eu sugiro pegar um indivíduo graduado, pós-graduado, mestre, doutor, livre docente, com todo estudo e especialização que se possa fazer em um assunto bem complicado como ciências da computação ou engenharia naval ou mecatrônica ou genética ou história pré-clássica ou astronomia, enfim, pegue um sujeito desses que são mais capazes do que média dos mortais e coloque-o no meio de uma selva. Nesta situação de que lhe valem os anos de estudo e os títulos alcançados? É provável que o sujeito morra de fome ou sede em algum tempo, ao contrário do gorilas que habitam a mesma selva. Eles não são doutores, mas têm o conhecimento necessário para viver ali. Inteligência é uma coisa relativa, meu amigo! Não há mais espaço para ostentarmos tanta soberba e olharmos para o resto das criaturas de cima para baixo.
    Se você se acha bonzinho, legal, uma pessoa querida e não é um especista, afinal nem sabe o que é isso, assista ao documentário "Terráqueos" para entender melhor do que falo.
    Um lindo domingo de sol e calor para todos!

Link para o documentário:






2 comentários:

  1. Infelizmente isto acontece não só com animais mas com os próprios seres ditos " humanos". Seres que são capazes de queimar seus semelhantes, de matar seus parceiros, de tirar a vida de seus filhos e isto tudo começa com o desrespeito ao estacionar seus carros, com o papel jogado na rua e coisinhas do tipo. Agora, agindo assim podemos cobrar dos políticos, dos juízes, das pessoas que não respeitam animais, do guarda que recebe grana por fora, das pessoas que querem levar vantagem sempre? Para mudar isto temos que começar de algum lugar, temos que dar o exemplo em todos os campos, o que é muito complicado e exige uma constante persistência sem a garatia de um dia ser perfeito, mas acho que o importante é começar e tentar trazer a felicidade aos necessitados quaisquer que sejam estes.

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